França sofre revés, é obrigada a deixar Níger e vê poder diminuir na África

Estamos satisfeitos com o bom andamento da retirada, pois nenhum incidente grave foi registrado.
Tenente Salim Ibrahim

O Níger era um dos últimos aliados da França na região. O país africano sofreu um golpe de Estado em 26 de julho deste ano, aumentando a tensão entre os governos. Os generais nigerinos romperam os laços com vários parceiros ocidentais e se aproximaram da Rússia. Após um impasse de dois meses com as novas autoridades, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou a retirada das tropas.

Este é o terceiro golpe em menos de dois anos contra a presença de forças militares francesas na África, o revés mais sério para Macron no continente desde sua eleição em 2017.
Jornal francês Le Monde

As tropas estavam em local de grupos ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. A maior parte dos soldados foi posicionado na base aérea de Niamey, e a outra, ao lado das forças nigerianas, em dois postos na área da tríplice fronteira entre Mali, Níger e Burkina Faso, considerada um refúgio para grupos ligados aos grupos extremistas.

Ainda há cerca de mil soldados franceses na África. O grupo está no Chade, país vizinho ao Níger. Na capital do país, N'Djamena, há o centro de comando das operações francesas no Sahel. A França é criticada por ter reconhecido o governo de Mahamat Idriss Déby Itno, que chegou ao poder no Chade sem um processo constitucional.

Contexto

O então presidente François Hollande enviou tropas ao Mali em 2013 para ajudar a combater uma insurgência jihadista, uma operação que depois se estendeu a todo o Sahel e foi mudando.

Apesar dos sucessos militares, como o assassinato de vários líderes jihadistas, a democracia retrocedeu em vez de se desenvolver em uma região também marcada por uma enxurrada de desinformação que a França atribui à Rússia.

Para muitos observadores, Paris também não quis ver as mudanças em curso. "Há anos que vemos essa onda chegando. A França sentiu que estava perdendo o controle, mas permaneceu em negação e estupefação", segundo uma fonte diplomática francesa.

Mali, Burkina e Níger formaram uma aliança para combater os jihadistas, sem apoio do Ocidente.

Com esse último revés, a França vê sua influência e poder diminuírem na África Ocidental e, na África de maneira geral.
Jornal senegalês Walf Quotidien

Cenário internacional

Desde o golpe, governos se reaproximam do Níger na esperança de preencher vazio da França. Os EUA anunciaram que estavam prontos para retomar a cooperação com o Níger, desde que o regime militar se comprometesse com uma transição rápida. Os países da União Europeia também assinalaram interesses. O Ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, disse que a Alemanha estava "interessada em assumir projetos".

Estamos tentando entender a abordagem francesa. A França está se afastando do Sahel, mas precisamos ser capazes de encontrar um terreno comum e uma abordagem europeia para a região, em vez de cada lado falar por si.
Diplomata europeu no país

A França fechou sua embaixada no Níger. O governo continua a adotar uma postura firme, recusando-se a reconhecer a legitimidade das autoridades militares.

O presidente do Níger, Mohamed Bazoum, ainda continua sequestrado no palácio presidencial. Os militares ainda não decidiram oficialmente sobre a duração da transição, mas a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental abriu caminho para aliviar as sanções, condicionando-as a uma "transição curta" antes que os civis retornem ao poder.

*Com informações da AFP e RFI