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Magnotta: Putin comete erro e arrisca se isolar mais com evento em estádio

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/03/2022 13h49Atualizada em 18/03/2022 15h02

A colunista do UOL Fernanda Magnotta declarou hoje que o discurso realizado pelo presidente russo, Vladimir Putin, em um estádio de Moscou, é uma tentativa de contra-ataque para "convencer a sua sociedade de que as coisas estão sob controle" em relação à Ucrânia, apesar de indícios apontarem o contrário.

A doutora em Relações Internacionais ressaltou que a ação pode ser um erro e provocar mais isolamento do país — já alvo de sanções. Hoje, o conflito entrou no 23º dia, com novos registros de ataques pela Ucrânia, inclusive no oeste do país.

"O governo Putin, evidentemente, tem enfrentado dificuldades no conflito da Ucrânia. Claro que há avanços militares, conquistas do ponto de vista estratégico, mas também há vários sinais que os movimentos ficaram aquém do que o presidente Putin imaginava. Do ponto de vista da operação em si e da resposta do mundo ao que ocorre na Ucrânia", esclareceu a docente.

Segundo Magnotta, do ponto de vista militar, há uma série de especulações sobre as dificuldades que as tropas russas têm enfrentado no combate no território ucraniano e "os bastidores contam uma mensagem diferente do que o Putin disse em sua aparição". A especialista ainda relembrou as diversas sanções aplicadas contra os russos e os danos que elas provocam no país.

Nós estamos vendo não só o derretimento da economia russa, como um enorme isolamento. No meio dessas perdas militares e econômicas, tem havido uma espécie de investida de narrativa ucraniana que se materializou não apenas no aumento de popularidade do presidente ucraniano Zelensky nas redes sociais, como nos discursos que ele realizou nos últimos dias. Na guerra de narrativas, o Putin também ficou com a sensação de que estava perdendo.
Fernanda Magnotta no UOL News

Para a colunista, a decisão de Putin em falar diretamente com os russos é muito "arriscada" e a repercussão de imagens da guerra mundo afora, como é o caso da manifestação com carrinhos de bebês realizada hoje, pode acabar piorando as condições no país.

"Putin fala com o seu próprio público e busca convencer os russos com essa narrativa que o interessa, mas essas imagens [do protesto], quando espalhadas mundo afora, talvez gerem mais comoção, indignação ou até mesmo constrangimento."

E completou: "Do ponto de vista internacional, me parece um erro de cálculo assumir o risco de continuar [a guerra] e cada vez mais seguir se isolando. É um problema. A Rússia tem tido dificuldades em convencer o mundo a respeito do que faz na Ucrânia".

Protesto contra morte de crianças em Lviv, na Ucrânia - REUTERS/Roman Baluk - REUTERS/Roman Baluk
Protesto contra morte de crianças em Lviv, na Ucrânia
Imagem: REUTERS/Roman Baluk

Discurso de Putin

Putin discursou hoje em um estádio lotado em Moscou, capital russa, sobre a guerra na Ucrânia: "Nunca tivemos tanta força", afirmou. O pronunciamento marca o oitavo aniversário da anexação da península Crimeia pela Rússia — ocorrida em 2014.

A polícia de Moscou diz que mais de 200 mil pessoas acompanharam o discurso do presidente Putin — 95 mil nas arquibancadas e mais de 100 mil nos arredores do estádio.

Após o discurso, uma banda começou a tocar e os russos presentes nas arquibancadas gritaram o nome do país.

Putin também exaltou o que chama de "operação especial" para combater pessoas definidas como nacionalistas perigosos em território ucraniano.

Nós vemos como está sendo heroica a ação dos nossos militares nessa operação. Eles estão sendo como um irmão de verdade, protegendo o outro contra balas com o próprio corpo.
Vladimir Putin

No estádio, milhares de pessoas agitavam bandeiras da Rússia, fazendo cânticos nacionalistas e exibindo a letra "Z" no estádio Luzhniki. A letra passou a ser estampada em equipamentos das Forças Armadas russas e virou símbolo dos apoiadores da guerra.

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