Por que brasileiros nos EUA são pró-Trump, mesmo após fala anti-imigrantes
O candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump tem ampliado o seu favoritismo entre brasileiros que vivem e votam no país, a despeito dos discursos antiestrangeiros e imigrantes do republicano ao longo da campanha.
Entenda
Maioria de brasileiros com poder de voto nos EUA é democrata, mas apoio a Trump quase dobrou no país desde 2016, segundo pesquisador. "A cada eleição vemos um aumento do número de eleitores republicanos. Nos três ciclos eleitorais, Trump avançou no percentual de brasileiros dizendo que iam votar nele. Desde 2016, ele praticamente dobrou sua intenção nesse grupo", afirmou à Deutsche Welle Mauricio Moura, fundador do Ideia, instituto de pesquisa que analisa a intenção de voto de brasileiros com dupla cidadania nos EUA.
Popularidade de Trump entre brasileiros cresce apesar de falas anti-imigrantes. O fundador do Idea acredita que, apesar da visão mais receptiva aos imigrantes ser uma vantagem eleitoral dos democratas entre os brasileiros, o discurso de Trump contra os "ilegais" ganha apoio entre quem tem dupla cidadania, ou seja, está legalmente nos Estados Unidos.
Nos últimos pleitos, eleições nos EUA foram decididas por poucos milhares de votos em alguns estados decisivos. Assim, nem a democrata Kamala Harris, nem Trump podem abrir mão dos cerca de 103 mil eleitores que migraram do Brasil com dupla cidadania, entre uma comunidade estimada em mais de 2 milhões de brasileiros nos EUA.
60% dos eleitores brasileiros afirmam votar em Kamala Harris, ante 35% que dizem preferir o republicano. Os dados são da pesquisa Idea, realizada entre os dias 6 e 12 de outubro com 802 brasileiros. Outros 2% escolheram outros candidatos, e 3% se indicaram como indecisos.
Volatilidade do voto brasileiro é, em geral, vista também em outras comunidades de imigrantes. Nas eleições deste ano, em que pesquisas de opinião mostram empate técnico entre Harris e Trump, os dois investem cada vez mais em estratégias específicas para angariar votos de determinados grupos sociais. No entanto, não houve propaganda eleitoral voltada a eleitores brasileiros com dupla cidadania, pois eles estão principalmente em Massachusetts, Nova York, Nova Jersey e na Flórida, estados que não tendem a ser decisivos nas eleições.
O que dizem brasileiros nos EUA
Brasileira e eleitora republicana diz ter percebido piora no cenário de imigração nos últimos quatro anos. Para Sandra, que vive em Newark, Nova Jersey, desde 1990, e preferiu não ter seu nome completo divulgado, foi graças a Trump que os chamados indocumentados conseguiram tirar carteira de motorista em Nova Jersey e Nova York. O ex-presidente tomou essa decisão em retaliação a governadores democratas que comandavam esses estados e eram contra a medida.
Eu vivo aqui há 34 anos e eu não vim como muitos, talvez a maioria, que vêm como turista ou vêm pelo México, infringindo a lei, que é como entrar na sua casa como ladrão.
Sandra, brasileira que vive nos EUA desde 1990, em entrevista à Deutsche Welle.
Funcionária de organização que presta suporte a imigrantes enxerga avanço do conservadorismo entre eleitores brasileiros no país. Lidia Souza, que mora há 27 anos nos Estados Unidos e trabalha em uma instituição que dá suporte a imigrantes em Massachusetts, afirmou à Deutsche Welle que é preciso aprofundar a análise para compreender por que "depois que passam a ter documento, imigrantes passam a ser republicanos ferrenhos".
Na reta final da campanha eleitoral mais acirrada da história recente dos EUA, UOL também conversou com brasileiros que vivem nos EUA e votam em Trump. Para eles, temas como costumes e economia entram como argumentos que pesam na decisão de escolher o republicano como próximo presidente.
Como republicana, me oponho à agenda "woke" que apoia a transição de gênero em crianças e competição de pessoas trans em esportes femininos. Sou pró-vida e, como Trump, acredito que caiba a cada estado decidir quais políticas de aborto devem ser adotadas de acordo com a vontade da população. Sou absolutamente contra aborto em estágio avançado, a menos que haja risco para mãe e bebê como já previsto na lei americana.
Karinne Cristina de Melo Silva, 46, de Brasília, desde 2000 nos EUA, em entrevista ao colunista Jamil Chade
Em seu primeiro mandato, tínhamos acabado de fazer um investimento e tínhamos muita dificuldade para pagar. Quando ele [Donald Trump] entrou, um dos primeiros passos foi lutar contra produtos vindos da China. Minha empresa faz pia para cozinha e banheiro, e os chineses estavam trazendo o produto pronto para o mercado americano. Como eu, pagando em dólar, iria concorrer com eles? Trump entrou, colocou 300% de impostos e segurou. Minha empresa começou a respirar, empregar mais gente. Esse é o motivo pelo qual voto no Trump. Quanto mais trabalho eu tenho, mais emprego vou gerar.
Elias Corrêa de Oliveira Junior, 50, de Brasília, e desde 2006 nos EUA, em entrevista ao colunista Jamil Chade
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