Putin nomeia 'General Armagedon' enquanto Ucrânia fica no escuro
Após sofrer derrotas em territórios ocupados, o presidente russo, Vladimir Putin, nomeou um general linha-dura para comandar os novos ataques à Ucrânia, agora centrados na infraestrutura civil do país. Enquanto Sergei Surovikin, apelidado de "General Armagedon", assume (conheça o general ao longo do texto), cidades ucranianas inteiras vão ficando no escuro.
Fortemente abastecida com armamento americano e europeu, a Ucrânia não apenas resistia à investida russa, como impunha revezes a Putin. O maior deles ocorreu no sábado (8), quando uma explosão destruiu uma ponte na Crimeia, uma obra russa simbólica, inaugurada em 2018, que ligava a península anexada em 2014 ao território russo.
A resposta de Putin veio dois dias depois, com um dos ataques mais incisivos desde 24 de fevereiro, início da guerra: Pelo menos 19 pessoas morreram e 105 ficaram feridas em bombardeios ocorridos ontem, com mísseis, segundo dados de hoje do Serviço de Emergência de Estado da Ucrânia.
Cidades no escuro. A novidade na estratégia foram os alvos, agora a infraestrutura civil. Segundo a Ucrânia, os mísseis miraram 12 regiões do país, incluindo 11 centros urbanos, como Kiev, Kharkiv e Lviv. Os russos afirmam ter atingido o sistema energético ucraniano, deixando total ou parcialmente sem água e energia 15 das 24 regiões da Ucrânia.
No início da manhã de hoje, algumas áreas nas regiões de Kiev, Lviv, Sumy, Ternopil e Khmelnytsky permaneciam sem energia, disseram os serviços de emergência locais. A população foi aconselhada a não sair de abrigos e a não ignorar as sirenes de ataque aéreo.
A cidade de Zaporizhzhya, no sul, também foi bombardeada durante a noite por 12 mísseis, resultando em uma morte e mais prédios danificados, incluindo uma escola.
Hoje, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou que suas forças lançaram novos ataques a "bases terrestres, marítimas, contra instalações militares e de energia na Ucrânia".
Quem é o "General Armagedon"? A mudança de estratégia aconteceu já no sábado, após a explosão da ponte da Crimeia e depois de Kiev reconquistar territórios perdidos para a Rússia no nordeste e sul do país. Naquele dia, Putin demitiu dois altos comandantes militares e convocou o temido Sergei Surovikin: o "General Armagedon".
Descrito como "absolutamente implacável, com pouca consideração pela vida humana", o novo comandante da guerra em solo ucraniano é reconhecido justamente por não poupar infraestrutura civil em ataques.
É o que diz um relatório de 2020 da ONG Human Rights Watch sobre o papel de Surovikin na Guerra Síria (2015 - presente), quando, "em defesa dos interesses de Moscou", ataques aéreos atingiram "casas, escolas, instalações de saúde e mercados sírios —onde as pessoas vivem, trabalham e estudam".
Já na manhã de ontem, Surovikin replicou as diretrizes de sua cartilha usada na Síria e mirou foguetes contra alvos civis em toda a Ucrânia, incluindo um entroncamento rodoviário próximo a uma universidade e a um parque infantil.
Ficou conhecido em 1991. Surovikin ficou nacionalmente conhecido durante a tentativa de golpe de estado lançada por soviéticos em 1991, quando liderou uma divisão de fuzileiros que avançou contra manifestantes pró-democracia, deixando três mortos.
Mas foi em 2004 que sua temida reputação cresceu. Naquele ano, a mídia russa divulgou que um coronel sob seu comando cometeu suicídio depois de uma reprimenda de Surovikin. Desde então, ganhou o apelido de "General Armagedon", o que só foi reforçado por sua liderança na Síria.
"Não estou surpreso ao ver o que aconteceu", afirmou um ex-funcionário do Ministério da Defesa ao jornal britânico The Guardian. "Surovikin é absolutamente implacável, com pouca consideração pela vida humana. Temo que suas mãos fiquem completamente cobertas de sangue ucraniano."
Ao jornal, especialistas afirmam que o principal desafio de Surovikin será resolver os problemas estruturais do exército russo, que enfrenta forte contraofensiva ucraniana.
Gleb Irisov, um ex-tenente da Força Aérea que trabalhou com Surovikin até 2020, disse que o novo general é um dos poucos militares que "sabe como supervisionar e otimizar diferentes ramos do Exército".
"Mas ele não será capaz de resolver todos os problemas. A Rússia está com falta de armas e mão de obra", disse ao jornal.
Mundo pede calma
Após o ataque russo, líderes ocidentais pediram comedimento. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, condenou o bombardeio de civis e prometeu seguir fornecendo defesa antiaérea ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
António Guterres, secretário-geral da ONU, criticou o que chamou de "escalada inaceitável" e até a China, principal alidada da Rússia, pediu para que russos e ucranianos evitem a escalada da guerra.
A retaliação russa não se deve apenas à destruição da ponte da Crimeia. Moscou sofreu derrotas em territórios ocupados em Kharkiv, Kherson e Donetsk. As duas últimas regiões, assim como Zaporijia e Lugansk, foram anexadas por Putin por meio de um decreto contestado pela comunidade internacional.
*Com CNN, BBC, The Guardian e agências
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