Argentino Javier Milei é exótico para direita e preocupa esquerda no Brasil

Javier Milei, candidato à presidência da Argentina que aparece na liderança em grande parte das pesquisas eleitorais, é visto no Brasil como dono de um "jeitão exótico" pela direita e gera "grande preocupação" entre os progressistas. O primeiro turno das eleições no país vizinho ocorre amanhã.

O que aconteceu

"Aquilo lá não é teatro", diz bolsonarista. De acordo com um deputado federal ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o argentino tem "personalidade forte" e "ideias bem fundamentadas". O político brasileiro esteve com Milei em junho de 2022, na Conferência Ação Política Conservadora em Campinas (SP).

"Jeitão exótico" pode gerar "voto envergonhado". O parlamentar bolsonarista vê semelhanças entre o clima hoje na Argentina e o do Brasil em 2018. Segundo ele, Milei pode até levar no primeiro turno, caso Patricia Bullrich não receba muitos votos. Mas o mais provável é que isso não aconteça — por conta da "força do peronismo".

A vitória de Milei representaria esperança para a direita na América Latina. Hoje, só Paraguai e Uruguai têm governos que não são entendidos como de esquerda pelos bolsonaristas. "Se o Trump ganha nos EUA em 2024, melhor ainda", disse o deputado.

Eventual vitória de Milei preocupa PT e PSOL

O PT mandou uma equipe a Buenos Aires para acompanhar eleição. Segundo deputada federal do partido, a ideia é monitorar os desdobramentos e tentar ajudar a replicar estratégias que tiveram sucesso no Brasil em 2022. O presidente Lula (PT) tem uma relação de proximidade com Cristina Kirchner e outras lideranças peronistas.

Vemos com grande preocupação a ascensão da candidatura de Javier Milei, que expressa o projeto político ultraliberal da extrema direita. Tivemos no Brasil experiência similar com Bolsonaro e vimos o quão desastrosa ela foi
Paula Coradi, presidente do PSOL

"Não se transpõem para as relações internacionais as questões internas", disse Fernando Haddad (PT). Em entrevista à Reuters, o ministro da Fazenda manifestou preocupação com Milei, que já disse que pretende limitar o comércio com o Brasil e chamou Lula de "comunista raivoso".

Milei ganhou fama de "Bolsonaro argentino" por postura. O economista de 52 anos é deputado federal e ficou conhecido ao chamar uma jornalista de "burra" em 2018. Ele se define como um "anarcocapitalista" e quer transformar o dólar em moeda oficial da Argentina se for eleito — entre outras medidas polêmicas.

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Ministros de ex-presidente e do atual também estão na disputa. Patricia Bullrich tocou a pasta da Segurança durante o governo de Maurício Macri, entre 2015 e 2019. Já Sergio Massa tem 51 anos e é ministro da Economia do atual presidente Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como sua vice.

SP, RJ e Porto Alegre concentram eleitores no Brasil

São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre são as cidades brasileiras com o maior número de eleitores aptos a votar nas eleições argentinas. Só em São Paulo, há 10 mil pessoas que podem votar. Além disso, há quase 4 mil eleitores no Rio e mais de 2 mil em Porto Alegre.

Cerca de 22 mil argentinos estão cadastrados para votar no Brasil. Os eleitores que forem às urnas no Brasil no próximo domingo (22) precisam ter transferido o título até o último dia 25 de abril. Eles poderão escolher representantes para presidente, senador e deputado federal — entre outros cargos.

O segundo turno está marcado para 19 de novembro. Pela constituição argentina, os eleitores serão convocados a voltar às urnas se nenhum dos candidatos à presidência obtiver 45% dos votos válidos ou 40% dos votos válidos e 10 pontos percentuais de vantagem em relação ao segundo colocado.

As informações são da Câmara Nacional Eleitoral, órgão responsável pela organização das eleições.

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