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Pai segura mão de filha morta enquanto aguarda resgate na Turquia

07.fev.23 - Mesut Hancer segura a mão de sua filha Irmak, de 15 anos, que morreu no terremoto em Kahramanmaras, perto do epicentro do terremoto, um dia depois que um terremoto de magnitude 7,8 atingiu o sudeste do país - ADEM ALTAN/AFP
07.fev.23 - Mesut Hancer segura a mão de sua filha Irmak, de 15 anos, que morreu no terremoto em Kahramanmaras, perto do epicentro do terremoto, um dia depois que um terremoto de magnitude 7,8 atingiu o sudeste do país Imagem: ADEM ALTAN/AFP

Do UOL, com agências internacionais

08/02/2023 08h42Atualizada em 08/02/2023 09h44

Mesut Hancer foi fotografado segurando a mão de sua filha morta, Irmak, de 15 anos, enquanto aguarda o resgate na cidade de Kahramanmaras, o epicentro do terremoto na Turquia.

Nas ruas, os sobreviventes esperam ao lado dos corpos de seus entes queridos, enrolados em uma manta. Ninguém aparece para buscá-los nem enviou suprimentos a Kahramanmaras até o fim de terça-feira (7).

O terremoto deixou pelo menos 11.200 mortos na Turquia e na Síria. Moradores ainda têm esperança de resgatar familiares soterrados, mas relatam falta de assistência do governo.

Ali Sagiroglu espera há dois dias por ajuda para resgatar seu irmão e seu sobrinho, presos nos escombros de seu prédio.

Onde está o Estado? Onde estão? Olhe ao seu redor. Não tem um único funcionário, pelo amor de Deus. Já se passaram dois dias, e não vimos ninguém. Não trouxeram nem um único tijolo. As crianças morreram congeladas.
Ali Sagiroglu em entrevista à AFP

Os oito prédios do conjunto Ebrar, no centro da cidade, desabaram sobre si mesmos. Eram 4 da madrugada, e poucos dos que dormiam conseguiram sair a tempo de seus apartamentos, cerca de dez para cada prédio.

Na noite de ontem, a primeira após a catástrofe, uma nevasca misturada com chuva torrencial envolveu os sobreviventes em um frio úmido. Sem nem mesmo uma barraca para se abrigar, quem tinha carro pernoitou no veículo, enquanto outros se amontoavam em torno de braseiros na rua.

"Ontem de manhã você ainda podia ouvir as vozes pedindo ajuda nos escombros, mas elas se calaram. As pessoas provavelmente morreram congeladas", disse um homem de 40 anos que procurou ajuda e pediu para não ser identificado.

Segundo ele, pelo menos 150 pessoas ficaram presas em cada prédio do conjunto de Ebrar.

Na casa de Cuma Yildiz, há raiva e tristeza ao mesmo tempo.

"Onde eles estão? Falam, falam, brigam feito cães, mas onde estão agora?", questiona, chorando.

Na tentativa de desmentir as queixas da população, o ministro do Interior, Suleyman Soylu, visitou Kahramanmaras na terça-feira (7) e afirmou que, até agora, 2 mil socorristas foram mobilizados para as áreas afetadas.

07.fev.23 - Equipes de resgate e civis procuram sobreviventes sob os escombros de prédios desabados em Kahramanmaras, no sul da Turquia, um dia depois que um terremoto de magnitude 7,8 atingiu o sudeste do país - ADEM ALTAN/AFP - ADEM ALTAN/AFP
07.fev.23 - Equipes de resgate e civis procuram sobreviventes sob os escombros de prédios desabados em Kahramanmaras, no sul da Turquia, um dia depois que um terremoto de magnitude 7,8 atingiu o sudeste do país
Imagem: ADEM ALTAN/AFP

Em Antioquia, bem mais ao sul, os sobreviventes se encontram no mesmo estado de abandono.

Onur Kayai, de 40 anos, passa em frente a seu prédio em ruínas, suplicando por ajuda para sua mãe e seu irmão. Tentou libertá-los, com suas próprias mãos, várias vezes.

"Já movi três pedras sobre a cabeça do meu irmão, mas é muito difícil. A voz da minha mãe ainda é clara, mas não ouço mais a do meu irmão", lamenta.

Sem ajuda, sem comida e sem comunicação, a população é obrigada a se virar sozinha.

A professora de jardim de infância Semire Coban, de 45 anos, corre desesperada em direção às duas equipes de resgate locais que ela encontrou. Três de seus parentes, incluindo um sobrinho, estão enterrados.

"Preferem se concentrar nos lugares onde ainda se ouvem vozes entre as ruínas", diz.

A família de Semire não responde mais.

*Com informações de AFP