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Mãe e aventureira: Quem era a brasileira morta em queda de penhasco no Peru

Malu Paternostro defendia preservação ambiental e tinha turismo ecológico como hobby  - Reprodução/Facebook
Malu Paternostro defendia preservação ambiental e tinha turismo ecológico como hobby Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

04/08/2022 04h00Atualizada em 04/08/2022 12h53

A brasiliense Maria Lucia Paternostro Rodrigues, 46, que morreu na segunda-feira (1) após cair de um penhasco nos Andes peruanos, era conhecida por seus posicionamentos fortes, pensamentos feministas e por atuar a favor da preservação ambiental e em defesa da democracia nas redes sociais.

Servidora do STJ (Superior Tribunal de Justiça) desde 2003, Maria era formada em letras e em direito e pós-graduada em direito público. Atualmente, ela exercia o cargo de assessora-chefe do Núcleo de Gerenciamento de Precedentes e de Ações Coletivas (Nugepnac) e trabalhava na mesma cidade em que nasceu.

Em homenagens nas redes, amigos da servidora destacaram a paixão de Maria pela natureza, compartilhando imagens dela em trilhas e cachoeiras. Ela fazia mais uma de suas caminhadas, dessa vez pelos Andes peruanos, onde passava férias, quando sofreu o acidente que a matou. Por estar em uma área de difícil acesso, seu corpo ainda não havia sido resgatado até a manhã de hoje.

maria lucia - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Maria Lucia Paternostro Rodrigues, servidora do Superior Tribunal de Justiça (STJ), gostava de fazer trilhas e conhecer mares e cachoeiras e estava de férias
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Mas a relação de Maria com a natureza ia além do turismo, com posicionamentos demonstrando preocupação com o meio ambiente no próprio Centro-Oeste, onde ela morava.

"O Cerrado, sua fauna, comunidades quilombolas, reservas permanentes, o bioma como um todo precisa de nossos olhos mais que atentos. O foco na situação pandêmica deu espaço a práticas atrozes de devastação em muito pouco tempo, justamente por parte de quem foi eleito para administrar e ajudar a zelar pelo território e sua integridade. (...) Uma agenda inclusiva e necessária para frear o processo de destruição da região urge! Juntemo-nos à causa", escreveu a servidora em publicação do ano passado.

Em outro momento, em 2020, Maria Lucia, que se apresentava como Malu nas redes sociais, compartilhou a foto de uma praia para falar sobre a "saudade" de sua conexão com a natureza.

"Saudade de sentir peito e alma aquecidos, de cenários lindos desbravados e momentos mágicos vividos", escreveu ela, que já havia visitado pontos paradisíacos como Fernando de Noronha.

Conectada com a luta pelos direitos das mulheres

Para além da natureza, Maria Lucia também mostrava sua paixão por outras causas, como os direitos das mulheres. Ela fez parte de eventos como o "Equalize", do próprio STJ, em que foi discutida a participação das mulheres na instituição.

Ao comentar o assunto, a servidora destacou seu posicionamento a favor da igualdade entre os gêneros, usando frases como "feminismo sim" e "juntas somos mais".

"O alargamento do espaço das mulheres nos restritos órgãos de poder é desafio perene e, apesar de crescente, merece mais e mais sensibilização, políticas e apoio de todos, homens e mulheres. (Foi uma) manhã de colheita de inspiração, bebendo na fonte depoimentos e histórias de personagens femininas pioneiras, fortes e competentes", defendeu Malu, em 2019.

"Sigamos na luta, pessoal e coletiva, pelo convencimento, por meio de atuação direta e indireta, de que não desejamos ser piores nem melhores que o masculino, tampouco iguais, mas diferentes. E que justamente nosso diferencial feminino, quando presente e respeitado, faz positiva e transformadora diferença na sociedade e no universo", completou.

O trabalho de Maria foi elogiado por vários outros membros do STJ, entre eles o ministro Paulo de Tarso Sanseverino, que afirmou que a assessora era uma servidora "extremamente inteligente, diligente, competente e dedicada". Para o ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, a morte da mulher "entristece a todos".

Vida ativa

Antes do acidente na segunda-feira, Maria visitou o Parque Nacional Huascaran, conhecido pelos lagos de águas cristalinas, durante uma semana. Para se preparar para as trilhas, a servidora costumava incluir os exercícios físicos no dia a dia, fazendo não apenas corridas mas também treinos de força, no crossfit.

"Estávamos treinando juntos para uma trilha que iríamos fazer no ano que vem para a Patagônia. O percurso é grande: 100 km. Ela estava animada e fazendo planos", disse um dos amigos da servidora, Adriano Zed Teles, que também é proprietário de uma academia onde a vítima malhava há sete anos.

Ele descreve a amiga como alguém sempre sorridente e de bem com a vida.

"Recebemos com muita surpresa e tristeza essa notícia. A Malu era uma pessoa da paz, do bem, alto astral. Vibrava por todos. Queria sempre o nosso bem. Ela sempre estava envolvida em trilhas, em projetos, sonhos. É inacreditável", lamentou.

Mãe e religiosa

Malu, que não tinha informações sobre relacionamentos amorosos em suas redes públicas, deixa uma filha de 12 anos.

Para além das trilhas, que eram assunto dominante em seus perfis ao lado da maternidade, ela também compartilhava frequentemente textos ligados à fé católica. O Papa Francisco é autor do último das últimas postagens de Maria ligadas ao assunto, feito em 2020.

"Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta, gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos: 'Acorda, Senhor'".

Itamaraty

Procurada pelo UOL, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que a Embaixada do Brasil em Lima acompanha o caso e presta assistência à família.

"Em caso de falecimento de cidadão brasileiro no exterior, as repartições consulares brasileiras poderão prestar orientações gerais aos familiares, apoiar seus contatos com autoridades locais e cuidar da expedição de documentos, como o atestado consular de óbito. Não há previsão regulamentar e orçamentária para o pagamento do traslado com recursos públicos", informa.