Por que os EUA não taxaram Cuba, Rússia, Belarus e Coreia do Norte?
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Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ontem tarifas sobre diversos países aliados e inimigos, Rússia, Belarus, Cuba e Coreia do Norte ficaram de fora das sanções do republicano.
O que aconteceu
Rússia foi deixada de fora porque não possui ''comércio significativo'' com os EUA. A explicação foi dada pela secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, ao veículo de notícias Axios horas após o anúncio do ''tarifaço''.
O comércio de bens entre a Rússia e os Estados Unidos foi de US$ 3,5 bilhões no ano passado. O valor despencou significativamente em comparação a 2021, um ano antes da invasão à Ucrânia, quando era de cerca de US$ 36 bilhões.
Sanções impostas pelos EUA à Rússia devido à Guerra da Ucrânia alteraram relações comerciais. No entanto, os Estados Unidos ainda negociam mais com o país russo do que com nações como Maurício ou Brunei, que entraram na lista de tarifas de Trump, observou a Axios. A Rússia está sob mais de 28.595 sanções ocidentais diferentes atualmente.
Cuba, Belarus e Coreia do Norte também não foram incluídas. Ainda segundo a secretaria de imprensa, as tarifas e sanções atuais sobre esses países já são altas o suficiente.
A justificativa foi confirmada por outra autoridade do governo americano. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse à Fox News que o comércio com a Rússia e a Belarus foi ''efetivamente interrompido'' devido às sanções, razão pela qual elas não foram inseridas nas novas medidas.
Trump também não citou o Canadá e o México. Porém, segundo o CBC e a Reuters, o decreto assinado pelo presidente indica que os vizinhos não estão sujeitos às novas tarifas porque já estão cobertos por taxas de até 25% sobre muitos produtos, impostas anteriormente pelos EUA.
O anúncio
Trump anunciou um "tarifaço global" sobre impostos de importação, com os produtos brasileiros sendo taxados em ao menos 10%. A data foi nomeada pelo republicano como o "Dia de Libertação", que ocorreu em um evento aberto a algumas pessoas e à imprensa, em um dos jardins da Casa Branca.
A nova política comercial adota a regra da reciprocidade entre os países, segundo a Casa Branca. Para isso, portanto, se baseia na taxação dos produtos americanos no exterior. O governo Trump diz que a meta é a de começar a corrigir o déficit de US$ 1,2 trilhão que o país soma com o resto do mundo.
Em discurso, Trump afirmou que, por décadas, outros países impunham tarifas altíssimas aos EUA, "inclusive com barreira não monetárias para dizimar a nossa indústria". O presidente norte-americano comentou que, em muitos casos, as limitações não monetárias eram piores que as monetárias.
A Casa Branca argumenta que a taxação corresponde à metade de porcentagem adotada por outros países. O raciocínio por trás do cálculo foi revelado em um documento publicado ontem pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), uma agência subordinada diretamente a Trump. Resumindo, para dar um número ao valor da barreira comercial que cada país imporia aos EUA, o USTR tomou o déficit comercial dos EUA com esse país no ano passado e dividiu o número pelo valor das importações.
O resultado da conta foi dividido por dois. No caso da China, por exemplo, os EUA tiveram um déficit de US$ 295 bilhões, e as importações americanas da China somaram US$ 438 bilhões em 2024. O resultado da divisão do déficit pelo total das importações é 0,673, ou 67,3%. A alíquota da tarifa americana de reciprocidade foi calculada dividindo esse resultado por dois (33,5% arredondado para 34% no exemplo chinês).
O que justifica os 10% aplicados ao Brasil? O USTR também calculou a média do déficit dos EUA com todos os países do mundo. Nesse caso, o resultado foi 20%. É daí que surgiu a tarifa mínima de 10%, aplicada a países com quem os EUA não têm déficit, como o Brasil.
Agora não é tarde demais. Nós começaremos a ser mais espertos, inteligentes, e voltaremos a ser ricos. Porque tanto da nossa riqueza foi tirada de nós e não podemos deixar isso acontecer. Nós podemos ser tão ricos, mais que qualquer outro país. Mas precisamos ficar espertos porque os EUA não podem ficar com tarifas unilaterais, nessa rendição econômica.
Donald Trump, ao anunciar as tarifas
Brasil seguirá negociando com os EUA
O colunista do UOL Jamil Chade apurou que o governo brasileiro continuará a negociar com os EUA, mesmo após o anúncio das tarifas. Num telefonema hoje, o chanceler Mauro Vieira e o representante de Comércio da Casa Branca, Jamieson Greer, estabeleceram que, depois de conhecer a taxa que será aplicada sobre o Brasil, as equipes dos dois países irão se reunir na próxima semana para continuar a negociar e tentar obter um acordo. Na conversa, foram ainda tratados temas como a tarifa ao aço.
A aposta pelas negociações era o caminho preferido pelo Brasil, com a tentativa de acertar uma redução de tarifas, cotas e isenções. Como o UOL revelou anteontem, não existem esperanças por parte do governo Lula e nem do setor empresarial de que o Brasil possa ser poupado do tarifaço.
Caso necessário, o Itamaraty considera que tem espaço legal para elevar as tarifas para os produtos americanos, sem violar os compromissos do país na OMC (Organização Mundial do Comércio). Pelas regras, o Brasil poderia subir as taxas para até 35%, sem incorrer em uma ilegalidade nos tratados. Um dos problemas é que tal medida poderia afetar as próprias empresas nacionais, que dependem desses produtos americanos. Uma das saídas, portanto, seria uma retaliação em serviços, remessas de royalties por empresas americanas e até no setor de propriedade intelectual.
O Brasil não está entre os maiores responsáveis pelo déficit americano. De fato, por anos, foram os EUA que tiveram vantagem no comércio. Ainda assim, nas conversas bilaterais, os americanos se queixaram de um tratamento injusto sobre o etanol dos EUA e barreiras como o sistema tributário.
Um terceiro caminho, ainda que simbólico, seria levar a disputa para a OMC. Governos como o do Canadá já adotaram a medida e a iniciativa teria como objetivo demonstrar que o Brasil atua pelas regras do comércio, e não por vias unilaterais. Mas com os mecanismos de solução de disputas inoperantes, qualquer ação na OMC levaria anos para trazer qualquer resultado.
*Com informações da Reuters
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