Governo de Chávez privilegiou o social em detrimento da economia
Alain Faujas
É preciso reconhecer o mérito de Hugo Chávez, que direcionou a receita proveniente do petróleo para uma verdadeira política social, ainda que clientelista. Seus antecessores ignoravam a miséria das classes populares, enquanto o presidente venezuelano destinou ao bem-estar delas centenas de bilhões de dólares, resultado do aumento de dez vezes do preço do petróleo nos anos 2000.
Dedicando 43% do orçamento à política social, ele instalou em todo o país "missões" de ensino e de saúde em "barrios" miseráveis. O número de professores aumentou cinco vezes durante sua presidência. Milhares de médicos cubanos atendem gratuitamente nas áreas mais pobres. O preço dos produtos de primeira necessidade foi totalmente tabelado. O setor público ofereceu empregos em massa.
A Venezuela apresenta indicadores sociais fantásticos. É o país com menos desigualdade na América Latina. O índice de pobreza (renda diária inferior a US$ 2,50) caiu de 49% em 1998 para 27% hoje. A mortalidade infantil caiu pela metade.
No plano econômico, os resultados não foram tão bons. É verdade que o PIB só cresceu, mas seguindo o ritmo do aumento do preço do petróleo. Isso porque a Venezuela é totalmente dependente dos hidrocarbonetos, 96% de sua receita provêm deles. Os motoristas enchem um tanque de 50 litros com 80 centavos de euro (cerca de R$ 2). Portanto, não é de se espantar que a dívida pública tenha disparado durante o governo de Chávez, passando de US$ 28 bilhões para US$ 130 bilhões.
Como a receita do petróleo não foi reinvestida no setor petroleiro, a produção se encontra em queda. A companhia nacional petroleira PDVSA se tornou um monumento de ineficiência: dez anos atrás, ela produzia 3,1 milhões de barris por dia com 23 mil funcionários; hoje ela produz 2,4 milhões com 120 mil funcionários, todos contratados por terem aderido à revolução "bolivariana".
Um "Banco do Sul"
A política de nacionalização dos setores que não atendiam às vontades do governo (petróleo, grandes varejistas, latifúndios, arrozais etc.) cortou pela metade o número de empresas privadas do país. A onipresença do petróleo e a asfixia do setor privado desencadearam uma "doença holandesa" que consiste no declínio da indústria manufatureira causado pelo aumento da exploração dos recursos naturais. A Venezuela precisa importar 80% de seus bens de consumo e tem passado por uma escassez crônica de produtos alimentícios como farinha, açúcar e óleo, sendo que a última foi em dezembro de 2012.
Apesar de um controle de câmbio extremamente rígido, o colapso da moeda nacional, o bolívar, obrigou o governo a vender parte de suas reservas de ouro em outubro de 2012. No dia 8 de fevereiro, ele teve de determinar uma desvalorização de 31,75% em relação ao dólar. Uma medida elogiada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), mas que deverá alimentar uma inflação oficial de 22%.
Descuidado em sua estratégia multilateral, ele fez questão de entrar no Mercosul em 2012, mas para reforçar o protecionismo dentro desse mercado comum de inspiração livre-comercista. Em 2007, ele lançou um "Banco do Sul" --sempre de forma vaga-- para fazer frente ao FMI, a quem durante sete anos negou acesso à sua contabilidade nacional. Mas nem por isso abandonou esse símbolo do "imperialismo", tampouco o Banco Mundial.
Os próximos anos dirão quem tem razão: Jean-Luc Mélenchon, líder do Partido de Esquerda, ou quase todos os analistas do mundo. O primeiro postou no Twitter que "aquilo que Hugo Chávez é não morrerá jamais". Os segundos colocaram a Venezuela entre os países que passarão por graves problemas em breve, uma vez que a alta do petróleo só está adiando obrigações inevitáveis.
Tradutor: Lana Lim