Enquanto Hitler dormia: os detalhes do Dia D, que mudou História há 80 anos

Há exatos 80 anos, em 6 de junho de 1944, o desembarque dos Aliados nas praias da Normandia marcou o início do fim da Segunda Guerra Mundial.

O 'Dia D' e o começo do fim do regime nazista

A Operação Overlord, codinome para a Batalha da Normandia, foi a maior operação anfíbia da história — e o primeiro dia dela ficou conhecido como "Dia D".

Durante meses, na Inglaterra, o desembarque das tropas aliadas na França ocupada pela Alemanha foi planejado e treinado. A missão era libertar o país e então avançar contra a Alemanha, com o intuito de dar fim ao domínio nazista na Europa.

O "Dia D". O mau tempo ainda atrasou o início da operação, porém em 6 de junho de 1944, o "Dia D", milhares de navios partiram, com apoio aéreo, da costa inglesa em direção às praias da Normandia, levando cerca de 150 mil soldados dos EUA, Reino Unido, Canadá e outros países aliados.

Os aliados desembarcaram em cinco praias ao longo da costa da Normandia: Omaha e Utah para os norte-americanos, Gold e Sword para os britânicos e Juno para britânicos e canadenses. Ao final do que passou a ser conhecido como "o dia mais longo", 156 mil soldados aliados e 20 mil veículos chegaram ao noroeste da França ocupado pelos nazistas, apesar dos tiros e ataques dos aviões alemães.

Marca naqueles que o testemunharam. O veterano canadense Robert Dorraty, que fez parte da unidade que mais progrediu em terra, contou à agência de notícias RFI como aconteceu o desembarque.

Me lembro de como foi difícil. O mar no Canal da Mancha estava muito agitado .Tivemos que nos transferir do navio para a embarcação de desembarque, descendo por cordas, foi realmente muito difícil. Foram necessárias mais de 2h30 para finalmente desembarcar. Chegamos na praia por volta de 7h30, e tinha tanta coisa acontecendo, tínhamos muito medo. Ver as cordas caindo de todos os lados do navio era assustador.
Robert Dorraty, soldado veterano, à RFI

A operação marcou o início do fim da ocupação nazista da Europa Ocidental, mas ainda foram necessários meses de combates intensos e fatais até a vitória final contra o regime de Adolf Hitler.

Campanha de desinformação

Antes mesmo do "Dia D", os aliados investiram também em uma campanha de desorientação. Como tentativa de sabotagem, eles buscaram confundir os alemães sobre o real destino da ofensiva e espalharam informações falsas e até mesmo ruídos para confundir os radares.

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Os alemães estavam "preparados" para o desembarque: o litoral da França ocupada estava fortemente defendido pela "Muralha do Atlântico", uma rede de bunkers e postos armados. Porém, enganados pela manobra de despistamento, as maiores unidades alemãs estavam esperando no local errado, em Calais, onde o Canal da Mancha é mais estreito.

Papel dos paraquedistas

Soldados dos EUA desembarcam na região da Normandia, na França, em 6/6/1944, na ação conhecida como Dia D, principal operação aliada na 2ª Guerra Mundial
Soldados dos EUA desembarcam na região da Normandia, na França, em 6/6/1944, na ação conhecida como Dia D, principal operação aliada na 2ª Guerra Mundial Imagem: Wikipedia

Os paraquedistas também tiveram um papel fundamental na data. Eles foram os primeiros soldados aliados a pisar em terra firme na França, tendo sido lançados atrás das linhas de defesa inimiga com intuito de confundir os alemães e impedir a chegada de reforços.

No entanto, devido ao mau tempo, houve interferência na comunicação e muitas tropas se dispersaram. Apesar disso, pode se considerar que eles cumpriram a tática da missão.

Em um artigo para o Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial, o coronel Peter Crean, vice-presidente de temas educacionais da instituição, falou sobre o episódio: "A maioria dos paraquedistas pousou sem ter ideia de onde estavam. Na escuridão, homens de ambas as divisões se misturaram e travaram inúmeras pequenas batalhas enquanto se moviam pelo interior da França. Confusos, os alemães perderam tempo tentando decidir para onde direcionar seus contra-ataques".

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'Ninguém ousou despertar Hitler'

Com o desembarque dos aliados, a batalha que se seguiu foi sangrenta. A partir de seus postos, os alemães alvejaram os soldados que desembarcavam, e as lutas pesadas continuaram para além das praias. Em desvantagem pessoal e material, o único trunfo dos alemães era a reserva de tanques blindados, cuja ordem de ataque Hitler queria se encarregar pessoalmente — mas a deu tarde demais.

O historiador militar Peter Lieb explica que o motivo foi banal: o hábito do líder nazista de ficar acordado até tarde e só se levantar por volta do meio-dia. Também foi assim no "Dia D": "Pela manhã, quando os tanques deveriam ter sido mobilizados rapidamente, Hitler ainda dormia. Ninguém ousou despertá-lo, nem o alto-comando teve coragem de passar por cima de uma ordem do Führer e acionar os tanques por conta própria".

Diferentes versões e significados

Nem mesmo os Aliados concordam com a interpretação da Operação Overlord. Nos EUA, o 'Dia D' é assimilado como um feito heroico puramente norte-americano, escreveu o ensaísta americano Adam Gopnik na revista New Yorker, por ocasião do 70º aniversário da invasão.

Liderança britânica. De acordo com o historiador britânico James Holland, essa percepção — fortalecida pelas representações em filmes norte-americanos em que os soldados de outras nações, caso sejam retratados, desempenham apenas papéis coadjuvantes — prevalece até mesmo na Alemanha. Para ele, no entanto, está claro que se tratou de uma missão aliada e, se houve alguém que assumiu assumiu a liderança, foram os britânicos.

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Na França, os veteranos do Dia D tiveram que esperar muito tempo para que seus esforços fossem reconhecidos. Embora seu comandante, Philippe Kieffer, tenha sido incluído na Legião de Honra em 1945, seus 177 camaradas de combate receberam um monumento próprio somente em 1984, das mãos do então presidente francês, François Mitterand.

Normandia 'pagou o preço'

No final do verão de 1944, a guerra deixou a região inteira arruinada, além de 20.000 de seus habitantes mortos. Durante o conflito, os civis da Normandia seguiram conselhos de veteranos da Primeira Guerra Mundial e cavaram trincheiras para se protegerem dos combates. Além disso, houve mais de 100.000 refugiados em localidades vizinhas.

*Com Deutsche Welle, AFP e RFI

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