Kennedy: Conversão de Trump à extrema direita é puro oportunismo
Donald Trump se mostrou oportunista ao adotar um discurso alinhado ao da extrema direita para tentar ganhar a confiança e o voto do eleitorado conservador nos Estados Unidos, disse o colunista Kennedy Alencar no UOL News desta terça (5).
Trump e Kamala Harris chegam tecnicamente empatados ao último dia da eleição presidencial nos EUA, em uma das disputas mais acirradas de todos os tempos no país. Há o temor de que o republicano conteste o resultado do pleito em caso de vitória da candidata democrata.
Trump é visto hoje como uma pessoa de extrema direita. Kamala é de centro-esquerda, mas tem formações bem centristas e até conservadoras em relação à segurança pública. Ela tem e defende o porte de arma. A posição dela em relação a Gaza é pró-Israel. Portanto, Kamala não é pessoa de esquerda radical; isso é uma mentira que o Trump fala.
A própria conversão de Trump para a extrema direita foi de puro oportunismo. Ele era eleitor democrata e contribuía para a campanha dos democratas em Nova York. Contribuiu para a campanha da Kamala na Califórnia. Trump não era essa pessoa conservadora, defensora da família. Pelo contrário; é acusado de assédio sexual. É uma figura vulgar e não tem nada de religioso, de carola. Isso tudo oportunismo para falar com um público de extrema direita e conservador. É muito parecido com o que Jair Bolsonaro faz no Brasil.
Quando se trata Kamala e Trump como opostos, faz-se uma falsa equivalência. Um é extrema direita, não aceita democracia e quer destruí-la. A outra é uma pessoa de centro-esquerda, ou centro-direita em algumas opiniões, que joga dentro das regras democráticas.
Temos que explicar que Kamala não é radical, mas é o que Trump repete nas propagandas na televisão para assustar. É o discurso do medo, tentando transformar e pintar Kamala como se ela fosse uma radical comunista, que vai abrir as fronteiras. Isso é uma mentira. Kennedy Alencar, colunista do UOL
Kennedy frisou como as redes sociais, em especial o X (antigo Twitter) pertencente a Elon Musk, desempenham papel crucial na disseminação de ódio e de notícias falsas, em um ambiente favorável a Trump.
Trump conseguiu entrar na cabeça desse eleitor mentindo, propondo soluções fáceis para problemas complexos. A economia sob Joe Biden está muito boa, mas houve um trimestre em que a inflação chegou a 9%. Após a pandemia, alguns preços ficaram muito altos e as pessoas têm uma sensação de que os alimentos e a moradia ficaram mais caros. Trump trabalha esse ressentimento.
Economistas olham para as propostas de Trump e sabem que elas são prejudiciais para os trabalhadores e favoráveis aos ricos. Por que Elon Musk o apoia? Ele depende de um forte financiamento do Estado.
Trump conseguiu entrar, como Bolsonaro também, nesse fenômeno de manipular o ódio, o discurso de que há um inimigo e a culpa da perda de emprego é dos funcionários públicos de Washington, do comunismo, da China, do vizinho México e de seus imigrantes. É o trabalho do ressentimento, e as redes sociais têm papel fundamental nisso. Kennedy Alencar, colunista do UOL
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