Artista russo exige ser julgado por "terrorismo"

Isabelle Mandraud

  • Yuri Kochetkov/Efe

    O polêmico artista russo Piotr Pavlenski (centro) é detido após atear fogo à sede do serviço secreto russo, em Moscou

    O polêmico artista russo Piotr Pavlenski (centro) é detido após atear fogo à sede do serviço secreto russo, em Moscou

Adepto de ações de impacto, Piotr Pavlenski acrescentou à sua já bem longa lista de façanhas o incêndio provocado no dia 9 de novembro, nas portas de Lubianka, sede histórica do serviço secreto russo, o FSB, herdeiro da KGB.

Esse artista de 31 anos, que logo foi interpelado, foi colocado em detenção provisória na terça-feira (10) e indiciado por um tribunal de Moscou que o acusou de "vandalismo", um delito penal onde consta uma referência ao "ódio ideológico", passível de três anos de prisão.

Bravamente, Piotr Pavlenski se dirigiu à juíza.

"É estranho ter uma outra abordagem para a Lubianka que não seja o 'ódio ideológico'", ele observou diante das câmeras. Depois ele exigiu ser acusado de "terrorismo", antes de explicar à corte que, em caso contrário, ele se manteria em silêncio e ignoraria "todos seus rituais", o que ele de fato fez.

"Às vezes as portas em chamas se transformam em terrorismo", justificou o agitador, mencionando o caso de Oleg Sentsov, um cineasta ucraniano condenado há pouco tempo por terrorismo a vinte anos de prisão depois de ter sido acusado de tentar incendiar a sede de um partido pró-russo na Crimeia.

Na última segunda-feira, Pavlenski se esgueirou durante a noite até o imponente edifício do FSB, situado a dois passos da Praça Vermelha em Moscou, para "romper as portas do inferno", jogando ali um galão de gasolina.

Depois, enquanto as chamas queimavam a entrada do FSB, ele se plantou diante de uma câmera, com seu capuz preto cobrindo seu rosto emaciado.

Em julho de 2012 ele já havia costurado seus lábios em sinal de protesto contra a prisão das Pussy Riot, as punks russas que cantaram dentro de uma igreja versos anti-Putin.

No ano seguinte, em maio de 2013, Pavlenski se enrolou totalmente nu em arames farpados em São Petersburgo, sua cidade natal, para denunciar a propaganda homofóbica e a lei que reprime as ofensas aos sentimentos religiosos.

Alguns meses depois, sempre nu em pelo, ele pregou seu saco escrotal entre os paralelepípedos da Praça Vermelha, que seria "uma metáfora da apatia, da indiferença e do fatalismo político da sociedade russa contemporânea".

Em 2014, ele também queimou pneus em São Petersburgo, em homenagem à revolução ucraniana, antes de cortar um lóbulo da orelha, posando nu e com sangue escorrendo sobre o teto do instituto de psiquiatria de Moscou. Todas as vezes essas ações correram pela internet. Pavlenski só tem uma mensagem: tirar o medo dos russos ao enfrentar as proibições.

Tradutor: UOL

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