Agricultura predatória devora florestas e contribui com prejuízo bilionário
A agricultura predatória é uma das razões para o aumento do aquecimento global, indica relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) divulgado hoje.
Além de intensificar a degradação do solo, o desmatamento para o avanço agrícola eleva as temperaturas e a quantidade de CO2 na atmosfera. A consequência é a queda na produção e na qualidade nutricional dos alimentos, contribuindo para um prejuízo global estimado em R$ 920 bilhões por ano.
A agricultura é uma das responsáveis pelo aumento da temperatura da Terra porque as emissões do setor somadas ao desmatamento para criar áreas de cultivo respondem por entre 17% e 32% de todas as emissões de gases de efeito estufa no mundo. Isso porque a queima das florestas libera no ar o carbono que estava armazenado nos troncos, folhas, raízes e solo.
De acordo com o IPCC, a degradação das florestas tropicais libera cerca de 2,1 bilhões de toneladas de CO2 por ano, dos quais 53% são provenientes da extração de madeira, 30% da colheita de lenha e 17% dos incêndios florestais, boa parte deles ligados à expansão agrícola.
O aquecimento global também impacta na produtividade do campo. Um exemplo é o derretimento das geleiras do Himalaia, que deve prejudicar o suprimento de água para a China e comprometer a agricultura no país mais populoso do mundo.
Na África, a cobertura florestal é rapidamente substituída pela agricultura. São 500 mil km² de terras degradadas a cada ano, o que deve reduzir de 210 milhões de km² de mata para apenas 6 milhões de km² até 2050.
Na Ásia, as maiores vítimas são as turfeiras (material vegetal parcialmente decomposto, disposto em camadas em regiões pantanosas), responsáveis por conter nos solos de 32% a 46% de todo o carbono. Cerca de 47% dessas áreas no Sudeste Asiático já foram desmatadas para drenagem e uso agrário.
A maior parte dos 15,8 milhões de hectares de florestas na Indonésia se transformou em terras agrícolas entre 2000 e 2012.
De modo geral, diz o IPCC, apenas a degradação da terra --que além da agricultura inclui pastos e erosão-- deve reduzir a produção global de alimentos em 12% ao ano. "Estima-se que a degradação em razão de mudanças na terra custará US$ 231 bilhões" ao mundo, o equivalente a R$ 920 bilhões.
O aumento nos termômetros também impacta negativamente sobre o rendimento das culturas. Para cada grau Celsius de aumento global de temperatura, a produção de trigo, arroz, milho e soja pode ser reduzida em 6%, 3,2%, 7,4% e 3,1%, respectivamente.
No Brasil, o aquecimento nos atuais níveis deve derrubar as safras de milho em 5,5% por grau de aquecimento, enquanto nos Estados Unidos essa queda será de 10,3%.
O aumento da temperatura já diminuiu a produção de trigo em 5,2% na Índia. Na Europa, o aquecimento climático afetou a produção de trigo e cevada em -2,5% e -3,8%, respectivamente.
As alterações climáticas podem aumentar a pobreza, reduzir os rendimentos e afetar a capacidade dos agricultores de suportar aumento de preços, diminuir a estabilidade da oferta devido a eventos extremos, levar a uma quebra na safra e picos nos preços dos alimentos, migração e conflito. Também pode afetar a segurança alimentar e a saúde humana, diminuindo o teor de nutrientes dos alimentos e aumentando os causadores de doença.
Trecho do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)
Menos alimentos e de pior qualidade
Poluentes climáticos de vida curta, como ozônio, também afetam a produção agrícola. Maiores concentrações desse gás podem levar a um aumento no prejuízo das colheitas de até 20% até 2050. "Isso implicaria instabilidade nos preços dos alimentos e oferta, afetando especialmente os 800 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza", indica o relatório, que compila os principais estudos sobre o tema no mundo.
A qualidade nutricional dos alimentos também será reduzida pelo aumento do CO2 na atmosfera. Concentrações elevadas podem levar a menores concentrações de zinco e ferro em grãos e legumes. A deficiência nestes micronutrientes afeta a vida de mais de 2 bilhões de pessoas no mundo e mata 63 milhões ao ano.
Trecho do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)
Outra má notícia é que a "expansão de terras agrícolas leva a maiores declínios na abundância de espécies". A redução da média global será de até 17% entre 2000 e 2050, projetam os estudos.
Há solução?
Em seu relatório, o IPCC faz elogios a algumas políticas públicas brasileiras, como o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, "que promove práticas agrícolas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, recuperar terras degradadas, reduzir o desmatamento e aumentar as florestas cultivadas".
Biderman lembra que, de fato, o Brasil possuiu um bom arcabouço legal. "Esse desafio pode ser superado se nossas leis forem aplicadas", diz. "Temos ferramentas para tornar nossa agropecuária mais sustentável."
O IPCC recomenda ainda o controle dos desmatamentos, "incluindo para a agricultura", e a redução dos desperdícios de comida, que "evitaria a expansão da agricultura para atender à demanda de alimentos e seus impactos sobre os recursos naturais".
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