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Shinzo Abe: o que é 'seita Moon', que virou império econômico anticomunista

Casamento coletivo da Igreja da Unificação - Reuters
Casamento coletivo da Igreja da Unificação Imagem: Reuters

Gabriel Dias

Colaboração para o UOL

27/09/2022 14h01

A "seita Moon" virou alvo da mídia japonesa depois que o ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe foi morto com tiros em julho deste ano, durante um comício. Segundo informações da polícia, o assassino, Tetsuya Yamagami, 41, planejou matar a político por "odiar" a Igreja da Unificação, nome oficial do polêmico movimento religioso, da qual ele acreditava que Abe fazia parte.

Para Yamagami, o grupo tirou importantes doações de sua mãe, o que colocou sua família em sérias dificuldades financeiras —a Igreja é acusada de exigir doações "excessivas" dos fiéis, usar táticas de recrutamento tortuoso e enganar aqueles que buscavam dinheiro ao fazer uma "lavagem cerebral".

Tomihiro Tanaka, presidente da filial japonesa do grupo, confirmou que a mãe do suspeito era membro da organização desde 1998 e estava em dificuldades financeiras desde 2002, embora afirme que "as doações são voluntárias" e que há uma campanha de ódio e intolerância religiosa contra o grupo.

Ele também disse que Abe "nunca" foi um de seus membros ou conselheiro. No entanto, desde que o político foi assassinado, o governo japonês enfrenta acusações de influência da seita Moon no alto escalão da administração pública a ponto de alguns meios de comunicação falarem de uma "crise do regime" e de protestos tomarem o polêmico funeral de chefe de estado feito ontem para Abe.

O atual primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, oscilando em popularidade, reorganizou seu governo e rompeu todos os vínculos com a igreja, em meio à controvérsia de que quase metade da sua equipe, bem como uma centena de parlamentares do partido no poder, o Partido Liberal Democrata (PLD, direita nacionalista), participaram de eventos organizados pela seita Moon e receberam dinheiro e ajuda em campanhas eleitorais.

O irmão de Shinzo Abe, Nobuo Kishi, substituído no cargo, oficialmente por motivos de saúde, revelou que membros da seita Moon serviram como voluntários em suas campanhas eleitorais.

A criação da seita

A organização foi criada por Sun Myung Moon (1920-2012), filho de agricultores do território da atual Coreia do Norte. Ele afirmava ter tido, aos 15 anos, uma visão em que Jesus lhe pedia continuar a sua missão no mundo, a fim de que a humanidade atingisse o estado de purificação e se livrasse do pecado.

Em 1954, ele fundou uma igreja em Seul e não tardou em adotar um viés político explicitamente anticomunista, o que lhe granjeou a simpatia do regime militar da Coreia do Sul, visceralmente oposto ao regime comunista do Norte.

Graças a esse viés, o novo líder religioso conseguiu acesso não só a políticos sul-coreanos, mas também a chefes de Estado estrangeiros —como o presidente norte-americano Richard Nixon, a quem prestou apoio durante o escândalo Watergate. Na França, nos anos 1980, a Igreja manteve vínculos com o movimento de extrema-direita Frente Nacional.

Foram as ligações com o alto escalão que ajudaram a organização se tornar um império econômico presente em vários setores (construção, alimentos, automóvel, turismo, mídia...), o que fez de seu fundador um bilionário.

Ele investiu no jornal Washington Times, no New Yorker Hotel, de Nova York, na Universidade Bridgeport, em Connecticut, além de hotel e montadora na Coreia do Norte, estação de esqui, time de futebol profissional e outros negócios na Coreia do Sul, e uma empresa de distribuição de frutos do mar que fornece sushi para restaurantes japoneses em todos os EUA.

Casamentos coletivos e influência no Brasil

O movimento, conhecido por suas cerimônias de casamento que reúnem milhares de casais, afirma que evangeliza em cerca de 200 países e reivindica três milhões de adeptos —um número exagerado de acordo com especialistas, porque a influência teria diminuído desde os anos 1980.

Os casamentos em massa, que ganharam fama nas décadas de 70 e 80, reúnem geralmente pessoas de diferentes países que não se conhecem. Era Moon que os unia por fotos e perfis parecidos, em uma tentativa de construir um mundo multicultural religiosa.

Agora, o grupo é controlado pela viúva de seu fundador, Hak Ja Han, sua segunda esposa, com quem teve cerca de dez filhos.

O reverendo, que morreu aos 92 anos, já havia deixado o comando diário das operações da igreja, que tem sede em Seul, para um de seus filhos, e a gerência do Tongil Group, para outro filho.

Fora de seu país de origem, a Igreja está presente principalmente nos Estados Unidos, no Japão, mas na América Latina, especialmente no Brasil. Moon mantinha uma escola para alunos do ensino infantil ao médio em Jardim, cidade de 24 mil habitantes no Brasil, em Mato Grosso do Sul.

Desde que começaram as denúncias no Japão, a Igreja da Unificação prometeu impedir doações "excessivas" e disse que "respeitaria a independência e o livre arbítrio dos fiéis".

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