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Descoberta de DNA revela ecossistema 'perdido' de 2 milhões de anos

No ecossistema antigo havia mamíferos semelhantes a elefantes, conhecidos como mastodontes,  - Divulgação
No ecossistema antigo havia mamíferos semelhantes a elefantes, conhecidos como mastodontes, Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL, de Salvador

09/12/2022 07h37

Um núcleo de sedimentos da era do gelo do norte da Groenlândia produziu as sequências de DNA mais antigas do mundo. As amostras, estimadas em 2 milhões de anos de idade, revelam que o que agora é uma região polar sem vida já foi a casa de plantas ricas e vida animal, incluindo mamíferos, de acordo com uma pesquisa publicada na revista Nature na quarta-feira (7).

A mistura da vegetação temperada com as fauna e flora do Ártico indicam a existência de um ecossistema que não tem equivalência com nenhum dos modernos e poderia servir de roteiro genético de como diferentes espécies podem se adaptar a um clima mais quente.

No ecossistema antigo havia mamíferos semelhantes a elefantes, conhecidos como mastodontes, além de lebres, renas, gansos e bétulas. A descoberta, feita por cientistas na Dinamarca, torna possível detectar e recuperar o DNA do ambiente em pequenos pedaços de sedimentos retirados da foz de um fiorde no Oceano Ártico, a Formação København, durante uma expedição de 2006.

Os cientistas compararam os fragmentos de DNA com bancos de DNA coletados de animais, plantas e microrganismos extintos e que ainda vivem. O material genético revelou várias plantas e criaturas que ainda não tinham sido detectadas no site.

"A primeira coisa que nos impressionou quando olhamos para esses dados é obviamente este mastodonte e a presença dele tão ao norte, muito ao norte do que conhecíamos como sua distribuição natural", disse o coautor do estudo Mikkel Pedersen, um professor assistente do Centro de Geogenética da Fundação Lundbeck da Universidade de Copenhague, em uma entrevista coletiva.

Ecossistema

O DNA do ambiente é o que possibilita aos estudiosos construírem uma ideia desse ecossistema. A comunidade ecológica que os pesquisadores reconstruíram existia quando as temperaturas seriam entre 10 e 17 graus Celsius mais quentes do que a Groenlândia é hoje, segundo o professor Eske Willerslev, membro do St John's College da Universidade de Cambridge e diretor do Lundbeck Foundation GeoGenetics Centre.

"Apenas alguns fósseis de plantas e animais foram encontrados na região. Foi emocionante ver aquele ecossistema muito, muito diferente. As pessoas sabiam por macrofósseis que havia árvores, algum tipo de floresta lá em cima, mas o DNA nos permitiu identificar muito mais táxons (tipos de organismos vivos)", disse Willerslev, que liderou a pesquisa.

Os cientistas ficaram surpresos ao descobrir que cedros - tipos de árvores - semelhantes aos encontrados hoje no Reino Unido teriam crescido no Ártico ao lado de espécies como o lariço, que agora crescem nas regiões mais setentrionais do planeta. Não foram encontrados DNA de carnívoros, mas eles acreditam que predadores - como ursos, lobos ou até mesmo tigres-dentes-de-sabre - deveriam estar presentes no ecossistema.

Love Dalen, professor do Centro de Paleogenética da Universidade de Estocolmo, que trabalhou na pesquisa de DNA de dente de mamute, mas não esteve envolvido neste estudo, disse que a descoberta inovadora realmente "empurrou os limites" para o campo do DNA antigo.

"Este é um artigo realmente incrível! Ele pode nos dizer sobre a composição dos ecossistemas em diferentes pontos no tempo, o que é realmente importante para entender como as mudanças climáticas do passado afetaram a biodiversidade. Isso é algo que o DNA animal não pode fazer."

"Além disso, as descobertas de que várias espécies temperadas (como parentes do abeto e do mastodonte) viveram em latitudes tão altas são excepcionalmente interessantes", acrescentou.

Mudança climática?

Willerslev disse que o estudo de 16 anos foi o projeto mais longo desse tipo em que ele e a maioria de sua equipe de pesquisadores já estiveram envolvidos.

Um estudo mais aprofundado do DNA ambiental desse período pode ajudar os cientistas a entender como vários organismos podem se adaptar às mudanças climáticas.

"É um clima que esperamos enfrentar na Terra devido ao aquecimento global e nos dá uma ideia de como a natureza responderá ao aumento das temperaturas", explicou.

"Se conseguirmos ler isto corretamente, ele realmente contém a chave de como os organismos podem (se adaptar) e como podemos ajudar os organismos a se adaptarem a um clima em rápida mudança."