Venezuela elege quem quiser, diz Lula após Maduro citar 'banho de sangue'

O presidente Lula (PT) afirmou hoje que as relações que tem com países como Venezuela e Argentina são "de Estado" e que seus cidadãos elegem "os presidentes que eles quiserem".

O que aconteceu

Lula defendia a política de boas relações internacionais em evento em São José dos Campos (SP). A fala se dá após o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, alertar para a possibilidade de um "banho de sangue" e uma "guerra civil" caso não vença as eleições, marcadas para o próximo dia 28.

"Por que que eu vou querer brigar com a Venezuela, com a Nicarágua, com a Argentina?", questionou Lula. "Eles que elejam os presidentes que eles quiserem. O que me interessa é a relação de Estado."

"Todo mundo gosta do Brasil e o Brasil tem de gostar de todo mundo", argumentou. "Não tem nenhum país do mundo sem contencioso com ninguém como o Brasil, não existe."

Nos exemplos, ele fala de aliados e adversários. Maduro é aliado histórico do PT desde o governo de Dilma Rousseff. O mesmo se dá com Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, também acusado de regime autoritário.

Na Argentina, é o oposto. Aliado do ex-presidente Alberto Fernández, Lula não tem ligações com Javier Milei. O argentino o chamou de "ladrão e comunista" durante as eleições e, recentemente, faltou ao Mercosul para participar de uma conferência da extrema direita no Brasil.

Lula acompanhou o anúncio da liberação de crédito de R$ 10,75 bilhões para obras nas rodovias Dutra e Rio-Santos, que ligam São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo o Ministério dos Transportes, serão R$ 15,5 bilhões em investimentos totais que incluem novas pistas da Serra das Araras e duplicações na BR-101 (RJ). O dinheiro será liberado via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

"Banho de sangue"

Maduro busca um terceiro mandato de seis anos. A disputa tem sido marcada por denúncias de prisões de opositores, acusados pelo governo de conspirar para derrubá-lo.

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O presidente venezuelano afirmou que o resultado das eleições é crucial para evitar conflitos. "Quanto mais contundente for a [nossa] vitória, mais garantias de paz vamos ter", disse Maduro durante discurso no bairro de La Vega, em Caracas, na quarta-feira (17).

Declarações repetem discurso feito na semana passada. Na quinta anterior (11), Maduro havia dito que a Venezuela decidirá entre "guerra e paz" nas próximas eleições. "Em 28 de julho, escolheremos entre protestos violentos e tranquilidade, colônia ou projeto de pátria, fascismo ou democracia. Estão preparados? Estão preparadas? Eu estou preparado", declarou.

As declarações colocam Lula em situação delicada. O brasileiro tem cobrado eleições limpas no país vizinho, mas procura não entrar em conflito direto com o aliado.

Críticas a privatizações

No evento seguinte, na Embraer, Lula voltou a criticar privatização de empresas nacionais. Ele citou a possibilidade de venda da companhia brasileira à norte-americana Boeing, veiculada em 2020, e lamentou, mais uma vez, a privatização da Vale e da Eletrobras.

A companhia de energia foi privatizada em junho de 2022, durante a gestão Jair Bolsonaro (PL). "Uma empresa extraordinária, de interesse de segurança nacional, que era modelo e exemplo, foi privatizada em nome da honestidade, de acabar com o Estado", disse, em tom crítico.

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Segundo ele, após a privatização, o salário do diretor-presidente da ex-estatal subiu seis vezes. "Uma demonstração do que conseguem fazer com a indústria brasileira. Você pega uma empresa como Vale, Eletrobras, Embraer, Petrobras, que são motivo de orgulho [e vende]", disse Lula.

Ele comemorou ainda que o negócio com a Boeing não foi fechado. "Eu quero dizer que eu tenho orgulho de, quando viajo, tentar vender um avião da Embraer. Isso aqui tem a mão de uma brasileira, um brasileiro, tem o suor de um brasileiro, uma brasileira."

Ainda em São José dos Campos, Lula participou do anúncio de outro financiamento do BNDES. O banco disponibilizará R$ 4,5 bilhões em crédito para exportação de 32 jatos comerciais da Embraer para a American Airlines.

Lula vai nesta tarde para a capital paulista. Ainda hoje participa de um evento junto ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e, amanhã, de eventos junto aos pré-candidatos Luiz Fernando (PT), em São Bernardo do Campo (SP), e Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo.

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