Em reunião, Lula e Macron destoam sobre Mercosul-UE e Putin vira saia justa

O presidente Lula (PT) e o presidente francês Emmanuel Macron voltaram a discordar hoje (28) sobre a assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia e sobre a possível vinda do russo Vladimir Putin para o G20 no Rio de Janeiro.

O que aconteceu

Lula recebeu hoje Macron no Palácio do Planalto para reunião bilateral e assinatura de atos cooperação. Em entrevista à imprensa após o encontro, os dois falaram —e destoaram— sobre o pacto entre os blocos econômicos, sobre as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza e sobre as eleições da Venezuela.

O francês está no Brasil desde a última terça (26), quando encontrou com o presidente em Belém. Depois do evento no Planalto, eles foram almoçar juntos no Itamaraty e, no fim da tarde, Macron visitou o Congresso Nacional e se reuniu com o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

UE-Mercosul

O acordo de livre comércio está estacionado desde fevereiro, quando a Comissão da UE afirmou que o Mercosul "não atendeu condições para concluí-lo". O processo tem travado em especial pelas exigências sobre sustentabilidades impostas pelos europeus para a indústria e agricultura latino-americana.

Aliados, o pacto deixa Lula e Macron em lados opostos. O brasileiro tem sido um entusiasta do texto, que voltou a elogiar hoje, enquanto o francês já disse durante a estadia no Brasil considerá-lo "péssimo e atrasado".

Lula tem sido um dos maiores defensores do texto atual, que chamou hoje de "promissor". Ele prega que a assinatura faria aumentar o número de produtos e alimentos brasileiros na Europa.

Já Macron disse nesta quinta que seria "loucura" aprová-lo porque haveria a exportação de alimentos por produtores que não seguem as mesmas condições exigidas no continente europeu. Na última semana, agricultores franceses têm feito protestos pelo país contra a aprovação —e isso foi citado por Macron.

Nós, europeus, temos o texto mais exigente do mundo em relação a desmatamento e descarbonização. Pedimos aos nossos agricultores, industriais que façam transformações históricas. Mas se os nossos textos dizem [isso], vamos abrir para produtos que não respeitam estes acordos? Somos loucos? Não vai funcionar.
Emmanuel Macron, sobre o acordo

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Ele argumentou ainda que o acordo é antigo e desatualizado em questões de sustentabilidade. "Esse texto é de um acordo negociado e preparado 20 anos atrás. Estamos só fazendo pequenas alterações. Somos loucos continuando nessa lógica", disse, ao lado de Lula.

Ucrânia e Putin

O possível convite de Vladimir Putin para o G20, realizado no Rio de Janeiro em novembro, também criou uma saia justa entre os dois. Embora ambos tenham criticado a guerra da Ucrânia, Macron tem cobrado uma posição mais enérgica do brasileiro.

Questionado hoje pela imprensa o que acha sobre a ida do russo, Macron desconversou, mas não se mostrou muito entusiasmado. "O Lula sabe quem ele convida, é de sua responsabilidade. No G20, é tudo feito em comum acordo", disse o francês.

Lula evitou falar no assunto. Com boas relações com Putin, Lula tem aumentado o tom contra a Rússia, mas segue pedindo uma solução pelas duas partes. Em sua fala, ele voltou a pregar a paz, mas, depois de Macron, disse que estas cúpulas têm "a participação de muitos países com quem você não concorda, faz parte do processo democrático".

A gente não quer guerra. A gente tem que lutar muito contra a desigualdade... é tanta desigualdade que eu não tenho tempo de pensar em outra guerra. [...] Eu tenho muitas guerras nesse país, muitas guerras. E, agora, uma nova guerra para garantir o funcionamento das instituições democráticas e garantir a sobrevivência da democracia, contra o autoritarismo, o totalitarismo, a extrema-direita e a barbárie.
Lula, após fala de Macron sobre Putin

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A vinda poderia ainda acarretar uma sinuca de bico sobre a prisão de Putin. Em março do ano passado, o TPI (Tribunal Penal Internacional) emitiu uma ordem de prisão contra o russo, o que, na teoria, deveria ser respeitado pelo Brasil, que signatário da corte. Este foi o principal motivo para que o líder não tenha ido ao encontro dos Brics na África do Sul, por exemplo. Lula não tocou no tema.

Visita de Macron ao Brasil

Macron chegou a Belém na terça, na primeira visita ao país como chefe de Estado. Ele e Lula fizeram um passeio de barco pela baía de Guajará, formada pelos rios Guamá e Acará, com parada na Ilha do Combu, onde encontram lideranças indígenas.

Ontem, os dois foram ao Rio de Janeiro, para o lançamento da submarino Tonelero (S42), na Base Naval de Itaguaí (RJ). A embarcação é fruto do Programa de Desenvolvimento de Submarinos, firmado entre Brasil e França em 2008, no segundo mandato de Lula. O programa tem um orçamento total de R$ 40 bilhões.

Macron foi ainda para São Paulo para participar do Fórum Econômico Brasil-França com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Mais tarde, participa ainda de um jantar com "personalidades da cultura brasileira".

Os dois têm boa relação. Ambos se encontraram diversas vezes. O brasileiro visitou o palácio francês em 2021, ainda ex-presidente, e foi recebido como chefe de Estado. No ano passado, Lula já presidente, se reuniram na cúpula do G20, em Dubai; no G7, em Hiroshima; e na Cúpula de Paris.

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