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Não dá para perder tempo discutindo se a mudança climática existe ou não, diz brasileira na ONU

Johannes Eisele/AFP
Imagem: Johannes Eisele/AFP

22/09/2019 12h23

Nações Unidas, Estados Unidos, 22 Set 2019 (AFP) - Paloma Costa, jovem ambientalista brasileira que participa da inédita reunião de jovens sobre o clima na ONU neste fim de semana, é taxativa: o Brasil não pode mais perder tempo discutindo se as mudanças climáticas existem ou não.

A estudante de Direito da Universidade de Brasília, de 27 anos, pede para os líderes mundiais pressionarem o governo de Jair Bolsonaro a começar a agir para controlar o desmatamento da Amazônia e reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

Pioneira em lançar greves escolares na sua cidade, a jovem coordena o grupo de trabalhos sobre o clima da Engajamundo, a maior organização jovem do Brasil com mais de 3.000 voluntários. Ela também fundou o Ciclimáticos, coletivo de ativistas de bicicleta que documentam o impacto das mudanças climáticas em comunidades nacionais.

Convidada neste fim de semana para a primeira reunião de jovens sobre o clima na ONU, antes de outra com os líderes globais na segunda-feira - que não contará com a presença de Bolsonaro -, Costa falou com à AFP à margem do evento.

- Para que servirá esta cúpula de jovens?

- O tema das mudanças climáticas virou um "hot topic", agora todo o mundo está falando disso (...). Vai a ser um momento para se reunir com jovens do mundo todo, ver o que nossos colegas estão fazendo e se articular para fazer demandas a nossos tomadores de decisões.

Temos que criar consciência. A queimada de Amazônia foi falada durante duas semanas como o maior tema do mundo. A Amazônia continua queimando, e quem vai apagar esse fogo? Não estão tomando medidas nem para acabar com o desmatamento ambiental, que contribui para a queimada da Amazônia. O governo do Brasil não se mobiliza para apagar o fogo.

- Qual é sua maior preocupação?

- O que me deixa mas preocupada é saber que os líderes hoje principalmente no Brasil ainda estão discutindo se existe ou não a emergência climática. Temos que ter uma declaração de emergência climática global para que os líderes lidem com a crise climática como sua agenda principal. Não dá mais para a gente perder tempo discutindo se existe ou não, a gente tem que se juntar com o mundo e resolver o problema! Se não, não vai ter mundo daqui para frente.

- Como é ser ativista ambiental no Brasil de hoje, com um governo cético das mudanças climáticas e que voltou atrás em muitas proteções ambientais?

- O governo é claramente antiambiental (...). O Brasil é campeão em assassinatos de defensores ambientais, eu tenho medo de ficar exposta em eventos assim. Mas, sinceramente, que opção eu tenho? Se eu não luto pelo meio ambiente, (...) que mundo teremos amanhã?

- Quais são suas propostas?

- Venho com umas ideias. Quem ter que estar no espaço de tomada de decisões são os realmente afetados. Falar de território e não ter os povos indígenas lidando com isso não dá. Temos que criar um conselho deliberativo vinculante com jovens, pessoas de todos os ramos da sociedade, civil, empresas, governo, para discutir e tomar decisões em conjunto, por consenso.

Outro ponto é a educação climática como pauta prioritária em todos os países. As crianças e jovens de hoje seremos os líderes do amanhã. Eu, de criança, nunca tive uma educação sobre o clima, agora minha tese é sobre legislação climática no Brasil.

- Qual a sua mensagens para os líderes mundiais que participarão da reunião do clima na segunda?

- Peço para os governantes do planeta pressionarem o Brasil, não comprarem produtos que são fruto do desmatamento, incluírem proteções ambientais nos acordos comerciais.

- O que você acha da ativista sueca Greta Thunberg? Que influência ela teve para você?

- Por mais que haja inúmeras críticas por ela ter 16 anos, ser branca, do norte, ela foi uma peça chave internacional para criar essa mobilização e consciência global na juventude.