Homem há 23 anos no corredor da morte já fez três 'últimas refeições'
O norte-americano Richard Glossip, de 61 anos, condenado à morte em 1998, recorre à Suprema Corte americana mais uma vez para escapar da sentença.
Três últimas refeições e dois casamentos
Execução já foi adiada várias vezes. Desde a condenação, ele comeu sua "última refeição" em três ocasiões e se casou duas vezes. Tudo isso foi feito enquanto Glossip estava preso no estado do Oklahoma.
Glossip pediu fast food antes de uma das três datas marcadas para o cumprimento da pena. Na ocasião, o condenado listou os seguintes itens para sua última refeição antes da execução: um hambúrguer Baconator, do restaurante Wendy's; uma porção de peixe frito com batata frita, e um milkshake de morango.
Em setembro de 2018, Glossip se casou pela primeira vez na prisão. A escolhida foi Leigha Jurasik, estudante 33 anos mais nova que escrevia cartas para o condenado sobre seu caso. À época, ela disse: "Quando você ama alguém, você ama alguém - coisas triviais como essa não te incomodam. Ele é inocente, ele não deveria estar ali, mas isso nunca foi um impedimento em nosso relacionamento".
Entretanto, casamento não durou muito. O casal assinou o divórcio em fevereiro de 2021, e Jurasik afirmou mais tarde que se sentiu usada pelo condenado durante o relacionamento. Ela diria que Glossip "conseguiu exatamente o que queria, que era financiamento para si enquanto estava na prisão". Jurasik diz ter enviado 7 mil dólares para o condenado e mais mil dólares para outros presos na mesma penitenciária, a pedido dele.
Glossip se casou novamente um ano após divórcio. Em março de 2022, o homem oficializou a união com Lea Rodger, ativista contrária a pena de morte, dentro da Prisão Estadual de Oklahoma. À época, ele disse: "Depois de tudo que passei, perdendo tanto da minha vida e de todos nela, fui abençoado além de toda imaginação".
Crime, condenação e reviravoltas
Crime pelo qual Glossip é acusado ocorreu em 1997. Justin Sneed usou um taco de beisebol para matar seu chefe, Barry Van Treese, no estacionamento da loja em que trabalhavam. Em um acordo para evitar a pena de morte, Sneed disse que foi instruído por Richard Glossip, seu colega de trabalho, a matar Van Treese. Desde então, o homem se diz inocente.
Em 2001, caso foi arquivado. Enquanto estava no corredor da morte, Glossip recebeu a notícia que um novo júri reavaliou o caso e o considerou "extremamente fraco", rejeitando a condenação.
Entretanto, crime voltou a ser discutido em 2004 e o homem foi sentenciado mais uma vez. Glossip pediu uma nova revisão de seu caso ao Tribunal de Apelações Criminais de Oklahoma, que reafirmou a condenação a injeção letal em 2007. "Estou tentando impedi-los de me matar por qualquer método, pelo fato de que sou inocente", disse Glossip em entrevista ao The Intercept.
Primeira execução foi suspensa em 2015. A poucos dias de receber a injeção letal, a Suprema Corte dos EUA suspendeu todas as execuções no estado do Oklahoma, até que se decidisse sobre quais drogas devem ser aplicadas nos sentenciados à morte. O órgão decidiria a favor da constitucionalidade do coquetel usado — severamente criticado por opositores da pena de morte — em junho do mesmo ano.
Novas testemunhas causaram reviravolta no caso. Em setembro de 2015, a defesa de Glossip convocou Michael Scott e Richard Taley, dois ex-companheiros de cela do delator Sneed, para depor sobre o caso. Um deles afirmou que ele incriminou Glossip falsamente e riu sobre o assunto, enquanto o outro afirmou que Sneed teria agido sozinho no crime, e que "estava muito preocupado em receber a pena de morte". "A única coisa que importava para ele era assinar uma sentença de prisão perpétua", completou.
Justiça de Oklahoma considerou testemunhos suspeitos e ordenou que Glossip fosse morto. Por três votos a dois, o Tribunal de Apelações Criminais de Oklahoma determinou que Glossip fosse morto em 16 de setembro de 2015. Entretanto, neste dia, o tribunal adiou a execução em 14 dias, para que a Justiça pudesse ponderar novos pedidos da defesa.
Terceira execução foi interrompida de última hora. A poucos passos da sala onde seria morto, o condenado recebeu a notícia de que teria sua execução adiada pelo estado não ter as substâncias corretas para serem usadas no processo. A então governadora do Oklahoma, Mary Fallin, afirmou que o sistema prisional do estado possuía acetato de potássio, em vez de cloreto de potássio — a droga recomendada.
Caso voltou a ser discutido em 2020
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Quero receberSuprema Corte dos Estados Unidos julgou que remédio polêmico poderia ser utilizado. Por 5 a 4, a instância máxima da Justiça americana entendeu que a droga midazolam deveria ser utilizada como um sedativo junto a outras drogas durante a injeção letal. Ativistas contra a pena de morte argumentam que esse remédio causa sofrimento desnecessário ao condenado. Com a liberação, nova data foi marcada para a execução de Glossip.
Execução foi marcada para 22 de setembro de 2022, mas foi novamente adiada. No mesmo ano, a data foi adiada duas vezes pelo governador Kevin Stitt e mais outras duas vezes pelo procurador-geral do Oklahoma, Gentner Drummond, que argumentou falta de pessoal para realizar execuções, e mais tarde a vontade de que o caso de Glossip fosse revisto de forma independente, pois duvidava das decisões tomadas anteriormente pela Justiça do estado. O caso foi encaminhado novamente ao Tribunal de Apelações Criminais de Oklahoma.
Em abril de 2023, Justiça ordenou nova condenação para maio do mesmo ano. Convencido de que o processo deveria ser revisto, a defesa de Glossip voltou a recorrer à Suprema Corte, afirmando que havia novas provas a serem examinadas que questionavam a credibilidade do delator e assassino confesso Justin Sneed. Desde então, Richard Glossip aguarda uma definição sobre seu futuro.
Kim Kardashian e apresentador Dr. Phil pediram que Glossip não fosse executado. O caso tomou grandes proporções nos Estados Unidos, mobilizando manifestantes que defendiam a inocência de Glossip. A socialite Kim Kardashian pediu a seus milhões de seguidores nas redes sociais que entrassem em contato com o conselho de liberdade condicional e com o governador Stitt em uma tentativa de impedir a execução, enquanto Dr. Phil entrevistou Glossip em seu programa e pediu às autoridades que revisitassem o caso.
Suprema Corte americana vai discutir assunto novamente nesta quarta-feira (9). No último domingo (6), o procurador-geral Gentner Drummond, afirmou: "Se ele [Glossip] for executado, acredito que será uma farsa de justiça". Ele pediu novamente a revisão do caso à instância máxima da Justiça nos Estados Unidos, em contexto de redução de condenações de pena de morte no país.
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