Greves e protestos pelo Brasil

Enfraquecidos durante a Copa, protestos devem retornar nas eleições

Antonio Jiménez Barca

Em São Paulo

As manifestações quase desaparecem durante a Copa, mas especialistas afirmam que as eleições de outubro vão reavivar a exigência de mudanças

Na última quinta-feira (19), o MPL (Movimento Passe Livre), que reivindica o transporte público gratuito, organizou uma manifestação em São Paulo. A razão do protesto era simples: comemorar o aniversário das marchas de multidões de cidadãos que um ano atrás, com o Passe Livre como estopim e com o mote o aumento das tarifas de ônibus e de metrô, sacudiram o país de cima a baixo.

O mundo se voltou então para o Brasil, sem entender no início o sentido de protestos que se resumiam em reivindicar melhores serviços públicos para uma nova classe social. Os gritos daquele mês de junho contra a Copa do Mundo de futebol, prevista para um ano depois, pressagiavam um campeonato quente nas ruas.

Não está sendo assim. Ou não totalmente. À convocação de quinta-feira (19) --com o Mundial em marcha acelerada-- acorreram cerca de 1.300 pessoas. É verdade que um grupo violento de mascarados acabou interrompendo uma das principais avenidas de São Paulo, com cabines telefônicas quebradas e sacos de lixo incendiados, e que várias lojas de automóveis de luxo próximas amanheceram com carros danificados à força de golpes.

Mas também o é que o campeonato está se desenrolando sem muitas complicações e que a maré de protestos e manifestações que faziam temer uma Copa acidentada desapareceu quase completamente quando a bola começou a rolar. As ruas e os bares foram tomados por torcidas de todos os países (incluindo os brasileiros), que assistem pacificamente às partidas e discutem quase exclusivamente futebol. Dá a impressão de que se assinou uma trégua à espera de que a copa termine.

Os porta-vozes dos movimentos sociais e vários especialistas afirmam que as queixas continuam aí, mas que as manifestações de multidões com reivindicações abstratas de um ano atrás (melhores serviços públicos, melhor educação, menos corrupção...), além disso instigadas pela atuação de uma polícia brutal e pouco preparada, se fragmentaram em protestos pontuais, com um objetivo mais concreto: moradias em determinadas áreas, redução das tarifas do transporte público...

Todos concordam em ressaltar que a maré reivindicatória de 2013 marcou uma linha divisória no país, despertando uma população que não quer mais recuar. "As pessoas entenderam que a ação política não depende de agentes externos nem precisa de uma organização hierárquica. O tema quente, para o futuro das manifestações, será que modelo de cidade vamos ter", apontava há alguns dias Lucas Monteiro, integrante do MPL.

O mesmo, mas de outra perspectiva, afirmava em uma entrevista recente o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT): "A insegurança urbana e o transporte público serão as chaves da campanha eleitoral". Genro se refere às próximas eleições, que se realizarão em outubro, mas já estão na boca de todos.

De fato, embora o país viva um tanto narcotizado pela efervescência do mundial, há um mar de fundo eleitoral que não para de se mexer. A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, oficializou sua candidatura, prometendo, entre outras coisas, "mais reformas" e melhoras em questões sensíveis para o Brasil de hoje, como a educação, a saúde pública e os transportes.

Acrescentou que não se deixará guiar pelo ódio nem pelos insultos. Era uma mensagem dirigida àqueles que, na partida inaugural da Copa do Mundo, entre Brasil e Croácia em São Paulo, a vaiaram e a insultaram, na maioria brasileiros de classe média-alta, que são os que podem comprar os ingressos para os jogos.

Dilma, embora tenha caído nas pesquisas nos últimos meses, ainda leva a dianteira sobre os demais candidatos. E a Copa, que apesar de certos maus presságios se desenvolve de maneira aceitável, está lhe servindo, segundo pesquisas recentes, para conter a queda e inclusive para se recuperar.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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