Limusine de Putin e navio-fantasma: como Kim dribla sanção a itens de luxo
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, recebeu uma limusine de presente do presidente da Rússia, Vladimir Putin, na última semana. O envio do item viola a resolução 1.718 da ONU, que proíbe as exportações de produtos militares e bens de luxo ao país —mas os norte-coreanos já têm um histórico de contrabando deste tipo de item.
Sanções da ONU
As sanções foram aprovadas por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU em 2006, quando a Coreia do Norte realizou seu primeiro teste nuclear. Buscando impedir a realização de novos testes, as principais medidas são referentes à proibição da importação e exportação de alguns equipamentos de tecnologia, proibição da importação de carvão e embargo de armas.
No entanto, entre as sanções, a ONU também pediu que os países não vendessem aos norte-coreanos produtos de luxo, como carros.
Todos os Estados Membros devem proibir a aquisição à República Popular Democrática da Coreia de tais artigos pelos seus territórios ou através da utilização de navios ou aeronaves que arvorem o seu pavilhão, quer estes sejam ou não provenientes do território da República Popular Democrática da Coreia.
Trecho da resolução 1.718
Lista segue aumentando. Desde então, novas rodadas de resoluções —com novas sanções que tentam sufocar a economia norte-coreana— foram aprovadas pelo órgão.
País tem histórico de veículos contrabandeados
Kim Jong-un já possuía carros de luxo de fabricação estrangeira. Acredita-se, inclusive, que esses veículos tenham sido contrabandeados —também violando a já citada resolução da ONU.
De onde vêm os itens de luxo? Segundo o Centro de Estudos Avançados de Defesa, um grupo de Washington sem fins lucrativos que analisa contrabandos, de 2015 a 2017, cerca de 90 países serviram como fontes de bens de luxo para os norte-coreanos.
Em 2019, tentando solucionar este mistério, o The New York Times conseguiu traçar o caminho percorrido para que os carros chegassem até a Coreia do Norte. Segundo a publicação, a movimentação faz parte de um "sistema complexo de transferências portuárias, transporte marítimo secreto em alto mar e empresas de fachada obscuras".
Naquele ano, duas limusines blindadas usadas —uma Mercedes-Benz Maybach S62 e uma Maybach S600 Pullman Guard— foram levadas ao país em um roteiro muito incomum. A viagem mostra como funcionava uma das redes de transporte de bens de luxo.
Os carros em questão saíram da Holanda em dois contêineres em junho de 2018, a bordo de um navio cargueiro que ia para a China. Após 41 dias de viagem, os contêineres com os veículos foram descarregados e, em seguida, foram embarcados em um navio com destino a Osaka, no Japão. De lá, eles foram embarcados em outro navio, com destino a Busan, na Coreia do Sul, onde chegaram em 30 de setembro.
Então, começa a parte mais misteriosa da viagem. Lá, os carros foram para um navio cargueiro que navegava sob a bandeira do Togo e com destino ao porto de Nakhodka, no extremo leste da Rússia. A embarcação desligou seu transponder logo após a saída e reapareceu no mesmo ponto 18 dias depois —mas sem os carros e agora carregada apenas com carvão.
O "navio fantasma" partiu para a cidade russa de Vladivostok, onde, segundo a publicação, os carros foram retirados. A reportagem norte-americana informa ainda que as limusines podem ter ido de avião para a Coreia do Norte. Três cargueiros da Air Koryo, a estatal de aviação norte-coreana, pousaram em Vladivostok no mesmo período em que o navio ancorou em Nakhodka —as duas cidades são próximas.
*Com reportagem publicada em 17/07/2019
Deixe seu comentário