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Com alta exponencial de queimadas, Amazonas decreta situação de emergência

Fogo em floresta de Apuí, no sul do Amazonas, cidade com o maior número de focos do fogo no estado neste ano - Bruno Kelly - 31.jul.2017/Reuters
Fogo em floresta de Apuí, no sul do Amazonas, cidade com o maior número de focos do fogo no estado neste ano Imagem: Bruno Kelly - 31.jul.2017/Reuters

Rosiene Carvalho

Colaboração para o UOL, em Manaus

09/08/2019 04h00

O governo do Amazonas decretou situação de emergência em razão de queimadas e do que chamou de "impacto negativo do desmatamento" na região metropolitana de Manaus e na região sul do estado.

De acordo com dados divulgados pelo governo, 1.699 focos de calor foram registrados no Amazonas no primeiro semestre deste ano. A maioria deles (80%) só em julho, período em que há diminuição das chuvas.

O decreto foi assinado no dia 2 de agosto e terá vigência de 180 dias. O estado, segundo a Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente), realizará ações para reforçar o monitoramento e controle dos focos de incêndio por meio de ação conjunta de órgãos de fiscalização estadual e federal. Segundo a secretaria, o decreto foi necessário em função do aumento "exponencial" dos registros dos focos de incêndio em julho. Não há previsão no momento de qualquer tipo de pedido de auxílio do governo federal.

"A medida que estamos adotando tem por objetivo conter desmatamentos e queimadas, que degradam a floresta, o nosso maior ativo", declarou o vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (PRTB), que assinou o decreto como governador em exercício.

O município de Apuí, a 453 km de Manaus em linha reta, no sul do Amazonas, lidera os focos de incêndio. Houve 673 registros na cidade --623 foram no PA (Projeto Assentamento) do Juma e oito em UCs (Unidades de Conservação) federais. Segundo o governo estadual, "nenhum foco de calor foi registrado em terras indígenas ou UC gerenciadas pelo estado".

O registro deste primeiro semestre é inferior aos focos de incêndio do mesmo período de 2016, com 2.221 registros, e em 2017, que teve 1.784 focos. O governo anterior não decretou situação de emergência à época.

Dados do Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que visa ajudar o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) a combater o desmatamento, mostram que a derrubada de mata na Amazônia em julho deste ano teve crescimento de 278% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Monitoramento no Amazonas

O diretor-presidente do Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas), Juliano Valente, afirmou que os dados consolidados pelo instituto e pela Sema são abastecidos a partir da tecnologia e dos satélites do Inpe.

Desde 2016, segundo Juliano Valente, as informações obtidas a partir dos satélites de monitoramento diário do Inpe são utilizadas, sem custo para o governo do Amazonas.

Valente disse que o satélite dedicado do Inpe é a referência da coleta de dados, mas que a análise e consolidação da identificação dos focos de incêndio ilegais são feitas por um trabalho dentro do Ipaam, comparando com dados cartográficos do instituto e da Sema.

"O satélite identifica os focos de calor e queimada. Essa detecção verifica áreas de 30 metros de extensão a 1 metro de largura. Com base nisso, há uma coleta de dados diariamente e a gente faz a verificação desses dados na nossa base cartográfica. Os dados são sempre representativos, uma boa base de indícios e hoje considerados como provas para autuações", afirmou.

Segundo ele, o órgão de fiscalização mantém uma estrutura que monitora os focos de incêndio a partir as imagens de satélite, dos dados cartográficos, de licenciamento e de cadastro rural do estado.

Ao cruzar todas essas informações, afirmou Valente Valente, o Ipaam consegue identificar quais focos são ilegais e abastece com informação o Comitê Estadual de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, Controle de Queimadas e Monitoramento da Qualidade do Ar, formado por órgãos estaduais e federais, como Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Ibama, Ipaam e Sema.

"O Inpe só oferece o relatório a cada mês e nós precisamos do dado todo dia, senão não combatemos os focos de incêndio. Por isso, fazemos a análise com a nossa base de dados para trabalhar a fiscalização", disse.

"Com o período de seca, as nuvens se propagam e o satélite consegue produzir uma imagem melhor da superfície. Com isso, é possível detectar de maneira mais eficaz os focos de calor e desmatamento. Vamos combater o desmatamento e os incêndios com tecnologia geoespacial. Esta imagem servirá como prova. Isso nos ajuda em função da dificuldade logística de fazer essa fiscalização no Amazonas", afirmou.

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Band Notí­cias

"Efeito chaleira"

Nos últimos anos, a população da cidade de Manaus tem sofrido com as consequências dos focos de incêndio no sul do estado e na região metropolitana.

Neste período de menos chuvas e aumento dos registros de focos de incêndio, a cidade fica encoberta por fumaça, que causa aumento de doenças respiratórias. A fumaça já provocou, por uma questão de segurança, a suspensão de pousos e decolagens no aeroporto internacional Eduardo Gomes, no ano passado.

"Dá uma sensação de efeito chaleira na cidade. E tem consequência na saúde das pessoas. A fumaça que encobre a cidade neste período é resultado dos focos de incêndios no sul do Amazonas, na região metropolitana de Manaus e também de queimadas em outros estados. Depende da posição do vento e das condições climáticas", afirmou o diretor-presidente do Ipaam.