Sem ostentação: o que é jantelagen, código que desencoraja exibir riqueza

A "jantelagen" é um conceito cultural que tem suas raízes nas sociedades nórdicas, especialmente na Dinamarca, Suécia, Noruega e Islândia. É um conjunto de normas sociais informais que desencorajam a ostentação e a exibição de riqueza ou status social, promovendo, em vez disso, a igualdade e a humildade.

O que é a Lei de Jante

O termo foi popularizado na década de 1930. "Janteloven", "jantelagen" ou Lei de Jante, ganhou destaque com o escritor dinamarquês Aksel Sandemose (1899-1965), em seu livro de romance "A Fugitive Crosses his Tracks" (1933) ("Um fugitivo cruza seus rastros", em tradução literal). Na obra, ele descreve uma pequena cidade fictícia chamada Jante, onde os moradores são instruídos a não se destacar ou se considerarem melhores do que os outros.

Sandemose articulou um conjunto de dez regras. Para o escritor, elas deveriam ser vistas como um reflexo da mentalidade cultural que priorizam a modéstia e a igualdade social. São elas:

  1. Não pense que você é algo;
  2. Não pense que você é tão importante quanto os outros;
  3. Não pense que você é mais inteligente do que os outros;
  4. Não pense que você é melhor do que os outros;
  5. Não pense que você sabe mais do que os outros;
  6. Não pense que você é mais capaz do que os outros;
  7. Não pense que você é mais interessante do que os outros;
  8. Não pense que você pode ensinar algo aos outros;
  9. Não ria de ninguém.
  10. Não pense que alguém se importa com você.

"Jantelagen é uma regra social tácita que existe aqui na Suécia e em muitos países nórdicos". É assim que definiu a fotógrafa nigeriana e autora Akinmade Åkerström em entrevista para a BBC, em 2019. Ela explora o tópico em seu livro "Lagom: El Secreto Sueco de la Buena Vida" (2017) (em tradução livre Lagom: O Segredo Sueco Para Viver Bem). "Trata-se de não ser muito chamativo, não se gabar desnecessariamente. É uma maneira de manter todos, na maior parte das vezes, iguais, removendo fontes de estresse na vida coletiva", explica.

O ato de se exibir é mais comum entre pessoas com origens semelhantes. Akinmade também argumenta que, embora a Suécia tenha lutado arduamente para manter uma imagem global igualitária, muitos suecos ainda se cercam de pessoas com renda semelhante. Isso, diz ela, significa que as regras de "jantelagen" podem, portanto, mudar de acordo com o círculo social. "Atrás de portas fechadas com pessoas do mesmo status socioeconômico, elas (pessoas mais ricas) ficam mais confortáveis. Elas podem falar de suas casas de veraneio ou carros com aqueles do mesmo nível", disse para a BBC.

Uma crença difundida entre os nórdicos há séculos, especialmente nas zonas rurais. Já Stephen Trotter, um acadêmico escocês-norueguês que escreveu sobre o conceito quando trabalhou na Universidade de Glasgow, na Escócia, explica que o termo "é um mecanismo de controle social". "Não se trata apenas de riqueza, mas também de não fingir saber mais do que você realmente sabe. Você poderia dizer que a Escandinávia encontrou uma palavra que se encaixa e resume melhor as coisas do que qualquer outra", afirmou na época para a BBC.

Na Suécia e em outras sociedades nórdicas, Trotter aponta que a "jantelagen" é o oposto do comportamento de exibir suas riquezas. "Você pode falar sobre sua cabana na floresta ou sobre ter aquecimento no chão. As pessoas não se surpreendem com isso, porque é algo comum para os nórdicos. Muitas pessoas têm uma segunda casa aqui", exemplifica. "Mas se você disser que gastou a mesma quantidade de dinheiro em dois Lamborghinis, provavelmente seria alvo de deboche", completou.

O exercício da "jantelagen" nas redes sociais. Akinmade Åkerström também acredita que as mídias sociais têm um grande impacto. Hoje em dia, os suecos se sentem mais confortáveis em tornar público seu sucesso e riquezas. "Existem pessoas muito hábeis e talentosas que foram reprimidas por causa da 'jantelagen', mas depois olharam para o lado e viram pessoas medíocres se exibindo de forma online com confiança".

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