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Informante do Panama Papers fala pela 1ª vez e relata medo de Putin

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Frederik Obermaier e Bastian Obermayer

Da Der Spiegel

22/07/2022 06h00

O informante que deu origem aos Panama Papers diz que está seguro, recusa fama e explica por que só agora resolveu dar sua primeira entrevista, ainda sob anonimato, que ele pensa que só deve terminar "em seu leito de morte" por ter mexido com grandes corporações criminosas ligadas a governos.

O UOL teve acesso à entrevista dada a dois repórteres da revista Der Spiegel, que fizeram parte do time original do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), que revelou os Panama Papers e levou o Prêmio Pulitzer, o mais relevante dos Estados Unidos no jornalismo.

Ao todo, participaram do processo de apuração 376 jornalistas de 109 veículos em 76 países, entre eles o jornalista Fernando Rodrigues, blogueiro do UOL à época da publicação da série de reportagens.

No UOL, foram publicados 60 textos da série Panama Papers ao longo de 2016. O material foi analisado durante um ano, numa investigação que vasculhou 11,5 milhões de arquivos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, especializado em abrir empresas offshore.

Foram identificadas 214.844 pessoas jurídicas nos arquivos (entre offshores, fundações privadas etc.). Dessas, cerca de 1.700 pertencem a pessoas que informaram endereços no Brasil. Na investigação jornalística, foram descobertas 107 offshores relacionadas à Operação Lava Jato.

Os dados foram obtidos pelo jornal alemão "Süddeutsche Zeitung" por meio de uma fonte anônima e compartilhados com o consórcio.

Essa pessoa, que vai ser identificada no texto apenas como Fulano de Tal, fala do impacto que teve essa investigação e da ascensão do fascismo e do autoritarismo que ele vê se espalhar pelo mundo, da China até a Rússia, do Brasil às Filipinas, mas especialmente nos EUA.

Apesar de reclamar do ritmo lento que seu vazamento tomou e de um eterno medo de vingança da Rússia, ele diz que faria tudo de novo. "Sem pensar duas vezes."

Leia a reportagem e a entrevista na íntegra a seguir.

Em 2014, um denunciante anônimo que se autodenominava "John Doe" (Fulano de Tal) contatou o jornal "Süddeutsche Zeitung" e vazou mais de 2,6 terabytes de dados secretos para dois jornalistas, incluindo milhões de emails internos. Eles eram provenientes do escritório de advocacia Mossack Fonseca, no Panamá, um dos mais importantes prestadores de serviço no negócio global de empresas offshore.

Após as revelações, que se tornaram conhecidas como Panama Papers e foram publicadas como um trabalho do ICIJ, o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Davíð Gunnlaugsson, e o primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, renunciaram, assim como outros. O vazamento provocou enormes protestos em Londres, Reykjavík e em outros lugares, assim como levou à abertura de milhares de investigações por todo o mundo. Governos conseguiram recuperar mais de US$ 1,2 bilhão em impostos sonegados.

Até o momento, Fulano falou publicamente em apenas uma ocasião, na forma de um manifesto publicado quatro semanas após a publicação dos Panama Papers. Nele, a fonte conclamou os autores de políticas a agirem no combate à desigualdade global. De lá para cá, surgiram livros, podcasts e documentários sobre o vazamento, até mesmo um filme de Hollywood estrelado por Meryl Streep. Mas o denunciante permaneceu em silêncio.

Fulano contatou recentemente dois ex-jornalistas do SZ que agora trabalham para a Der Spiegel. Para assegurar o anonimato, nossa entrevista com a fonte foi conduzida por uma conexão de internet criptografada, usando um software que falava as respostas do denunciante. A entrevista, que ocorreu na presença de uma testemunha, foi reduzida para melhorar a legibilidade, foi levemente editada e, como é prática padrão no jornalismo alemão, submetida ao entrevistado para autorização antes da publicação.

Mossack Fonseca; Panama Papers; logotipo; imagem ilustrativa - Reinhard Krause/Reuters - Reinhard Krause/Reuters
Imagem: Reinhard Krause/Reuters

Pergunta - Como você está? Está seguro?

Fulano - Estou seguro, até onde sei. Vivemos em um mundo perigoso e isso às vezes pesa sobre mim. Mas, de modo geral, estou bem e me considero bastante afortunado.

Você permaneceu em silêncio por seis anos. Não ficou tentado a revelar que foi você quem tornou público os negócios secretos "offshore" de chefes de Estado e chefes de governo, cartéis de drogas e criminosos?

Penso com frequência, como creio que ocorre com muitas pessoas, na questão de receber o crédito pelo meu trabalho. Fama nunca fez parte da equação. Àquela altura, a única preocupação era permanecer vivo tempo suficiente para que alguém contasse a história. Tomar a decisão de compilar os dados que me estavam disponíveis no Mossack Fonseca levou dias e a sensação era de estar diante de uma arma apontada para mim, mas, no final, eu tinha que fazê-lo.

Você contatou o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, que iniciou a colaboração com mais de 400 jornalistas, coordenados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Quando nos contatou, o que tinha em mente?

Quando contatei vocês, não tinha nenhuma ideia do que aconteceria ou mesmo se vocês responderiam. Eu me correspondi com muitos jornalistas que se mostraram desinteressados, incluindo o New York Times e o Wall Street Journal. O WikiLeaks, por sua vez, nem mesmo se deu ao trabalho de responder quando o contatei posteriormente. [Nenhum deles quis comentar.]

A equipe global começou a publicar os Panama Papers em 3 de abril de 2016. Como foi aquele dia para você?

Eu me recordo de ter sido como a maioria dos domingos. Eu me encontrei com alguns amigos para uma refeição e fiquei estupefato quando soube que Edward Snowden tinha aumentado demais o interesse ao discutir o projeto no Twitter.

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Edward Snowden denunciou a NSA e hoje vive preso
Imagem: Reprodução

O denunciante da NSA [sigla em inglês da Agência de Segurança Nacional dos EUA], que atualmente vive exilado na Rússia, de alguma forma descobriu sobre a investigação e tuitou antes mesmo de publicarmos sobre "o maior vazamento na história do jornalismo de dados"...

Eu me recordo de ver milhares de postagens na rede social. Nunca tinha visto nada igual. Uma literal explosão de informação. As pessoas com as quais eu estava falaram a respeito tão logo tomaram conhecimento. Fiz o máximo que pude para agir como alguém que estivesse tomando conhecimento daquilo naquele instante.

Muitos especialistas comparam os Panama Papers com Watergate. A fonte mais importante do caso Watergate foi o diretor associado do FBI, Mark Felt, que usou o codinome "Garganta Profunda" e finalmente revelou sua identidade 33 anos após o caso...

Penso em Mark Felt de vez em quando e nos riscos que ele enfrentou. Meu perfil de risco é um pouco diferente do dele. Talvez eu tenha que esperar até estar em meu leito de morte.

Por quê?

Os Panama Papers envolvem tantas organizações criminosas transnacionais diferentes, algumas delas ligadas a governos, que é difícil imaginar como poderia me identificar de forma segura. Felt precisava se preocupar basicamente com Richard Nixon e seus comparsas e Nixon renunciou pouco mais de dois anos após a divulgação, o que o deixou sem poder. Mesmo daqui 50 anos, provavelmente alguns dos grupos com os quais me preocupo ainda estarão entre nós.

Você contou para alguém sobre seu papel nos Panama Papers?

Após a publicação, contei apenas a algumas pessoas com as quais mais me importo.

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Carro da Procuradoria-Geral do Panamá ao lado do escritório da Mossack Fonseca, durante operação ligada ao caso de corrupção
Imagem: Eduardo Grimaldo/Reuters

E então você permaneceu em silêncio por seis anos. Por que deseja falar agora?

Ocorreram várias ocasiões ao longo dos últimos seis anos em que fiquei tentado a me manifestar. Em cada uma dessas ocasiões, parecia que o mundo estava caminhando para cada vez mais perto de uma catástrofe, de modo que a necessidade de tentar intervir sempre parecia cada vez mais urgente. Ao mesmo tempo, entretanto, eu precisava levar em consideração alguns fatores.

A respeito do que está exatamente se referindo?

Primeiro, é claro, está minha própria segurança física, assim como a da minha família. Segundo, está o fato de que o mundo é um grande lugar com uma cacofonia de vozes tentando passar seu ponto de vista. Eu queria que minhas palavras tivessem significado, não que se perdessem antes do próximo tuíte de Donald Trump. Em 2016, eu escrevi [em um manifesto] sobre meu medo com base no que estava testemunhando, "que uma severa instabilidade poderia estar próxima". Temo que a instabilidade tenha finalmente chegado.

De que tipo de instabilidade você fala?

A ascensão global do fascismo e do autoritarismo, da China à Rússia, do Brasil às Filipinas, mas especialmente agora nos Estados Unidos.

Os Estados Unidos cometeram alguns erros terríveis em sua história, mas serviam como uma força contrária aos piores regimes quando era necessário. Essa força deixou de existir na prática.

Paraísos fiscais parecem ser de importância crucial para homens-fortes de regimes autocráticos.

Putin é uma ameaça maior aos Estados Unidos do que Hitler jamais foi e empresas de fachada são suas melhores amigas. Empresas de fachada que financiam os militares russos são as que matam os civis inocentes na Ucrânia quando os mísseis de Putin atingem shopping centers. Empresas de fachada que mascaram os conglomerados chineses são as que matam os mineiros de cobalto menores de idade no Congo. Empresas de fachada tornam esses horrores e outros possíveis ao remover a prestação de contas da sociedade. Mas, sem prestação de contas, a sociedade não pode funcionar.

Os Panama Papers parecem mais relevantes do que nunca, devido à agressão russa na Ucrânia. Por exemplo, um dos amigos mais antigos e mais próximos de Vladimir Putin, o violoncelista Sergei Roldugin, recebeu sanções no final de fevereiro. O motivo principal para isso foi encontrado nos Panama Papers, que mostraram que Roldugin aparentemente atuava como "laranja" de seu amigo poderoso e possui bilhões, ao menos no papel. Você ficou satisfeito com estes desdobramentos?

Fiquei feliz ao ver sanções impostas a Roldugin. Considerei brilhante.

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, que ameaçou o informante dos Panama Papers, segundo sua entrevista
Imagem: MIKHAIL KLIMENTYEV/AFP

Você teme que a Rússia possa buscar vingança?

É um risco com o qual convivo, dado que o governo russo já expressou que deseja minha morte. Antes das atuais restrições à presença da Rússia na mídia, devido ao seu ataque contra a Ucrânia, ela exibiu um docudrama em duas partes sobre os Panama Papers exibindo um personagem anônimo, que sofria um ferimento na cabeça provocado por tortura nos créditos iniciais, após os quais um barco de desenho animado navegava pela poça de seu sangue, como se fosse o Canal do Panamá. Apesar de bizarro e brega, não foi nada sutil. Já vimos outros ligados a contas offshore e sonegação fiscal recorrerem a assassinato, como nas tragédias envolvendo Daphne Caruana Galizia e Ján Kuciak. Suas mortes me afetaram profundamente e peço à União Europeia que faça justiça por Daphne, Ján e suas famílias. E que se estabeleça o estado de direito em Malta, uma das antigas jurisdições do Mossack Fonseca.

Em 2017, a Polícia Federal Alemã obteve uma tonelada de documentos do Mossack Fonseca, também fornecidos por uma fonte anônima.

Sim, fui eu. Desde o início, eu estava disposto a trabalhar com as autoridades governamentais, pois me parecia claro que seria necessário a abertura de processos contra os crimes descritos nos Panama Papers. Mais que qualquer outro, o governo alemão me assegurou que manteria a mim e minha família em segurança. Após algum tempo, conseguimos chegar a um arranjo que parecia justo. Infelizmente, o governo alemão violou seu acordo pouco depois e, a meu ver, colocou minha segurança em risco. Lamentavelmente, não recomendaria a outros confiarem nas garantias do Estado alemão.

Segundo relatos na mídia, você recebeu uma recompensa de 5 milhões de euros. Por que está descontente com a Polícia Federal Alemã [procurada, ela não quis comentar as acusações]?

Foram três os principais problemas. Primeiro, assim que a Polícia Federal Alemã recebeu os dados, fui basicamente abandonado à minha própria sorte para me defender, sem qualquer tipo de proteção. Senti que aquilo foi imprudente, já que a ameaça à minha segurança não tinha diminuído, provavelmente até tinha aumentado. Pouco depois, ocorreu um assassinato ligado à FSB [o Serviço Federal de Segurança russo] em Berlim em plena luz do dia. Aquela pessoa poderia ter sido eu. Segundo, o governo alemão não cumpriu o acordo financeiro que acertamos. Isso causou problemas adicionais que colocaram em risco minha segurança. Terceiro, a Polícia Federal Alemã recusou repetidamente analisar mais dados sobre o mundo "offshore" além dos Panama Papers, o que foi, francamente, chocante.

Então você acredita que as autoridades alemãs não fizeram o suficiente para mantê-lo seguro?

Quero ser justo com elas. Elas me ofereceram um pequeno grau de proteção, mas trata-se de um tipo de situação onde basta um pequeno erro para que ocorra um resultado desastroso e irreversível. Por vários motivos, não fiquei à vontade com a abordagem geral, especialmente com o passar do tempo. Se o governo alemão de fato apreciasse a importância dos Panama Papers, estou certo que teria lidado com a situação de modo muito diferente.

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Imagem: Wolfgang Rattay/Reuters

O que você queria exatamente da Polícia Criminal Federal da Alemanha? Proteção à testemunha? Uma nova identidade? Ou mais dinheiro?

Só posso dizer que eles não honraram os acordos financeiros que acertamos.

A polícia alemã compartilhou os dados do Mossack Fonseca com dezenas de países, mas limitaram a dados sobre os cidadãos do país em questão. Segundo essa lógica, os dados sobre oligarcas só podiam ser compartilhados com as autoridades russas, a menos que existissem investigações criminais em outros países, uma situação absurda, especialmente considerando que esses homens sofreram recentemente sanções em resposta à invasão russa à Ucrânia.

Infelizmente, nem o governo da Alemanha e nem o dos Estados Unidos expressaram muito interesse nos Panama Papers. Em vez disso, eles se concentraram em iates. Francamente, iates não importam muito, fora o valor simbólico. Trustes e empresas offshore é que importam. Sanções são uma ferramenta importante, mas há outras. Por exemplo, os Estados Unidos poderiam realizar batidas nos escritórios de empresas offshore em solo americano para enviar o recado de que esse tipo de atividade não é mais aceitável. Seria algo fácil de ser feito. Mas não aconteceu.

A elite russa esconde rotineiramente a propriedade de lares luxuosos, iates, jatos e outros ativos por meio de arranjos offshore complexos. Como isso pode ser detido?

Creio que o mundo ocidental viu por muito tempo Vladimir Putin como um incômodo, mas um que poderiam controlar por meio de incentivos econômicos. Obviamente, isso não funcionou. Seria preciso um esforço realmente extraordinário, uma espécie de Projeto Manhattan moderno, onde a meta seria desbaratar os enigmas do mundo offshore. Com certeza existe a capacidade computacional. A questão é se existe a vontade política. Até o momento, não vi muita evidência.

Por que você acha que ainda não apareceu um grande denunciante russo?

Mesmo dispondo da coragem necessária, também é preciso algum grau de liberdade para se tornar um denunciante. Alguém precisa estar lá para escutar e é preciso que haja ao menos algum desejo de promover mudanças. Mesmo se deixássemos de fora o fato de Putin assassinar e prender os corajosos, é muito difícil encontrar esse tipo de liberdade em um lugar como a Rússia.

Edward Snowden está preso na Rússia. Apesar de criticar o governo de Putin como sendo corrupto, ele não pode deixar o país porque enfrentaria julgamento nos EUA.

Snowden é apenas uma peça do quebra-cabeça em uma guerra de informação que a Rússia está travando contra os Estados Unidos ao longo de grande parte do último século. Se a comunidade de inteligência americana tem evidência contra ele, deveria expor para que todos vissem. Se não, o presidente Biden deveria perdoá-lo e recebê-lo de volta. É simples assim.

Quão satisfeito você ficou com o impacto do vazamento?

Estou espantado com o resultado dos Panama Papers. O que o ICIJ realizou foi sem precedentes e estou extremamente satisfeito, até mesmo orgulhoso, com o fato de grandes reformas terem ocorrido em consequência dos Panama Papers. O fato de terem ocorrido colaborações jornalísticas subsequentes de escala semelhante também é um verdadeiro triunfo. Infelizmente, ainda não é o bastante. Nunca achei que a divulgação dos dados de um escritório de advocacia resolveria plenamente a corrupção global, muito menos mudar a natureza humana. Os políticos precisam agir.

Precisamos de acesso público a registros corporativos em todas as jurisdições, das Ilhas Virgens Britânicas até Anguilla e Seychelles, de Labuan até Delaware. Já. E caso você ouça resistência, esse som que ouvir é o som de um político que deve ser afastado.

Desde 2016, milhares de histórias dos Panama Papers foram publicadas. Ainda há alguma que você acredita que o mundo precisa ver?

Há tantas histórias não contadas. Uma que vem à mente é de um truste que possuía talão de cheque com folhas amarelas, provavelmente criado para um cartel das drogas por uma empresa de consultoria colombiana, que um grande banco americano parece ter permitido o uso direto de sua conta bancária correspondente em um banco no Panamá. Os nomes dos beneficiários foram todos datilografados nos cheques com uma máquina de escrever. Chamar esse tipo de arranjo de incomum seria um eufemismo. Eles poderiam muito bem ter feito as folhas de cheque em bandeiras vermelhas de fato.

Snowden já mencionou seu caso como sendo o melhor cenário para um denunciante: você causou grande impacto e permanece desconhecido e livre. Também é assim que você vê seu papel?

Eu me considero incrivelmente afortunado por tudo ter corrido tão bem quanto correu, mesmo que nada seja perfeito. Permanecer desconhecido traz o benefício óbvio de me manter relativamente seguro, mas também há um custo, que é o de não poder manter a atenção do público no assunto da mesma forma que Edward Snowden conseguiu em relação às revelações das violações de privacidade da NSA. É claro, ele pagou em certo grau com sua liberdade. Sempre há trocas.

O que seu vazamento lhe ensinou sobre denúncias?

Eu diria que o mais importante é o fato de meu exemplo mostrar que é possível, apesar de talvez raro, fazer uma grande diferença e ainda manter uma boa vida. Mas exige muito trabalho e muita sorte para permanecer um passo à frente.

Há algo que você recomendaria a denunciantes potenciais?

Dizer a verdade sobre assuntos sensíveis nunca é fácil. Eu diria que um fator subestimado é quão difícil é manter a cabeça no lugar. Quer esteja falando com jornalistas ou com autoridades do governo, prepare-se para tudo se mover de forma bem lenta. É importante apenas respirar e encontrar outras coisas em que pensar de vez em quando.

Se pudesse voltar no tempo, você faria a denúncia de novo?

Sem nem pensar duas vezes.