Quem é o ex-número 1 do xadrez que entrou na lista de terroristas de Putin
O ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, 60, foi incluído à lista de "terroristas e extremistas" de Putin, segundo informou a agência de notícias estatal RIA. A listagem impõe limites às transações bancárias dos indivíduos e os obriga a buscar aprovação sempre que quiserem usar suas contas.
Kasparov, uma das figuras mais renomadas do xadrez, fugiu da Rússia em 2013 por medo de perseguição e foi morar em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Diante da ofensiva, Kasparov classificou a situação como uma "honra" e aproveitou o momento para criticar o governo de Putin.
Uma honra que diz mais sobre o regime fascista de Putin do que sobre mim. Como disse Goldwater [ex-senador republicano dos EUA], o extremismo na defesa da liberdade não é um vício e a moderação na busca da justiça não é uma virtude! Mas toda oposição, ou simples decência, deve ser chamada de extremista pela ditadura.
Gary Kasparov no X (Antigo Twitter)
An honor that says more about Putin's fascist regime than about me. As Goldwater said, extremism in the defense of liberty is no vice and moderation in the pursuit of justice is no virtue! But all opposition, or simple decency, must be called an extremist by the dictatorship. https://t.co/OuN27A9InN
-- Garry Kasparov (@Kasparov63) March 6, 2024
Quem é Kasparov?
Kasparov nasceu na República Socialista Soviética do Azerbaijão, ainda na hoje extinta União Soviética. Ele começou a jogar xadrez ainda na infância, conquistando pódios na URSS aos 12 anos. Aos 17, tornou-se o campeão mundial sub-20.
Prodígio entre os adultos. Aos 22 anos ele já havia alcançado a fama internacional, ganhando o título do mais jovem campeão mundial de xadrez da história, em 1985.
Contato com a política. Em 2005, quando já tinha consolidado o reconhecimento como melhor jogador do mundo, Kasparov deixou o xadrez profissional para se juntar à vanguarda do movimento russo pró-democracia.
Morando nos Estados Unidos, ele é colaborador do The Wall Street Journal desde 1991 e comentarista regular de política e direitos humanos.
Ele foi nomeado presidente do conselho da Human Rights Foundation (Fundação de Direitos Humanos, em tradução livre), com sede em Nova Iorque.
Opositor de Putin
Kasparov já tentou concorrer às eleições presidenciais sendo opositor de Putin, em 2007. Apoiado pela coalizão "Outra Rússia", ele não pôde sequer se candidatar porque os opositores não conseguiram encontrar um local para apresentá-lo como candidato. Na época, uma porta-voz do movimento acusou o governo de pressionar os proprietários a não alugarem seus espaços para a coalização.
Ele enfrentou duas prisões após começar a se engajar na oposição contra Putin em 2007. Na primeira, ele foi um dos cerca de 200 manifestantes presos em protesto contra o governo, ficando aproximadamente dez horas sob custódia. O caso mais grave, no entanto, foi em novembro daquele ano. Kasparov foi preso e condenado a cinco dias de reclusão por organizar uma "manifestação irregular", resistir à prisão e cantar gritos contra o governo. O protesto em questão era pela democracia na Rússia.
Ele enfrentou processo por apoiar o grupo de punk rock Pussy Riot, engajado no direito das mulheres. Kasparov estava entre dezenas de ativistas detidos em agosto de 2012 onde as mulheres do grupo foram condenadas a dois anos de prisão após um protesto contra Putin na catedral de Cristo Salvador, em Moscou. Ele foi acusado de morder um policial ao ser abordado, o que poderia render-lhe até cinco anos de reclusão. No entanto, Kasparov conseguiu escapar da condenação.
Newsletter
DE OLHO NO MUNDO
Os principais acontecimentos internacionais e uma curadoria do melhor da imprensa mundial, de segunda a sexta no seu email.
Quero receberNo ano seguinte, ele deixou o país. Em uma entrevista coletiva nas Nações Unidas em Genebra, ele disse que tinha receio de retornar a Moscou.
Tenho sérias dúvidas de que, se regressar a Moscovo, possa viajar novamente. Por isso, por enquanto, evito retornar à Rússia.
Garry Kasparov, em 2013
*Com informações da AFP e Reuters
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.