Lula diz que situação na Venezuela é 'grave' e que acompanhará eleições
O presidente Lula (PT) afirmou hoje que a situação das eleições na Venezuela é "grave" e que o Brasil irá acompanhá-las de perto. As críticas estão em linha com nota do Itamaraty publicada na terça (26) que marcou uma mudança de tom em relação ao regime de Nicolás Maduro.
O que Lula disse
Na última semana, a oposição a Maduro denunciou problemas para registrar candidatura no país. A coalizão PUD (Plataforma Unitária Democrática) disse ter sido impedida de acessar o sistema para inscrever Corina Yoris, indicada por María Corina Machado. De última hora, outro nome da oposição (Manuel Rosales, ex-rival de Hugo Chávez) decidiu (e conseguiu) se inscrever para enfrentar Maduro nas urnas.
Lula disse que soube do impedimento com "surpresa" e que pediu pessoalmente a Maduro que o pleito seja democrático. "É grave que a candidata não possa ser candidata. Me parece que ela foi dirigida ao local e não conseguiu entrar", disse o presidente. O pleito está marcado para 28 de julho.
O impedimento é mais um capítulo na tumultuada pré-eleição venezuelana, que já teve a principal opositora presa. No início do mês, Lula pediu "presunção de inocência" de Maduro, mas, hoje, elogiou a oposição.
Não tem explicação jurídica, explicação política, você proibir um adversário de ser candidato. Aqui, é proibido proibir a não ser que tenha posição judicial. O Brasil vai tentar assistir essa eleição. Não quero nada melhor nem pior: quero que as eleições sejam feitas igual a gente faz no Brasil. Quem quiser participar participa.
Lula, sobre Venezuela
"Eu disse [ao Maduro] que a coisa mais importante para reconhecer a normalidade era não ter problema no processo eleitoral", disse Lula. Ele voltou a fazer um comparativo com sua situação em 2018, quando foi impedido de disputar o pleito em meio a investigações da Lava Jato, mas reforçou que, dessa vez, na Venezuela, não havia justificativa.
O Itamaraty já havia lançado uma nota que questionava o impedimento. O texto afirma que, "esgotado o prazo de registro de candidaturas para as eleições presidenciais venezuelana, na noite de ontem [25], o governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país".
No texto, o Itamaraty diz que o que ocorreu "não é compatível com os acordos de Barbados". "O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial", criticou o MRE brasileiro.
O posicionamento brasileiro revoltou Maduro, aliado histórico de Lula. Ontem (27), o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela divulgou uma nota-resposta que chama o texto do Itamaraty de "intervencionista" e "parece ter sido ditada" pelos Estados Unidos.
Visita de Macron ao Brasil
As falas se deram durante a visita do presidente francês Emmanuel Macron a Brasília. Lula recebeu o francês no Palácio do Planalto para reunião bilateral e assinatura de atos cooperação nesta manhã. Eles também almoçaram no Palácio Itamaraty.
Em coletiva após o encontro, Macron disse "apoiar tudo" o que Lula disse sobre a Venezuela. "Estamos tentando também achar soluções na França", completou.
No encontro, os dois trataram ainda do acordo entre Mercosul e União Europeia e sobre as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Macron elogiou a liderança internacional de Lula, mas reforçou que é contra o acordo entre os dois blocos econômicos da forma como está escrito, defendido por Lula.
Macron chegou a Belém na terça (26), na primeira visita ao país como chefe de Estado. Ele e Lula fizeram um passeio de barco pela baía de Guajará, formada pelos rios Guamá e Acará, com parada na Ilha do Combu, onde encontram lideranças indígenas.
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