O que se sabe sobre a aproximação militar entre Rússia e Coreia do Norte?

Na última semana, Vladimir Putin esteve com o Líder Supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, na capital do país, Pyongyang. Durante o encontro, eles realizaram várias reuniões e trocaram presentes, estreitando as relações militares entre os dois países.

O que Putin e Kim decidiram?

Chefes de estado assinaram pactos de ajuda militar mútua. A partir de agora, em caso de uma guerra envolvendo uma das partes, um país deve proteger o outro. "O tratado de associação global assinado hoje prevê, entre outras coisas, uma assistência mútua em caso de agressão a uma parte", disse Vladimir Putin na quarta-feira (19).

Tratado deve aumentar tensão na Ucrânia, na Ásia e com os EUA. O governo americano diz que a Rússia tem recebido munições e armamento dos norte-coreanos, enquanto a Rússia estaria enviando tecnologia que pode ajudar Kim Jong Un em suas ameaças nucleares na região.

Pacto vem após isolamento internacional da Rússia. Depois do início da Guerra da Ucrânia, Putin foi alvo de um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional, e a Rússia sofreu uma série de sanções que a isolaram da diplomacia global. Entretanto, o tratado aumenta a importância da Rússia na Ásia e no cenário mundial.

Acordo relembra Guerra Fria. O novo pacto de ajuda mútua é muito semelhante a um acordo de 1961, assinado entre a então União Soviética e Kim Il-Sung, vô de Kim Jong Un. Esse tratado usa a mesma linguagem e tem exigências semelhantes, mas nunca chegou a ser posto a prova.

"Putin é amigo mais honesto da Coreia do Norte", diz Kim. Depois das reuniões, o Líder Supremo da Coreia do Norte disse também que o acordo de defesa mútua é de natureza "defensiva".

Tratado é muito vantajoso para Kim Jong Un, avalia professor. À Deustche Welle, Leif-Eric Easley, professor de estudos internacionais da Universidade Ewha Womans, na Coreia do Sul, afirmou que o pacto "não apenas melhora o status da Coreia do Norte entre os países que se opõem à ordem internacional liderada pelos EUA, mas também ajuda a reforçar a legitimidade interna de Kim".

Presentes trocados envolveram limousine e cachorros. Putin deu uma segunda limousine da marca russa de luxo Aurus Serat, e foi presenteado com dois cachorros da raça Pungsan, nativos da Coreia do Norte.

Diplomacia global já sentiu novo acordo

Secretário-Geral da Otan, Jens Stoltenberg (esq.), e o Secretário-Geral de Estado dos EUA, Anthony Blinken (dir.)
Secretário-Geral da Otan, Jens Stoltenberg (esq.), e o Secretário-Geral de Estado dos EUA, Anthony Blinken (dir.) Imagem: Olivier Douliery/AFP
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Casa Branca demonstrou "grande preocupação" com pacto de ajuda mútua. "O acordo poderia desestabilizar à península coreana, potencialmente, dependendo do tipo de armas, e poderia violar as resoluções do Conselho de Segurança que a própria Rússia apoiou.", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.

Coreia do Sul criticou acordo. Lim Soo-suk, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Seul, disse que o pacto viola as resoluções do Conselho de Resolução da ONU, e lamentou que os dois países tenham "firmado um tratado de parceria estratégica e tenham mencionado inclusive a cooperação tecnológica militar". "Responderemos severamente a qualquer ação que possa ameaçar nossa segurança, trabalhando com a comunidade internacional", completou.

Chefe da Otan considera pacto um "alinhamento entre poderes autoritários". Em visita aos EUA, o chefe da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) Jens Stoltenberg disse que "quando eles estão cada vez mais alinhados - regimes autoritários como a Coreia do Norte e a China, o Irã, a Rússia - então é ainda mais importante que estejamos alinhados como países que acreditam na liberdade e na democracia". "Precisamos estar cientes de que os poderes autoritários estão se alinhando cada vez mais. Eles estão se apoiando de uma forma que nunca vimos antes", completou.

Rússia avisou a Coreia do Sul que enviar armas a Ucrânia seria "grande erro". Em visita ao Vietnã, Putin disse que "se isso acontecer, tomaremos a decisão correspondente, que não deverá agradar os líderes atuais da Coreia do Sul".

Aqueles que enviam [mísseis para a Ucrânia] acham que não estão lutando contra nós, mas já disse, inclusive em Pyongyang, que nos reservamos o direito de fornecer armas a outras regiões do mundo, em relação aos nossos acordos com a Coreia do Norte. Não descarto essa possibilidade.
Vladimir Putin, durante visita ao Vietnã

*Com ANSA, AFP e DW

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