Dólares no banheiro, cunhada presa: o que pesa contra Castillo no Peru
Destituído anteontem da Presidência do Peru e preso depois de tentar fechar o Congresso, Pedro Castillo Terrones, 53, sofreu uma devassa do Ministério Público peruano desde que chegou ao poder, em 2021.
As seis investigações preliminares das quais é alvo não pouparam nem mesmo alguns membros de sua família, como a irmã, dois sobrinhos e a cunhada. As apurações de seu envolvimento em uma suposta organização criminosa resultou até no flagra de um ex-ministro com dinheiro escondido no banheiro.
As apurações são conduzidas pela procuradora-geral da Nação, Patricia Benavides, que acusa Castillo de liderar uma rede criminosa "entrincheirada no governo com o objetivo de apoderar-se, controlar e dirigir processos de contratação para obtenção de lucros ilícitos".
O que diz o presidente deposto?
- Castillo nega o envolvimento de sua família nos crimes e afirma ser vítima de uma campanha para "destituí-lo do poder".
- Ele alega que a investigação é "a execução de uma nova forma de golpe de Estado" no país.
Dólares no banheiro de gabinete de aliado de Castillo. Já na mira do Ministério Público, o Palácio do Governo foi surpreendido pela visita de investigadores em novembro do ano passado.
O alvo era o gabinete do secretário presidencial Bruno Pacheco, próximo a Castillo.
Pacheco apresentou documentos e permitiu que vasculhassem seu escritório. Suspeito de beneficiar empresas simpáticas ao governo, o secretário também teria pedido a promoção irregular de membros das Forças Armadas em outra investigação contra o ex-presidente.
A maior surpresa do MP foi encontrar 20 mil dólares escondidos no banheiro do gabinete de Pacheco. Ele afirmou que o dinheiro era parte de suas economias pessoais e do salário.
Ao saber da novidade, a deputada Patrícia Chirinos, que buscava assinaturas para destituir Castillo, logo tuitou:
"Urgente. Durante a incursão da Promotoria ao Palácio do Governo, foram encontrados 20 mil dólares em espécie do secretário do presidente Pedro Castillo. Por que não foi pedida a prisão preventiva de Bruno Pacheco? Eles queriam provas, aqui está."
E a família do ex-presidente?
Buscas na casa da irmã de Castillo. Em outubro o MP realizou diversas buscas em residências relacionadas à suposta organização criminosa, incluindo a casa da irmã do presidente, Gloria Castillo Terrones, em San Juan de Lurigancho, um bairro populoso da capital, Lima.
A procuradora afirmou que os investigadores encontraram "indícios muito graves e reveladores" da alegada existência da rede criminosa, mas até hoje não informou quais.
No Twitter, o então presidente protestou: "O Ministério Público entrou na casa da minha irmã. Minha mãe está lá. Esse ato abusivo afetou a saúde dela. Responsabilizo o Ministério Público Nacional pela saúde de minha mãe", escreveu.
Sobrinhos do presidente deposto fugiram. Acusados de lucrar com a concessão do projeto de uma ponte no norte do Peru, dois sobrinhos do presidente, Fray Vásquez Castillo e Gian Marco Castillo Gómez, foram alvo de busca e apreensão em maio, quando fugiram. Eles fariam parte do braço da quadrilha no Ministério dos Transportes, um dos principais alvos das investigações.
Segundo a Promotoria, Castillo e seu ex-ministro dos Transportes, Juan Silva (também foragido), favoreceram empresários na concessão de contratos públicos em troca de pagamentos irregulares.
Cunhada presa. A rede supostamente liderada por Castillo teria buscado lucrar com contratos públicos do Ministério da Habitação em sua província natal, Chota. O caso terminou com a prisão de sua cunhada, Yenifer Paredes, em agosto. Ela foi flagrada em uma gravação transmitida por um programa de televisão gerenciando obras de saneamento ao lado de um empresário local.
Lilia Paredes, primeira-dama peruana, e dois de seus irmãos, Walter e David, também estão sendo investigados no mesmo processo. A Procuradoria pediu à Justiça que proíba a saída deles do país por três anos.
Conheça as seis investigações preliminares a que Castillo responde:
Ocultação de pessoas. Em julho, a procuradora abriu uma investigação contra Castillo pelo suposto crime de ocultação de pessoas procuradas pela Justiça. Benavides Vargas acusa o ex-presidente de mudar as funções dos membros das equipes que fariam as buscas contra foragidos ligados a ele.
Tráfico de Influência. Em seguida, Benavides Vargas reativou investigações por suposto crime contra a administração pública e tráfico de influência na compra de biodiesel em favor da empresa Heaven Petroleum Operators S.A.
Licitação fraudulenta. O ex-presidente é suspeito de liderar uma organização criminosa que facilitou uma licitação vencida pelo Consórcio Puente Tarata III, no coração do Ministério dos Transportes. Além dos sobrinhos de Castillo, fazem parte das investigações o ex-ministro dos Transportes e Comunicações, Juan Silva Villegas; o ex-secretário do Palácio, Bruno Pacheco Castillo; e o empresário Zamir Villaverde García.
Nomeações irregulares. Castillo também é acusado de realizar promoções irregulares de militares nas Forças Armadas e oficiais na Polícia Nacional do Peru.
Crime contra a ordem pública. O ex-presidente teria incorrido em crime contra a ordem pública, sob a forma de "organização criminosa". Castillo seria o "líder da rede" que teria coordenado a transferência de obras públicas a construtoras supostamente ligadas ao presidente.
Plágio em dissertação de mestrado. A investigação foi aberta por suposto plágio na dissertação de mestrado que Pedro Castillo e sua esposa, Lilia Paredes, apresentaram juntos em 2012 na Universidade César Vallejo.
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