Aquecimento vai mudar locais de plantações de café e habitat de animais, diz cientista
A mudança climática é uma grave ameaça, atingindo desde as plantações de café até as raposas do Ártico. Basta um aumento moderado das temperaturas mundiais para que o clima prejudique plantas e animais do planeta, alertaram especialistas nesta quarta-feira (19), em encontro no sul da Noruega. A conferência em Lillehammer, organizada pela Global Biodiversity Information Facility, também ressaltou que habitats como os recifes de coral ou a região do Ártico estão entre os locais mais vulneráveis ao aquecimento global.
"Com 2 graus você já tem impactos. A ideia de que 2 graus é um nível seguro realmente não se sustenta", disse Jeff Price, coordenador da Iniciativa Wallace, um grupo internacional que busca modelar os efeitos das mudanças climáticas sobre 50 mil tipos de plantas e animais. "E quando você começa a ir além dos 2 graus, os impactos sobre a biodiversidade começam a aumentar rapidamente em grande parte do mundo", afirmou ele.
Quase 200 governos concordaram, em 2010, com uma meta que limita o aquecimento global a menos de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, visto como um limiar para mudanças perigosas, como secas, inundações, desertificação e elevação dos níveis dos mares.
Gases de efeito estufa pela queima de combustíveis fósseis são a principal causa do aquecimento, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas). Os governos têm de chegar a um pacto até 2015 para desacelerar a mudança climática, com a entrada em vigor até 2020. China, Estados Unidos, Índia e Rússia são os principais emissores nacionais de gases de efeito estufa.
Mudança de lugar
Price disse que plantações de café da Colômbia, por exemplo, teriam que ser deslocadas para altitudes mais elevadas e para encostas mais sombreadas ao norte conforme o aumento das temperaturas. Isso poderia colocar o café em maior competitividade com os habitats de animais e plantas tropicais raros.
Na Escandinávia, a raposa do Ártico está entre os animais sob maior risco desde que a mudança climática passou a reduzir a oferta da sua principal presa, o lêmingue. Já as raposas vermelhas, maiores do que suas primas do Ártico, estão migrando para o norte conforme as temperaturas sobem. A escalada da temperatura também é uma ameaça para muitas plantas típicas do norte. O mirtilo do norte, por exemplo, pode ganhar nichos, tais como na costa da Groenlândia, nas próximas décadas, mas perderá áreas muito maiores para o sul.
"Não há muitos lugares para onde as plantas do norte possam se mudar. O Ártico é, principalmente, oceano", disse Inger Greve Alsos, da Universidade de Tromsoe, na Noruega. "Esperamos uma perda de variedade para muitas plantas."
Pico
Price, pesquisador da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, disse que um pico nas emissões globais de gases de efeito estufa nos próximos anos ajudaria a ganhar tempo para ajudar as espécies a se adaptarem à mudança climática. O ideal, diz ele, é que isso aconteça antes de 2030.
"No geral, você reduz pela metade os impactos à vida selvagem se deixar as emissões atingirem seu pico nos próximos anos, em comparação às políticas que permitem que elas continuem subindo", explicou ele. Mas os benefícios não seriam sentidos mundialmente.
Um pico antecipado nos gases de efeito estufa daria o maior alívio para os animais que estão na bacia do Amazonas, no sul da África, no sul da Austrália e em várias partes da Rússia e da Ásia. Plantas também se beneficiariam mais nos Andes, sul da África e na Austrália, de acordo com o modelo da Iniciativa Wallace, nomeada em homenagem ao naturalista britânico Alfred Russel Wallace, coautor com Charles Darwin da teoria da evolução em 1858.
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