'Rei da travessia': quem é o magnata que fatura alto com fuga de palestinos

Um magnata egípcio está lucrando com a guerra em Gaza. Ibrahim Al-Organi, 50, ganhou o monopólio do comércio entre os territórios ocupados e o Egito há alguns anos por meio de um conglomerado de empresas que atuam na região.

Seu nome, no entanto, ganhou outro destaque após o início da guerra entre Israel e Hamas: ele está sendo acusado de extorquir civis que buscam refúgio em outro país ao cobrar cerca de US$ 5 mil (R$ 26 mil) para fazer a viagem.

A situação deu a ele o apelido de "rei da travessia".

Quem é Al-Organi

Al-Organi nasceu em Sheikh Zuweid e estudou engenharia e administração. Segundo o Middle East Eye, ele começou a carreira como motorista de taxi e, mais tarde, foi ampliando os negócios até chegar ao conglomerado de empresas que preside atualmente.

Em 2008, ele foi preso acusado de sequestrar dezenas de policiais após a morte do seu irmão. Na ocasião, o irmão de Organi estava em um protesto contra assassinatos por policiais, segundo o MEE. Relatos da imprensa dizem que o irmão dele estava armado e desafiou as autoridades. Em retaliação ao ocorrido, Organi orquestrou o sequestro.

Em 2015, quando Organi formou a chamada União das Tribos do Sinai, a situação dele com o Estado mudou. A organização paramilitar é o principal aliado do exército nas disputas territoriais, como contra o avanço do Estado Islâmico na região.

Hoje, Al-Organi é presidente de um conglomerado de empresas que leva o seu nome. Entre elas, está a Hala, uma agência de turismo que, segundo o site da companhia, "facilita as viagens entre Egito e Palestina", com apoio no processo para obter vistos e residências.

Serviço 'VIP'

A empresa de Al-Organi começou a oferecer em 2019, aos palestinos com maior poder aquisitivo, um "serviço VIP". O objetivo era diminuir as burocracias no trânsito entre uma região e outra, segundo o jornal Le Monde.

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Após o início da guerra entre Israel e Hamas, a empresa viu uma oportunidade de aumentar os lucros. A empresa começou a cobrar US$ 5 mil (R$ 26 mil) por adulto e US$ 2,5 mil (R$ 13 mil) por criança para auxiliar os civis na fuga dos conflitos da região, segundo o jornal Le Monde.

Como funciona a lista VIP. A empresa, que supostamente tem vínculos com os serviços de segurança do Cairo, concede uma licença para fazer a viagem entre Gaza e o Egito. A lista de viajantes da Hala teria sido aprovada pelas autoridades egípcias, segundo apurações da OCCPR, um consórcio de centros de investigação e veículos de imprensa. À publicação, o Egito negou.

Uma investigação realizada pelo Middle East Eye mostrou que, ao todo, Al-Organi lucrou cerca de US$ 118 milhões (R$ 613 milhões) nos últimos três meses. Só em abril, a empresa duplicou os lucros. A publicação diz que 10.136 adultos e 2.910 crianças deixaram Gaza por meio da Hala no mesmo mês. O Grupo Organi e o governo egípcio não comentaram a situação à publicação.

Passagem valiosa

A passagem de Rafah é crucial por ter sido a única saída para os palestinos. As demais vias terrestres foram fechadas desde o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro.

O controle dela é controverso. Tecnicamente, Hamas e Egito controlavam a passagem. No entanto, Israel impõe restrições rigorosas à circulação de pessoas na região. Neste mês, o governo israelense anunciou que assumiu o controle do lado palestino de Rafah.

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