Marido de chef síria some após deixar SP para atravessar fronteira dos EUA
O marido da chef de cozinha Razan Suliman, que faz sucesso em São Paulo, está desaparecido desde o início de agosto e a família segue sem notícias oficiais sobre o homem. Sírio naturalizado brasileiro, Mohamad Dahhan, 44, proprietário de um restaurante na capital paulista ao lado da esposa, sumiu ao tentar atravessar a fronteira do México com os Estados Unidos para reencontrar familiares e buscar trabalho. Informações que chegaram à família alegam que o corpo dele teria sido encontrado, mas ainda não há confirmação oficial ou documentos que comprovem a morte.
Fugindo da violência da guerra na Síria, o casal chegou em 2014 a São Paulo, apenas com a roupa do corpo e sem falar português. Com o apoio da comunidade muçulmana local, eles conseguiram se estabelecer na cidade e Razan ganhou fama comandando Razan Comida Árabe, restaurante da família.
No último sábado (24), uma organização mexicana que busca desaparecidos informou à família que Dahhan teria morrido no dia 4 de agosto. Hoje pela manhã, a chef afirmou ao UOL que a Interpol aponta que o corpo dele foi encontrado no Rio Grande, com indícios de afogamento, e encaminhado para o Texas. No entanto, as informações são desencontradas.
"O tempo todo da viagem ele me mandava mensagens. Antes de entrar no rio, ele me mandou mensagem para me tranquilizar. Isso foi no dia 4 [de agosto]. A partir daí, ele não respondeu mais", disse Razan.
As primeiras informações indicando a morte do Mohamad só chegaram à família graças ao esforço de um amigo do casal, o advogado Evandro Carlos Alves, que postou nas redes sociais um apelo a um grupo de buscas de pessoas desaparecidas do estado de Coahuila de Zaragoza, no México.
"Por favor, vocês podem anunciar o desaparecimento do meu amigo Mohamad Dahhan, em 4 de agosto, em Piedras Negras? Ele é refugiado sírio e naturalizado brasileiro. Ele estava tentando atravessar o Rio Grande, perto da ponte internacional para o Texas", escreveu Alves, em uma postagem no Twitter.
No mesmo dia, a Comissão de Buscas de Pessoas Desaparecidas do governo de Coahuila divulgou uma arte com a foto de Mohamad e uma lista com características físicas. No momento em que foi visto pela última vez, ele vestia calça jeans branca, camisa branca e tênis também na cor branca, além de portar uma bolsa preta de alça. A ficha avisava que ele era originário do Brasil.
"Fui eu que levei o Mohamad no consulado americano no Rio de Janeiro para tirar o visto, disse Anderson. "E também fui eu que registrei B.O. aqui no Brasil comunicando o seu desaparecimento e estou acompanhando o caso", declarou o advogado, lembrando que quem tiver informações que possam ajudar a resolver a situação, pode entrar em contato com ele pelo email alves.evandro_adv@hotmail.com".
O MRE (Ministério das Relações Exteriores), por meio do Consulado-Geral do Brasil em Houston, Texas, informou em nota que está à disposição para prestar a assistência cabível aos familiares do brasileiro naturalizado, conforme os tratados internacionais vigentes e a legislação local. A partir do Brasil, o contato pode ser realizado diretamente com a Divisão de Assistência Consular do Itamaraty em Brasília, pelo e-mail dac@itamaraty.gov.br.
"Em caso de falecimento de brasileiro nato ou naturalizado no exterior, os consulados brasileiros poderão prestar orientações gerais aos familiares, apoiar seus contatos com autoridades locais e cuidar da expedição de documentos, como o atestado consular de óbito. Não há previsão regulamentar e orçamentária para o pagamento do traslado com recursos públicos", informa o consulado.
Comunicado não oficial
Em uma mensagem de WhatsApp enviada a Evandro, a informação era a de que o homem foi enterrado sem autorização da família: "O corpo está em Maverick County Cemetery, no cemitério do Condado de Maverick, em Eagle Pass, lote número 9. O corpo foi recuperado no Rio Grande, perto do Shelbe Park em Eagle Pass".
Até o momento, no entanto, não houve confirmação oficial da morte e o governo do Texas não emitiu atestado de óbito.
"Tem algumas coisas que não batem. O GPS do celular dele mostra que ele já teria atravessado o rio e estaria já em território americano, em Eagle Pass, e não no Rio Grande, como informaram. Além disso, ele levava consigo o passaporte brasileiro, mas [o corpo] foi encontrado apenas com uma identificação da Síria", afirma Evandro.
Por enquanto, segundo o consulado do Brasil em Houston, não é possível confirmar a morte. Há todo um trâmite burocrático nesses casos.
O cônsul-geral do Brasil em Huston, Felipe Costi Santarosa, informou que o Setor de Assistência a Brasileiros do consulado está em contato com Razan e tem buscado auxiliá-la na busca pelo corpo de seu marido. "O problema, até o momento, tem sido a falta de registro das autoridades norte-americanas a respeito do paradeiro do corpo. Já foram solicitadas informações a representantes do "Customs and Border Protection" (CBP) em El Paso e em Del Río (este último com jurisdição sobre a área de fronteira com Piedras Negras) sem que até o momento tenha sido possível localizar o corpo. Também foi feito contato com a casa funerária de Eagle Pass, na região de Del Rio, que afirmou tampouco ter registro do corpo de Mohamad Dahan".
Dificuldades em São Paulo
Segundo amigos do casal, a vida estava difícil no Brasil para o casal. O pequeno restaurante que eles mantinham no bairro do Ipiranga, em São Paulo, aberto cerca de um ano após eles terem chegado ao país, enfrentava dificuldades com a queda no movimento provocado pela pandemia.
Razan confirmou as dificuldades financeiras que a família vem enfrentando, em uma situação tão difícil que encorajou Mohamad a tentar encontrar com parentes que moram nos EUA, para conseguir trabalho.
Ele procurou todas as maneiras legais de conseguir o visto para os EUA. Buscou o consulado dos EUA no Brasil no Rio de Janeiro, a embaixada do Líbano, órgãos do governo brasileiro. Mas não adiantou nada, negaram de todas as maneiras. E aí o desespero fez com que ele fosse tentar atravessar dessa forma, pelo atravessando o rio.
O UOL entrou em contato com o Itamaraty e com a Embaixada dos EUA no Brasil, mas, até o momento, os órgãos diplomáticos não responderam às mensagens.
'Quero o corpo dele de volta'
Além de dever para fornecedores, a família não está conseguindo bancar o aluguel da casa onde mora e mantém o restaurante. As mensalidades da escola do filho mais velho do casal, Adam, estão atrasadas há três meses.
Não sei mais a quem pedir ajuda, estou sem marido, sem chão. Estou sozinha com três crianças pequenas e não sei o que fazer. Hoje recebi uma ligação da Interpol informando que o corpo dele está mesmo no Texas. Mas sem um documento comprovando a morte, não consigo fazer nada. Eu quero o corpo do meu marido de volta. Meus filhos choram o dia inteiro, estou entrando em desespero.
Razan, chef de cozinha e esposa de Mohamad
A chef afirma que não está sequer conseguindo cozinhar. "Se alguém puder nos ajudar nesse momento difícil, ficarei eternamente grata. Meu Pix é o número do meu CPF: 23733793846. Qualquer ajuda será bem-vinda", afirmou ela.
Desde o dia 24, o restaurante Razan Comida Árabe está fechado. Segundo um comunicado postado no Instagram, a casa só retomará as atividades normais no dia 30. Nos comentários, amigos e clientes se solidarizaram com a morte do chefe da família.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.