Por que atirar pedras leva crianças palestinas à prisão e até à morte

A guerra entre Israel e o Hamas transformou a Faixa de Gaza em um "cemitério para crianças", segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). De acordo com autoridades de saúde do território, 5.000 crianças palestinas foram mortas desde o início dos ataques israelenses, em outubro.

Antes do início da guerra, porém, a ONG Human Rights Watch já apontava o aumento dos assassinatos de crianças palestinas por Israel, dessa vez na Cisjordânia. Segundo a organização, o ano de 2022 foi o mais letal para crianças na região em 15 anos —e 2023 provavelmente terá ainda mais mortes.

Parte dos casos ocorreu depois de crianças e adolescentes palestinos atirarem pedras, coquetéis Molotov e fogos de artifício contra veículos ou soldados das forças israelenses.

Embora estes objetos possam ferir gravemente ou matar, nestes casos, as forças israelenses dispararam repetidamente à altura do peito, atingindo várias crianças, e mataram crianças em situações em que não parecem representar uma ameaça de ferimentos graves ou de morte, o que é o padrão para o uso de força letal por agentes da lei de acordo com as normas internacionais.
Comunicado da ONG Human Rights Watch

Condenações por atirar pedras

Relatos de crianças e jovens palestinos presos ou mortos após atirarem pedras contra israelenses não são novos.

Em 2017, o jornal britânico Independent noticiou o caso de cinco adolescentes palestinos que receberam penas mais severas por atirar pedras do que um soldado israelense que matou um homem ferido.

O israelense foi condenado a 18 meses de prisão. Em 2015, o governo de Benjamin Netanyahu estabeleceu uma pena de cinco anos de prisão para quem atirar pedras, bombas incendiárias e explosivos que possam causar perigo a vidas humanas.

No ano seguinte, cinco jovens (que tinham entre 14 e 17 anos) foram condenadas a penas entre dois e três anos de reclusão por terem atirado pedras contra carros.

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Anos antes, em 2011, o jornal The Guardian noticiou que 800 crianças palestinas haviam sido processadas por terem atirado pedras na Cisjordânia. O número foi divulgado em um relatório do grupo israelense B'Tselem, de direitos humanos. Entre os condenados, 93% tiveram de cumprir penas de reclusão, incluindo crianças de 12 e 13 anos.

Por que os palestinos usam essa tática

Atirar pedras foi uma das táticas mais importantes usadas pelos palestinos durante a primeira Intifada, que foi de 1987 a 1993. Nesse período, os palestinos se revoltaram contra a ocupação de territórios por forças israelenses, incluindo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

O ato se tornou uma forma simbólica de desafiar e resistir aos israelenses. Crianças, adolescentes e homens adultos usam até estilingues para arremessar as pedras, com risco de morte a soldados inimigos.

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