Mãe chora ao reconhecer corpo de filho em vala perto da cidade de Buzova
Ajoelhada no chão perto de um posto de gasolina destruído por um bombardeio nos arredores de Kiev, Lyudmila chora pelo filho de 23 anos, após encontrá-lo sem vida numa vala próxima da cidade de Buzova.
"Deixe-me apenas vê-lo por um momento", implora a mulher enquanto outra tenta segurá-la. "Meu menino", murmura.
O corpo de Evgueni, que foi descoberto ao lado de outro homem, estava deformado pela água, coberto de lama e escondido por um colchão do exército. A mãe Lyudmila o reconheceu pelos sapatos.
"Eu não vou sair daqui", ela repete, agarrando-se aos escombros ao seu redor.
A polícia de Buzova especula que o homem foi morto no posto de combustível após um ataque de militares da Rússia.
Depois de limpar a vala com um caminhão-cisterna, a polícia isolou o local e um homem entrou na cavidade. Com a ajuda de uma corda branca, cada corpo é extraído. O do filho de Lyudmila é o mais leve, mas são necessários nove homens para tirá-lo do lugar.
Quando o corpo de Evgueni é totalmente retirado do buraco, a mãe Lyudmila se joga em direção a ele. "Deixe-me ver", implora. "Quero vê-lo". Desta vez, são necessários quatro homens para segurá-la.
Não muito longe do local onde os corpos foram encontrados, os restos de dois tanques destruídos pelos combates podem ser vistos. Um "V" branco está pintado em um deles, símbolo das forças russas que invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro e se retiraram da região há mais de uma semana.
A Ucrânia diz que, desde o início da retirada de tropas russas na região de Kiev, já foram descobertos 1,2 mil corpos.
O exército russo continua a lançar guerra contra os civis, por falta de vitórias no front.
Governador regional de Kharkiv, Oleg Sinegoubov
Há uma semana, 410 corpos foram encontrados em Bucha após a retirada de tropas russas. A cidade se tornou um símbolo das atrocidades da guerra na Ucrânia e cerca de 300 pessoas foram enterradas em valas comuns, segundo relatório anunciado pelas autoridades ucranianas em 2 de abril.
"Se isto não é um crime de guerra, o que é um crime de guerra?", questionou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que esteve em Bucha para ratificar o apoio da União Europeia à Ucrânia.
"[O incidente em] Bucha não foi feito da noite para o dia. Por muitos anos, as elites políticas e a propaganda russas incitaram o ódio, desumanizaram os ucranianos, alimentaram a superioridade russa e prepararam o terreno para essas atrocidades", escreveu o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, no Twitter.
Ucrânia se prepara para ataque russo no leste
A Ucrânia se prepara para uma forte ofensiva russa no leste enquanto bombardeios continuam a atingir o país. Na manhã de domingo (10), pelo menos duas pessoas morreram em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, e em seus subúrbios, anunciou o governador regional Oleg Sinegoubov.
Em Dnipro, uma grande cidade industrial de 1 milhão de habitantes, uma chuva de mísseis destruiu o aeroporto local, já atingido em 15 de março, anunciaram as autoridades locais. O número de vítimas ainda é desconhecido. Durante a noite, na região de Mykolaiv, a cerca de cem quilômetros a nordeste de Odessa, a terceira maior cidade do país e um importante porto estratégico no Mar Negro, sete mísseis caíram, de acordo com o comando militar local.
Também no domingo, o papa Francisco pediu da Praça São Pedro uma "trégua de Páscoa" para "alcançar a paz" na Ucrânia e pôr fim a "uma guerra que todos os dias traz diante de nossos olhos massacres hediondos e crueldades atrozes cometidas contra civis indefesos". Como resposta, o Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Kirill, um dos pilares do regime de Vladimir Putin, pediu a "união" em torno do Kremlin para combater os "inimigos externos e internos" da Rússia.
*Com AFP, RFI e Reuters
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