Oposição: Embaixada na Venezuela segue cercada e sem luz há mais de 30 h

A embaixada da Argentina em Caracas, na Venezuela, continuava sem eletricidade e cercada por agentes das forças de segurança do presidente venezuelano Nicolás Maduro no início deste domingo (8), segundo denúncia da oposição. Cerco já dura mais de 30 horas. O governo Maduro revogou hoje, de forma unilateral, a custódia do Brasil da embaixada argentina na Venezuela.

O que aconteceu

Agentes de Maduro continuavam bloqueando o acesso à sede diplomática. A informação foi divulgada nas redes sociais por Pedro Noselli, coordenador de internacional da líder opositora María Corina Machado e também asilado no local.

No vídeo postado por Noselli é possível visualizar o que seriam viaturas com o giroflex ligado no entorno da embaixada. A publicação foi feita às 20h30 (horário local e 21h30 do horário de Brasília). Registros divulgados mais cedo mostram agentes encapuzados e armados ao redor da residência.

Outro asilado no local afirmou que o cerco à embaixada é uma "grave violação do direito internacional". Nas redes sociais, Omar Gonzalez Moreno, aliado de Corina e integrante da direção nacional do partido opositor Vente Venezuela, também denunciou a situação. Seis opositores venezuelanos, foragidos da justiça, estão asilados no local.

A Venezuela afirmou neste sábado (7) que decidiu revogar a custódia brasileira da embaixada da Argentina em Caracas. O governo Maduro alega ter "provas" de que o local está sendo usado para planejamento de atos "terroristas" e de "tentativas" de assassinato contra ele e sua vice, Delcy Rodríguez. As provas, no entanto, não foram apresentadas.

Corina pede apoio de países a ativistas

Neste sábado, María Corina Machado publicou sua primeira manifestação desde o início do cerco. Em nota, a líder opositora afirmou que as acusações contra os seis asilados e as decisões "unilaterais" do regime Maduro "violam acordos internacionais e representam grave ameaça, sendo contrárias aos direitos e interesses de nações que têm representações em outros países".

Ela relembrou que o princípio da inviolabilidade de embaixadas é "sagrado" e abrange não apenas os locais físicos, mas também a dignidade e integridade de pessoas que estão nos locais.

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Corina alertou para as consequências que as violações desses direitos podem ter para o país e a região. Ela ainda solicitou que as nações democráticas acompanhem e disponibilizem apoio e proteção a todos os ativistas que sofrem assédio e perseguição.

Da mesma forma, pedimos que [as nações democráticas] tomem as medidas necessárias para emitir salvo-condutos aos nossos colegas, conforme estipulado no direito internacional. Estamos determinados a seguir em frente com serenidade, coragem e firmeza até o fim. A verdade nos ajuda e nos libertará.
María Corina Machado, em nota

Países se manifestam contra ação da Venezuela

O governo brasileiro indicou que continua representando os interesses da Argentina em Caracas. Segundo o colunista do UOL Jamil Chade, o posicionamento do Itamaraty é de que se a Venezuela quiser revogar a autorização, tem de esperar a definição de um país substituto. Até lá, o governo Lula (PT) diz que continua a assumir essa responsabilidade.

Já o governo argentino rejeitou neste sábado (7) a "decisão unilateral" da Venezuela. "Qualquer tentativa de interferir ou sequestrar os solicitantes de asilo que estão em nossa residência oficial será fortemente condenada pela comunidade internacional", alertou.

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Ministério das Relações Exteriores do Paraguai diz lamentar decisão do governo Maduro. Em nota divulgada nas redes sociais, a pasta classificou como "decisão unilateral" a revogação da custódia do Brasil na embaixada argentina e disse que a ação "viola os princípios consagrados na Convenção de Viena". O ministério ainda instou o país a respeitar as normas internacionais e reforçou que reconhece o Brasil como responsável pela custódia da residência argentina.

EUA manifestam apoio "inabalável" aos governos do Brasil e da Argentina. "Expressamos nosso firme apoio diante das ameaças dos agentes de Maduro na Venezuela", escreveu o embaixador americano Brian A. Nichols nas redes sociais. "O Maduro precisa parar com sua repressão e intimidação ao povo venezuelano."

Uruguai também se manifesta. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores expressou preocupação com a decisão do governo Maduro de revogar a custódia brasileira e prestou solidariedade à Argentina e ao Brasil por esse "momento difícil".

Presidente do Panamá, José Raúl Mulino, e Ministério das Relações Exteriores do país condenaram a decisão de Maduro. Para o país, o ato demonstra o "contínuo desprezo às normas internacionais que garantem a inviolabilidade das missões diplomáticas e proteção dos asilos".

A Chancelaria da Costa Rica também emitiu comunicado. A pasta falou em "novo ato de perseguição política contra cidadãos venezuelanos legalmente abrigados na embaixada argentina".

Como começou a crise?

Logo depois da eleição de 28 de julho, o governo Maduro expulsou os diplomatas argentinos de Caracas. O gesto ocorreu por conta da reação do governo de Javier Milei de não reconhecer a suposta vitória de Maduro e insistir que o pleito havia sido alvo de fraude. Mas dentro da embaixada estavam seis membros da oposição venezuelana, foragidos da justiça venezuelana.

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Na prática, a expulsão dos diplomatas significava que o governo Maduro poderia romper a inviolabilidade da embaixada e capturar os opositores. Para evitar uma crise ainda mais grave, o governo brasileiro fechou um acordo no qual passou a assumir os interesses da Argentina em Caracas, inclusive da estrutura da embaixada. O Brasil fez o mesmo com a embaixada do Peru, depois da expulsão dos diplomatas daquele país, pelos mesmos motivos.

Ficou estabelecido que, a partir daquele momento, aquela era também uma área brasileira e que continuava fora do alcance das forças de ordem de Maduro. Até mesmo uma bandeira brasileira chegou a ser colocada no local por alguns dias. Mas a pressão de Maduro contra a oposição levou a uma ação, uma vez mais, contra a embaixada.

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