Topo

Esse conteúdo é antigo

Biden visita Uvalde para consolar população traumatizada após massacre

O presidente dos EUA, Joe Biden, e a primeira-dama, Jill Biden, prestam seus respeitos em um memorial improvisado do lado de fora da Robb Elementary School, em Uvalde - Mandel Ngan/AFP
O presidente dos EUA, Joe Biden, e a primeira-dama, Jill Biden, prestam seus respeitos em um memorial improvisado do lado de fora da Robb Elementary School, em Uvalde Imagem: Mandel Ngan/AFP

Do UOL*, em São Paulo

29/05/2022 13h41

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e sua esposa, Jill, viajaram hoje para Uvalde, a pequena cidade do Texas consternada após o massacre em uma escola de ensino fundamental que deixou 21 mortos.

À medida que surgiam depoimentos de crianças que sobreviveram ao ataque, o presidente pediu ações para evitar futuros massacres em um país onde os esforços para endurecer as regulamentações sobre armas de fogo falharam repetidamente.

"Não se pode tornar os dramas ilegais, eu sei. Mas é possível tornar os Estados Unidos mais seguros", disse Joe Biden em um discurso no sábado, lamentando que "muitas pessoas inocentes tenham morrido".

"Então, estou pedindo a todos os americanos agora que se unam e façam com que suas vozes sejam ouvidas e trabalhem juntos para tornar esta nação o que pode e deve ser", disse o presidente.

Enquanto isso, histórias perturbadoras surgiam de crianças que sobreviveram ao massacre de terça-feira, quando Salvador Ramos, de 18 anos, abriu fogo com um fuzil semiautomático.

Ramos entrou em uma sala de aula, fechou a porta e se dirigiu às crianças: "Vocês todos vão morrer", antes de abrir fogo, disse um sobrevivente, Samuel Salinas, de 10 anos, ao canal ABC.

A polícia admitiu ter tomado uma "decisão errada" ao adiar a sua entrada no centro educacional depois de ser alertada sobre o tiroteio.

De fato, levou cerca de uma hora para que o massacre terminasse, apesar de vários telefonemas de crianças pedindo intervenção. Os 19 agentes que estavam no local aguardavam a chegada de uma unidade especializada. No final, Ramos foi morto pela polícia.

"Ninguém gritou"

Sobreviventes do ataque disseram que sussurraram, suplicando ligações para o 911. Alguns se fingiram de mortos para evitar chamar a atenção do atirador.

Samuel Salinas disse que se jogou no chão para simular sua morte.

Miah Cerrillo, 11, fez a mesma coisa para escapar da atenção de Salvador Ramos. A menina se cobriu com o sangue de um colega, cujo corpo estava ao lado dela, disse ela à CNN fora das câmeras. Ela tinha acabado de ver como Ramos matou sua professora depois de dizer "boa noite" para ela.

Outro estudante, Daniel, disse ao jornal The Washington Post que enquanto as vítimas esperavam a polícia vir em seu socorro, ninguém gritou. "Fiquei assustado e estressado, porque as balas quase me atingiram", disse ele.

Sua professora, que estava ferida, sussurrou para eles "ficarem calmos" e "ficarem quietos". Ele acabou sendo resgatado pela polícia, que quebrou as janelas de sua sala de aula. Desde então, tem pesadelos recorrentes.

Impulso de solidariedade

Desde quarta-feira, moradores desta pequena cidade e de outras cidades chegam ao memorial improvisado com 21 cruzes brancas de madeira instaladas na praça com os nomes de 19 crianças e dois professores mortos.

Os participantes silenciosos formam um círculo ao redor do memorial, dão as mãos e rezam. Eles também deixam flores e bichos de pelúcia que se juntam às inúmeras mensagens de carinho escritas nas cruzes, palavras como "eu te amo" ou "vou sentir sua falta".

"É importante estar aqui, para oferecer condolências à comunidade", diz Rosie Varela, 53, que viajou uma hora da cidade texana de Del Rio com o marido e o filho adolescente.

"Eles não estão sozinhos; estamos aqui para apoiá-los. Teria sido triste se ninguém viesse aqui", acrescenta ela com lágrimas nos olhos. "Temos que ajudar essas crianças a sair desse trauma, dessa dor", disse Humberto Renovato, 33 anos, nascido e criado em Uvalde.

"Ter coragem"

A vice-presidente Kamala Harris, que em meados de maio compareceu ao funeral de uma das 10 vítimas negras mortas em um tiroteio racista em Buffalo, Nova York, disse que "não permitiremos que aqueles motivados pelo ódio nos separem ou nos assustem".

Ela também pediu aos legisladores que ajam.

"O Congresso deve ter a coragem de enfrentar o lobby das armas de uma vez por todas e aprovar leis razoáveis de segurança de armas", tuitou, referindo-se à poderosa e influente National Rifle Association (NRA).

O tiroteio em Uvalde é o pior nos Estados Unidos desde que 20 crianças e seis adultos foram mortos a tiros em 2012 na Sandy Hook Elementary School em Newtown, Connecticut.

Questionamentos

A viagem acontece em meio a questionamentos sobre se a falha da polícia em não agir rapidamente teria contribuído para um número maior de vítimas.

O papel de Biden como consolador-chefe será bastante difícil, uma vez que há descontentamento e raiva dos locais por conta da decisão da polícia em Uvalde, Texas. As forças de segurança permitiram que o atirador permanecesse em uma sala de aula por quase uma hora enquanto os policiais esperavam no corredor e as crianças dentro do local pediam desesperadamente por ajuda.

No sábado, os investigadores estavam tentando determinar como erros críticos foram cometidos na resposta das forças de segurança ao massacre que deixou 19 alunos e dois professores da Robb Elementary School mortos, e há inclusive pedidos para que o FBI, a polícia federal dos EUA, investigue as ações policiais.

Biden deverá visitar um memorial erguido na escola e se reunir com as famílias das vítimas, sobreviventes e socorristas.

"Ele precisa se concentrar na dor e no luto das famílias e da comunidade e entender que tudo isso foi agravado pelo fato de ainda não sabermos exatamente o que aconteceu. Quanto mais detalhes são revelados, mais parece que as crianças foram mal atendidas", disse Karen Finney, estrategista democrata e porta-voz da campanha presidencial de Hillary Clinton em 2016.

O presidente democrata também enfrenta a dura realidade de que ele tem sido relativamente impotente para impedir a ação de atiradores nos EUA ou convencer os republicanos de que um controle mais rígido sobre armas pode conter a carnificina.

(Com AFP e Reuters)