Jamil Chade

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'Nós nos vingaremos': morte de líder do Hamas ameaça gerar guerra regional

A morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, causada pela explosão de uma bomba em Teerã, gera preocupação com uma intensificação do conflito entre Israel e palestinos.

Autoridades palestinas e governos como o da Turquia, Egito, Iraque, Jordânia, Qatar, Irã e Rússia condenaram o assassinato, enquanto o próprio Hamas indicou que o ato representa uma "escalada grave" na guerra e que não ficará impune. Não existem detalhes ainda de como o ataque ocorreu.

"Nós nos vingaremos", anunciou aiatolá Ali Khamenei, chefe supremo do Irã. Ele alertou que Israel "deu base" para uma "punição dura e uma vingança muito difícil".

É nosso dever vingar o sangue de Haniyeh. Ele foi um mártir em nossas terras.
Ali Khamenei, chefe supremo do Irã

Grupos como o Hezbollah e os Houthis também indicaram que poderão reagir. Já o ex-comandante da Guarda Revolucionária Iraniana, Mohsen Rezaei, afirmou que "Israel pagará um preço elevado" pela morte.

Os atuais comandantes da Guarda Revolucionária, pilar do regime iraniano, também alertaram que a resposta será "dolorosa".

A morte ocorreu horas depois do assassinato de outro aliado iraniano, Fuad Shukur, o chefe militar do Hezbollah. Sua eliminação, em Beirute, foi uma retaliação a um ataque em Israel que deixou doze crianças mortas.

Governo Biden nega envolvimento

O risco, diante do golpe contra o Hamas, Hezbollah e o Irã, é de que o conflito saia das fronteiras de Gaza.

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Imediatamente, esforços diplomáticos por parte dos americanos e de outros atores passaram a ser feitos para pedir que os iranianos apenas respondam de forma proporcional, evitando que o ato seja o gatilho de uma guerra regional. A morte ocorre um dia após ataques de Israel em Beirute, contra líderes do Hezbollah.

Negando qualquer envolvimento no assassinato e dizendo que desconhecia qualquer plano de assassinato, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, enfatizou a importância de um cessar-fogo em Gaza e insistiu que um acordo é agora "imperativo".

"Nada diminui a importância de chegar ao cessar-fogo, que é do interesse dos reféns e trazê-los de volta para casa. É do interesse dos palestinos que estão sofrendo terrivelmente todos os dias: crianças, mulheres, homens em Gaza que foram pegos nesse fogo cruzado criado pelo Hamas", disse.

"É profundamente do interesse de tentar colocar as coisas em um caminho melhor, não apenas em Gaza, mas na verdade em toda a região, porque muita coisa está ligada ao que está acontecendo em Gaza neste momento. Estamos trabalhando desde o primeiro dia não apenas para melhorar a situação em Gaza, mas também para evitar que o conflito se espalhe", completou.

Alerta de aliado dos EUA

Até mesmo o governo da Jordânia, um aliado dos EUA, alertou para o risco de uma guerra ampliada diante da execução.

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O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, condenou o assassinato e alertou que "a continuação da agressão de Israel contra Gaza, sua violação dos direitos do povo palestino e seus crimes contra ele, e sem ação internacional para conter sua agressão, arrastará a região para mais guerras e destruição".

Outro aliado dos EUA na região, o Egito, também apontou como o ataque é uma demonstração de que Israel "não tem vontade política" de chegar a um acordo.

Brasileiros apreensivos. Diplomatas brasileiros disseram que existe uma forte apreensão diante do assassinato e o temor do risco de uma escalada na guerra.

Quem é o líder morto

O líder do Hamas havia sido acusado pelo procurador do Tribunal Penal Internacional de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Para diversos países ocidentais, o Hamas é classificado como um grupo terrorista.

Ele estava em Teerã para a posse do novo presidente iraniano e seu maior aliado. Segundo o comunicado do Hamas, o ataque ocorreu às 2h da manhã, do horário iraniano. Haniyeh estava em sua residência na capital do Irã.

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Ele foi eleito como chefe político do Hamas em 2017, substituindo a Khaled Meshaal. Mas há 30 anos foi um ator incontornável na política do Oriente Médio. Ainda em sua juventude, integrou o Hamas desde sua criação e foi preso por Israel em diferentes momentos de sua vida. Nos anos 90, foi mantido em prisões israelenses por três anos e, em 1993, foi exilado no Líbano.

Ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato e, em 2006, chegou a ser o primeiro-ministro palestino, diante da surpreendente vitória do Hamas nas eleições. Agora, seus filhos anunciam que sua luta continuará.

Negociação de paz enterrada?

Para diplomatas na região, é a perspectiva de uma negociação de paz que está comprometida, diante do que é visto como o assassinato de um dos integrantes do processo negociador. Ismail Haniyeh era o líder da delegação do Hamas nas conversas patrocinadas pelo Qatar.

"Assassinatos políticos e alvos contínuos de civis em Gaza enquanto as negociações continuam nos levam a perguntar: como a mediação pode ser bem-sucedida quando uma parte assassina o negociador do outro lado? A paz precisa de parceiros sérios", escreveu o primeiro-ministro do Qatar, Sheike Mohammed.

Sua morte também coloca pressão sobre o governo do Irã, que acaba de tomar posse. O assassinato que ocorreu em Teerã escancara a falha de segurança por parte dos iranianos e pode, segundo diplomatas, levar os iranianos a ter de retaliar Israel, inclusive para manter sua credibilidade diante das forças políticas internas.

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O novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, afirmou que vai "defender sua integridade territorial, honra e orgulho". Segundo ele, Israel "vai se arrepender de seu ato covarde".

Em Israel, o porta-voz das Forças Armadas, Daniel Hagari, afirmou que o país "prefere evitar" uma guerra mais ampla. Mas indicou que seus soldados estão preparados para "todos os cenários".

Israel comemora

Amichai Eliyahu, ministro do patrimônio de Israel, comentou a morte do líder do Hamas e afirmou que "essa é a maneira correta de limpar o mundo dessa sujeira". "Não há mais acordos imaginários de paz/rendição. Não há mais misericórdia. A mão de ferro que os atingirá é a que trará paz e um pouco de conforto e fortalecerá nossa capacidade de viver em paz com aqueles que desejam a paz. A morte de Haniyeh torna o mundo um pouco melhor", escreveu.

Países criticam

A Rússia chamou o ato de um "assassinato político inaceitável". O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Bogdanov, indicou que tal acontecimento levaria a uma "escalada de tensão" na região.

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Um tom similar foi adotado pela Turquia, que acusou Netanyahu de não ter "nenhuma intenção de levar a paz". Num comunicado, a diplomacia turca condenou e afirmou que o assassinato tem como objetivo estender a guerra de Gaza em escala regional. "O governo de Netanyahu não tem intenção de alcançar a paz", disse o Ministério das Relações Exteriores turco.

O Qatar condenou o assassinato e o considerou "uma escalada perigosa" e uma tentativa de jogar toda a região em um "caos". O Ministério das Relações Exteriores do país afirmou que esse assassinato e o comportamento imprudente de Israel de atingir continuamente civis em Gaza "levarão a região ao caos e prejudicarão as chances de paz."

Já o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que uma guerra mais ampla no Oriente Médio não é "inevitável". "Não acho que a guerra seja inevitável. Mantenho essa opinião. Acho que sempre há espaço e oportunidades para a diplomacia", disse. O governo americano lidera um esforço diplomático para evitar que a guerra em Gaza se transforme em um conflito regional mais amplo. A negociação envolve o estabelecimento de um cessar-fogo temporário e um acordo de libertação de reféns em Gaza.

Reação palestina

Entre os grupos palestinos, a reação também foi de condenação. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e o secretário do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Husein al-Sheikh, condenaram a morte do líder político do Hamas.

Abbas, que governa partes da Cisjordânia, "condenou veementemente o assassinato do líder do movimento Hamas e o considerou um ato covarde e um desenvolvimento perigoso". Ele ainda "conclamou as massas e as forças do povo palestino à unidade, à paciência e à firmeza diante da ocupação israelense".

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