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Existe um túmulo de Jesus no Japão? O que sabemos do suposto irmão Isukiri

O túmulo que seria de Jesus Cristo fica na vilarejo japonês de Shingo - Thor Hestnes/creativecommons.org/licenses/by/3.0/deed.en
O túmulo que seria de Jesus Cristo fica na vilarejo japonês de Shingo Imagem: Thor Hestnes/creativecommons.org/licenses/by/3.0/deed.en

Rafael Souza

Colaboração para o UOL

01/12/2022 04h00

Um Jesus que morou e morreu no Japão. Essa é uma história muito presente em relatos dos moradores do povoado de Shingo, a 650 km de Tóquio —que antes era conhecido como 'Herai'. A prova do túmulo seria um documento achado no início do século 20 que descreve alguém que pregou em Jerusalém, mas não morreu crucificado e depois se exilou em um povoado do país asiático.

Herai é uma palavra mais próxima ao hebraico do que o japonês. Pela pronúncia, pode estar associada a 'hebraico' ou simplesmente 'montanha'.

O tal 'túmulo de Jesus', de fato, se encontra no alto de uma região montanhosa do Japão, mas as 'coincidências' entre o Jesus bíblico e o Japão param por aí.

Diversas evidências apontam que a história de um Jesus 'japonês' não passa de uma lenda que hoje é usada para atrair turistas.

A origem de tudo

A história teria começado nos chamados 'documentos Takenouchi', com mais de mil anos, que contam diversas histórias meio 'fantasiosas', como a história de Jesus no Japão e ancestrais humanos que "chegaram do espaço sideral".

Esses documentos foram encontrados no início do século 20 e posteriormente guardados em um museu, em Tóquio. Mas, durante a 2ª Guerra Mundial, os papéis originais foram destruídos durante os bombardeios.

Os moradores dizem, porém, que a família Takenouchi fez cópias do documento, que foi traduzido.

"Por volta de 1935, chegou à região Kiyomaro Takenouchi, um religioso que leu documentos mais tarde conhecidos como Os Livros Takenouchi, que indicavam que Cristo foi enterrado no Japão", escreveu o jornalista Winifred Bird à BBC, em 2019.

E o que dizem os documentos?

Antes de iniciar suas pregações, Jesus teria decidido, aos 21 anos, fazer uma longa viagem até o Japão para adquirir conhecimentos divinos. Por lá, viveu até os 30 anos e então retornou a Jerusalém para iniciar sua jornada junto com seu irmão mais novo, Isukiri.

Assim como no relato bíblico, os documentos Takenouchi dizem que, aos 33 anos, Jesus foi perseguido por sua fé e condenado à crucificação. Porém, quem morreu foi Isukiri, que se ofereceu à morte pelo irmão mais velho.

Após a morte de Isukiri, Jesus teria decidido voltar ao Japão a pé e passou até mesmo pela Sibéria até chegar a Shingo. No caminho, ele carregou uma orelha decepada de seu irmão e um cacho dos cabelos de sua mãe, Maria.

Em Shingo, ele ficou conhecido como Daitenku Taro Jurai e viveu como agricultor, casou com a filha de um fazendeiro, teve três filhas e morreu aos 106 anos de causas naturais.

Ao lado do 'túmulo de Jesus' estariam, também, a orelha de Isukiri e o cabelo de Maria.

Se não é Jesus, então quem está enterrado lá?

É mais provável que os túmulos sejam de antigos missionários cristãos que estiveram no Japão durante o século 16, pois na região há outros túmulos de missionários.

Inclusive, é possível que os contos sobre o 'Jesus Japonês' tenham se iniciado desses missionários, como forma de pregação aos moradores ou mesmo por uma mistura do relato bíblico com o folclore local.

Vale destacar ainda que nem mesmo os moradores são unânimes em acreditar na história do 'túmulo de Jesus'. Pelo relato dos documentos Takenouchis, a família dos Sawaguchis, fazendeiros de arroz da região, seriam descendentes diretos de Jesus. Porém, não há nenhum deles que ao menos seja cristão.

Túmulo como atração turística

Fato é que, atualmente, o 'túmulo de Jesus' é usado como turismo à região de Shingo, que fica bem afastada dos locais onde estão os principais atrativos procurados pelos turistas no Japão, e até mesmo de Tóquio.

O local já recebeu até mesmo a visita do então embaixador israelense no Japão, Eli Cohen, que esteve no local em 2004. Mesmo sem endossar a suposta história sobre a vida de Jesus em Shingo, ele deixou uma placa oficializando a amizade entre o local e Jerusalém.