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Clinton defende expansão da Otan, ponto-chave da invasão russa à Ucrânia

O presidente russo, Vladimir Putin, e o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton - 21.jul.2000 - AFP
O presidente russo, Vladimir Putin, e o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton Imagem: 21.jul.2000 - AFP

Do UOL, em São Paulo

09/04/2022 14h45

O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton defendeu sua decisão de sua gestão de ampliar a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), um dos pontos utilizados como argumento pela Rússia justificar a guerra que promove na Ucrânia há 45 dias.

"Minha política era trabalhar para o melhor enquanto me preparava para o pior. Eu estava preocupado não com um retorno russo ao comunismo, mas com um retorno ao ultranacionalismo", escreveu Clinton em artigo à revista The Atlantic, dos Estados Unidos.

O ex-presidente lembrou que sua posição em relação à Otan foi externada a Boris Yeltsin, presidente da Rússia entre 1991 e 1999, após o fim da União Soviética. "Eu não acreditava que Yeltsin faria isso, mas quem sabia o que viria depois dele?", disse Clinton, que presidiu os Estados Unidos entre 1993 e 2001.

"Se a Rússia continuasse no caminho da democracia e da cooperação, estaríamos todos juntos para enfrentar os desafios de segurança do nosso tempo", disse Clinton, citando "terrorismo, conflitos étnicos, religiosos e outros conflitos tribais, e a proliferação de armas nucleares, químicas e biológicas".

"Se a Rússia optasse por voltar ao imperialismo ultranacionalista, uma Otan ampliada e uma União Europeia em crescimento reforçariam a segurança do continente", completou o ex-presidente dos Estados Unidos.

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Os ex-presidentes da Rússia, Boris Yeltsin, e dos Estados Unidos, Bill Clinton
Imagem: 23.out.1995 - AFP

"Decisão correta"

Apesar da posição do atual presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que a ampliação da Otan seria uma provocação ao país, Clinton refuta. "A expansão certamente foi uma decisão importante, que continuo acreditando estar correta."

O ex-presidente disse entender as críticas de que uma Otan ampliada poderia deixar a Rússia com o sentimento de humilhação, até encurralada. "Compreendi que um conflito renovado era uma possibilidade. Mas, na minha opinião, se isso aconteceu, dependeu menos da Otan e mais de se a Rússia permaneceu uma democracia e como ela definiu sua grandeza no século 21."

Clinton indicou que, em vez de ser "uma economia moderna baseada em seu talento humano em ciência, tecnologia e artes", a Rússia buscou "recriar uma versão de seu império do século 18 alimentado por recursos naturais e caracterizado por um forte governo autoritário com um poderoso exército".

O ex-presidente disse que atuou em favor da Rússia, lembrando que, em 1994, os Estados Unidos, junto com britânicos e russos, assinaram o Memorando de Budapeste, que garantia a soberania e a integridade territorial da Ucrânia em troca do acordo de os ucranianos desistirem do que era então o terceiro maior arsenal nuclear do mundo.

Clinton também pontuou que, no final da década de 1990, houve alianças envolvendo a Rússia e a Otan, com os russos participando das forças de paz do grupo. "Ao longo de tudo isso, deixamos a porta aberta para a eventual adesão da Rússia à Otan, algo que deixei claro a Yeltsin e depois confirmei ao seu sucessor, Vladimir Putin".

A ideia de que ignoramos, desrespeitamos ou tentamos isolar a Rússia é falsa. Sim, a OTAN se expandiu apesar das objeções da Rússia, mas a expansão era mais do que o relacionamento dos EUA com a Rússia
Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos

Otan e o leste

Para Clinton, quando seu governo começou, em 1993, "ninguém tinha certeza de que uma Europa pós-Guerra Fria permaneceria pacífica, estável e democrática". "A possibilidade de adesão à UE [União Europeia] e à Otan forneceu os maiores incentivos para os estados da Europa Central e Oriental investirem em reformas políticas e econômicas e abandonarem uma estratégia de militarização isolada".

Citando o ex-primeiro-ministro da Suécia Carl Bildt, o ex-presidente americano disse que "não era a Otan que procurava ir para o leste". "Eram ex-satélites e repúblicas soviéticas que desejavam ir para o oeste".

Na avaliação de Clinton, o resultado da expansão da Otan "foi mais de duas décadas de paz e prosperidade para uma porção cada vez maior da Europa, e um fortalecimento de nossa segurança coletiva".

"Até o momento, nenhum estado membro de nossa aliança defensiva foi invadido. De fato, mesmo nos primeiros anos após a queda da Cortina de Ferro, a mera perspectiva de adesão à Otan ajudou a esfriar as disputas de longa data entre Polônia e Lituânia, Hungria e Romênia e outros", completou.

Agora, a invasão não provocada e injustificada da Ucrânia pela Rússia, longe de colocar em dúvida a sabedoria da expansão da Otan, prova que essa política era necessária
Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos

"Fracasso russo"

Para Clinton, "não foi uma probabilidade imediata de a Ucrânia aderir à Otan que levou Putin a invadir a Ucrânia duas vezes —em 2014 e em fevereiro". "Mas, sim, a mudança do país em direção à democracia que ameaçava seu poder autocrático em casa, e o desejo de controlar os ativos valiosos sob o solo ucraniano."

"O fracasso da democracia russa, e sua virada para o revanchismo, não foi catalisado em Bruxelas, na sede da Otan. Foi decidido em Moscou por Putin", disse o ex-presidente americano.

"Ele poderia ter usado as prodigiosas habilidades da Rússia em tecnologia da informação para criar um concorrente para o Vale do Silício e construir uma economia forte e diversificada", completou. "Em vez disso, ele decidiu monopolizar e armar essas habilidades para promover o autoritarismo em casa e causar estragos no exterior, inclusive interferindo na política da Europa e dos EUA."