Austrália admite negligência na proteção da Grande Barreira de Corais
A Austrália admitiu na última quarta-feira (3) sua negligência na preservação da Grande Barreira de Corais, após um estudo revelar que a Barreira perdeu mais da metade de seus prados de corais em três décadas, como resultado das tempestades, da depredação e do aquecimento global.
"Eu acredito que o estudo provocou o efeito de uma onda de choque em muitos lares na Austrália", declarou o ministro do Meio Ambiente, Tony Burke, em um discurso na emissora estatal ABC.
O governo de centro-esquerda tem tomado medidas de preservação, mas "não há dúvida de que houve negligência por décadas", acrescentou.
A Grande Barreira de Corais perdeu mais da metade de seus corais nos últimos 27 anos sob a influência de fatores meteorológicos (tempestades), clima (aquecimento) e industrial (nitratos agrícolas), de acordo com o estudo publicado na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences.
E o recife pode continuar a deteriorar-se nas mesmas proporções até 2022, se nada for feito para proteger os corais, afirma o documento que sintetizou nada menos que 2.258 trabalhos científicos.
Os ciclones, 34 no total desde 1985, são responsáveis por quase metade (48%) da degradação, seguido pela Acanthaster púrpura (42%), uma estrela do mar invasiva e predadora também chamada de "coroa de espinhos", que devora os corais, e o branqueamento associado ao aquecimento do oceano.
Os corais são o lar de milhões de algas que lhes dão cores e não suportam a elevação atual da temperatura da água. Quando essas microalgas morrem, o coral perde a cor e morre de fome, tornando-se um esqueleto calcário.
"A perda da metade da cobertura coralina original é uma fonte de enorme preocupação porque é sinônimo de perda de hábitat para dezenas de milhares de espécies marinhas", avaliaram os pesquisadores.
Dois graves episódios de embranquecimento ocorreram em 1998 e em 2002, relacionados com o aumento da temperatura dos oceanos, e tiveram "um impacto nefasto de grande magnitude", em particular nas porções centrais e setentrionais do arrecife.
No entanto, um dos autores do estudo, Hugh Sweatman, afirma que a barreira tem a possibilidade de se reconstituir.
"Mas a reconstituição leva entre 10 e 20 anos. Atualmente, os intervalos entre os problemas são curtos demais para uma reconstituição completa", disse.
Patrimônio Mundial pela Unesco em 1981, a Grande Barreira de Corais se estende por cerca de 345 mil km² ao longo da costa leste da Austrália, e é o maior conjunto de recifes de coral do mundo, com 3.000 "sistemas" de recife e centenas de ilhas tropicais.
Ela abriga 400 espécies de corais, 1.500 espécies de peixes, 4.000 espécies de moluscos e muitas espécies ameaçadas de extinção, como o peixe-boi e a tartaruga verde.
Os recifes de coral geram dezenas de milhares de milhões de dólares em receitas de turismo a cada ano em todo o mundo e a questão da preservação é tão ecológica quanto econômica, ressaltou Tony Burke.
"É por isso que temos a responsabilidade de cuidar muito bem deles, e este estudo é um lembrete de que não podemos deixar as coisas como elas estão", disse.
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