Doação de Biden à Amazônia equivale ao envio de um dia de armas a Israel
O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou em Manaus neste domingo (17) que está destinando US$ 50 milhões para proteger a Amazônia. Mas o valor é o equivalente a um dia da ajuda militar dos americanos para seu maior aliado, o governo de Israel.
De acordo com um levantamento da Universidade Brown, o governo dos EUA destinou US$ 17,9 bilhões em ajuda militar para Israel entre outubro de 2023, quando ocorreu o ataque terrorista do Hamas, e outubro de 2024.
A ajuda tem sido fundamental, além da chancela política, para permitir que Benjamin Netanyahu conduza o que alguns chamam na ONU de crime contra a humanidade em Gaza.
O auxílio dos EUA desde o início da guerra de Gaza inclui financiamento militar, vendas de armas, pelo menos US$ 4,4 bilhões em envios de estoques de armas dos EUA e entregas de equipamentos usados.
Grande parte das armas americanas entregues neste ano foram munições, desde projéteis de artilharia até bunker-busters de 2.000 libras (aproximadamente 907 kg) e bombas guiadas com precisão.
Os gastos variam de US$ 4 bilhões para reabastecer os sistemas de defesa antimísseis Iron Dome de Israel, a dinheiro para rifles e combustível de avião.
Para o Fundo da Amazônia, Biden já havia feito um gesto similar em 2023, com US$ 50 milhões. Mas, no ano passado, ele havia prometido US$ 500 milhões para o fundo ao longo de cinco anos.
Biden era uma das principais apostas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para restabelecer uma aliança entre os dois países. Mas o democrata, desde 2023, em parte frustrou as expectativas do Palácio do Planalto. Ainda que a relação entre os dois líderes seja positiva e que haja um respeito mútuo, diplomatas estimam que essa boa relação não foi plenamente traduzida em ações práticas.
Biden poderia ter encerrado seu mandato como presidente e, na prática, sua carreira política de décadas com um anúncio ambicioso de ajuda ao meio ambiente. Preferiu apenas um discurso.
Nas redes sociais, ele afirmou que se sentia "orgulhoso" de ser o primeiro presidente americano em exercício a visitar a Amazônia e que era hora de o mundo assumir um "compromisso" com o planeta.
O tom foi correto. Mas esse compromisso não foi traduzido em ação.
Num fim melancólico de seu governo depois de uma derrota de seu partido para Donald Trump, Biden apenas revela onde está a prioridade dos interesses americanos no mundo. E ela não é a Amazônia.
A notícia só não é mais dramática por conta do que vem pela frente. Ao anunciar o novo chefe da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, Trump afirmou que o responsável teria o mandato de "desregulamentar" o setor. Ou seja, retirar exigências climáticas e ambientais para as empresas americanas. Para o setor de energia, a escolha foi de um negacionista climático e, em seu programa de governo, o petróleo volta ao centro das atenções.
Tudo isso no ano mais quente da história e na década mais quente da história.
Neste fim de semana, a Amazônia, portanto, serviu apenas para fins políticos. Uma vez mais.
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