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Dívidas e subida de juros: por que preços cresceram 20% na Argentina?

Inflação argentina disparou no último ano - GETTY IMAGES
Inflação argentina disparou no último ano Imagem: GETTY IMAGES

Do UOL, em São Paulo

08/07/2022 17h55

Com inflação que chegou na casa dos 60% ao ano em maio, a Argentina vive delicada crise econômica e política. No último domingo (3) houve um agravante que fez com que a população corresse às compras antes que os produtos aumentassem de preços, o que, de fato, aconteceu. O aumento chegou a 20% em algumas lojas de Buenos Aires.

Um levantamento feito pela Consultoria Ecolatina, com sede na capital do país, calculou a variação de preços em um período curto, de 29 de junho a 5 de julho. Os colchões aumentaram 18,4%; as bicicletas, 17,4%; as TVs, 12,7%; as máquinas de lavar, 9,2%; os aparelhos de celular, 7,7% e os livros, 5,7%.

Apesar de a inflação ser um problema global, por que na Argentina está tão acentuada?

Atrito entre aliados de Fernández e Kirchner

Mesmo antes da pandemia a economia argentina já vinha em uma crise de anos. Porém, dentro do próprio governo há uma clara ruptura entre aqueles que apoiam a vice-presidente, Cristina Kirchner, e aqueles que defendem o presidente Alberto Fernández. O conflito resultou na queda do ministro da economia, Martín Gusmán.

Ele tinha credibilidade com o Fundo Monetário Internacional, com quem a Argentina amarga uma dívida elevada em negociação.

Para seu lugar foi chamada a economista Silvina Batakis. Ela é alinhada de Kirchner e já atuava no governo como secretária de Províncias do Ministério do Interior, cargo no qual mantinha relação direta com os governadores. Entre 2011 e 2015, virou ministra da Economia da província de Buenos Aires. Depois de intensas negociações, a designação de Batakis foi o único ponto de acordo entre Fernández e sua vice-presidente.

Dívida externa e reservas baixas

A chegada da nova ministra abalou o mercado e os investidores, pois os agentes não têm a certeza de qual será a linha e as medidas por ela para lidar com a dívida externa e os problemas sociais do país - além da inflação, 37% da população vive na linha da pobreza. Gusmán viajaria ainda nesta semana para a França para renegociar um acordo de dívida de US$ 2 bilhões com o grupo de credores do Clube de Paris.

As reservas em moeda estrangeira também estão baixas, por conta dos altos custos de importação de energia e, com isso, os investidores estão questionando a capacidade do país de honrar seus compromissos de dívida. Os retornos dos títulos do governo estão entre os mais altos do mundo, demonstrando justamente essa falta de confiança dos investidores. Duas greves de caminhoneiros aconteceram somente neste ano devido à falta de diesel, o que também prejudicou a economia.

O nível do risco-país — conceito econômico e financeiro que diz respeito à possibilidade das mudanças no ambiente de negócios de um país impacte negativamente o valor dos ativos — da Argentina subiu para 2.654 pontos-base na última quarta-feira (6), devido à crescente desconfiança sobre a economia doméstica e às consequências de tensões dentro da coalizão política no poder.

Elevação de juros

Para tentar conter a alta dos preços, o governo anunciou recentemente uma nova elevação dos juros no país para 52% ao ano, mas mesmo assim a taxa elevada não tem sido suficiente para conter os preços. Há risco até mesmo de desabastecimento de alguns produtos, como os grãos. Até mesmo empresários têm estocado produtos para tentar segurar os preços.

A maioria dos economistas entende como irresponsável os gastos públicos como vêm sendo feitos na Argentina, com sucessivos anos ficando acima da capacidade de arrecadação e sem apresentar lastro que gere algum retorno em curto ou longo prazo.