Só fumaça já mata animais em incêndio na Chapada dos Veadeiros, diz brigadista
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, uma das mais importantes unidades de conservação do Cerrado, está sendo consumido pelas chamas, no que já é considerado o pior incêndio de sua história recente. Em uma semana, o fogo, classificado pela direção do parque como criminoso, já devastou mais de 54 mil hectares - ou 22% da área total. A área é equivalente a 54 mil campos de futebol. E, até a noite desta terça-feira (24), não dava sinais de que estava controlado.
De acordo com Veri Viana, guia de turismo e voluntário no combate ao fogo, diversos animais estão morrendo com as chamas e a fumaça. "Nesse momento, em que começam as chuvas, as aves estão criando penas: o pato-mergulhão, em extinção, e filhotes de arara", afirma.
Vários animais já foram queimados, como os veados. E as aves, nem se fala. Filhotes não conseguem voar. O fogo vem e a fumaça já é suficiente para matá-las
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Incêndio é considerado criminoso
O crescimento atendia a uma demanda de ambientalistas e cientistas de se criar uma proteção maior a uma área riquíssima do Cerrado - que abriga ao menos 34 espécies da fauna e 17 da flora ameaçadas de extinção. Ali têm abrigo os icônicos pato-mergulhão e onça-pintada.
Além disso, o bioma, apesar de ser o segundo maior do País (perdendo em tamanho só para a Amazônia), tem apenas 8% de sua área protegida em unidades de conservação, ante 27% da floresta tropical. Por outro lado, tem taxa de desmatamento cinco vezes maior que a da Amazônia. Uma área protegida maior na chapada poderia conter, por exemplo, o avanço da soja.
O fato de o incêndio ter surgido no interior do aceiro, me leva a crer que alguém adentrou no parque e botou fogo. Não temos elementos para dizer quem é o responsável, mas podemos dizer, com certeza, que é criminoso
Fernando Tatagiba, diretor do parque
A expansão, porém, levou vários anos para se concretizar por enfrentar resistência do governo estadual e de algumas famílias de produtores rurais que vivem em áreas para onde o parque cresceu. "Durante as consultas públicas, pessoas se manifestaram dizendo que iam queimar se fosse ampliado. Teve uma declaração de guerra", afirma o biólogo Reuber Brandão, da Universidade de Brasília (UnB), que acompanhou o processo.
Perícias serão realizadas para identificar a origem e as causas do incêndio que teve início na terça-feira da semana passada, mas há indícios de premeditação. Um dos focos está nas áreas posteriores àquelas onde o aceiro (barreira para contenção do fogo) já havia sido feito, e teria começado entre as 10 horas e as 15 horas, facilitando a propagação.
Natural x crime
O Cerrado é um bioma que convive com o fogo. "Mas isso não tem nada a ver com o incêndio que estamos testemunhando", diz Ane Alencar, especialista em Cerrado do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam). "O fogo natural ocorre em períodos com raios, quando a chuva vai começar. Não é tão intenso, não se alastra muito nem é tão catastrófico. Não é o caso agora, gravíssimo."
Para se ter uma noção da dimensão, um grande incêndio que atingiu o parque em novembro de 2015 destruiu cerca de 15 mil hectares, segundo os Bombeiros, o que correspondia à época a 25% da vegetação. A situação crítica levou as prefeituras de Alto Paraíso e Cavalcante, cidades da região, a decretarem emergência. Esta última chegou a ter 80% de seu território atingido pelo fogo.
Para Tatagiba, isso mostra que esse cenário só pode ter sido criado por humanos. E foi piorado pela intensa seca no Centro-Oeste, a mesma que levou à crise hídrica em Brasília. "Está mais seco que o normal este ano, as temperaturas estão altas e os ventos, fortes. Isso favorece grandes incêndios."
Tempo quente
A situação de calamidade vivida pela Chapada dos Veadeiros ajuda a puxar o número recorde de incêndios que estão derrubando as florestas nacionais neste ano.
O sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificou 237 mil focos de incêndio no País entre 1.º de janeiro 23 de outubro. O total é 54% maior do que o identificado no mesmo período de 2016, que contabilizou 154 mil focos de queimadas. É um recorde desde que o órgão passou a monitorar esse dado, em 1998.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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