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Instituições encontram 23 tartarugas mortas com manchas de óleo no Nordeste

Cresce número de tartarugas mortas por conta do óleo espalhado pelo mar do Nordeste - Instituto Tartarugas do Delta (PI)
Cresce número de tartarugas mortas por conta do óleo espalhado pelo mar do Nordeste Imagem: Instituto Tartarugas do Delta (PI)

Yala Sena

Colaboração para UOL, em Teresina

19/10/2019 00h55

ONGs e institutos que trabalham na proteção de animais marinhos contabilizam 23 tartarugas mortas com corpos oleados (com vestígio de petróleo cru) no litoral do Nordeste. Os animais, após necropsia, apresentaram manchas de óleo no intestino e na parte externa do corpo, com sinais de intoxicação. Os dados das entidades divergem do levantamento feito pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis).

Desde o aparecimento das manchas de óleo - início de setembro até agora - as entidades ouvidas pelo UOL registraram a morte de 191 tartarugas em sete estados, dos nove monitorados. Como é época de desova, as principais suspeitas dos óbitos são a ingestão de lixo (principalmente plástico), maus-tratos por pescas e intoxicação pelo petróleo.

Levantamento feito junto a biólogos e pesquisadores revela que 31 tartarugas achadas mortas e vivas estavam oleadas - entre filhotes e adultos. Um total de 23 delas estavam mortas e oito tartarugas marinhas foram localizadas vivas e passaram pela retirada do petróleo.

Um dos estados com maior número de óbito de tartaruga é Alagoas. Lá, foram localizadas 107 tartarugas, sendo 99 mortas e oito com manchas de óleo pelo corpo. Um dos mais comoventes resgates foi de uma tartaruga achada na última quarta-feira (16) na praia de Maragogi (AL). O animal estava vivo com a cabeça completamente coberta de óleo, obstruindo narina, olhos e boca.

"Fiquei angustiada com o estado que o animal foi encontrado. Não dava para ver a cabeça da tartaruga com tanto óleo. Ela foi levada para uma base de estabilização para hidratar e retirar os óleos da cavidade oral", disse a veterinária Luciana Santos Medeiros, do Instituto Biota de Conservação, de Alagoas.

Tartaruga Alagoas - Instituto Biota/Divulgação - Instituto Biota/Divulgação
Tartaruga encontrada em Maragogi estava viva, mas com a cabeça completamente coberta de óleo, obstruindo narina, olhos e boca
Imagem: Instituto Biota/Divulgação

O UOL ouviu sete instituições que fazem a preservação das tartarugas no Nordeste. Entre eles, projeto Tamar (BA), Instituto Tartarugas do Delta (PI), ONG Ecoassociados (PE), Instituto Biota (AL), Verdeluz (CE), Projeto Cetáceos (RN) e Rede Tartarugas do Nordeste (PB).

Todas as instituições são unânimes em ressaltar que as mortes das tartarugas estão relacionadas a ingestão de lixos, os maus tratos na pesca e a contaminação do mar pelo petróleo cru.

Muitos animais são achados em estado de decomposição e fica inviável uma necropsia. Em outros, encontrados mais recentes, os laudos confirmam a presença do petróleo no trato intestinal. A suspeita dos biólogos é que os animais são contaminados ao se alimentarem com algas poluídas ou na ingestão de água com o óleo.

Contraste de dados Ibama x Instituições

Dados divulgados pelo Ibama só reconhecem 15 tartarugas mortas oleadas nas praias do Nordeste desde o início das manchas até a última quinta-feira (17). Segundo o Instituto, 29 animais foram afetados entre tartarugas e aves. As manchas já chegam a 187 localidades em 77 municípios do Nordeste.

Questionado sobre o desencontro de dados entre o governo federal e as instituições, o Ibama esclareceu apenas que só contabiliza animais oleados e que as entidades podem estar adotando outros critérios.

"O Ibama contabiliza apenas os animais oleados. As instituições mencionadas podem adotar outros critérios, incluindo animais oleados ou não", diz a nota.

O Instituto Tartarugas do Delta, única instituição que trabalha na preservação da espécie no estado do Piauí, localizou 11 animais mortos. Desses, cinco tartarugas passaram por exames e duas confirmaram a presença do óleo no intestino do animal. Para o Ibama, o Piauí registrou apenas uma morte com animal oleado na praia de Ilha Grande, no dia 28 de setembro.

"É um dado do Ibama, que desconhecemos. As duas tartarugas verdes encontradas com manchas de óleo no litoral do Piauí foram nas praias de Barro Preto e Peito de Moça, em Luis Correia", disse Werlanne Magalhães, vice-presidente do Instituto Tartarugas do Delta, que monitora o litoral que é o menor do País com 66 km de extensão. Ela informou que repassa todos os dados do instituto para o Ibama.

O Projeto Tamar divulgou na última quarta-feira (16) que foram localizadas 13 tartarugas mortas, entre filhotes e animais adultos, no litoral da Bahia desde o surgimento das manchas. Cinco apresentavam o petróleo cru no corpo.

Em nota, o instituto Tamar, alertou que as manchas de óleo causam uma barreira física para o deslocamento das tartarugas marinhas, principalmente dos filhotes. "Devido à presença significativa de óleo em algumas áreas, os filhotes nesses pontos são retidos e soltos em áreas mais seguras", informou a assessora do Tamar, Luciana Medeiros, que é também Coordenadora Nacional de Pesquisa e Conservação.

Segundo o Tamar, as altas concentrações de óleos podem ocasionar quadros de intoxicação aguda, desestabilizando as funções metabólicas do animal, com risco de ocasionar óbito.

A presidente da Rede de Tartarugas do Nordeste, a bióloga Rita Mascarenhas, entidade que integra os nove estados, destacou que tem aumentado o número de encalhes neste período de desova e um dos fatores este ano são as manchas de óleo.

"É um risco iminente. Os locais mais críticos são as praias de Sergipe, Bahia e parte de Alagoas. O nosso pedido é para a limpeza das praias, pois é temporada de reprodução das tartarugas e podemos ter um desastre bem maior", ressaltou Rita Mascarenhas.

Sobre o desencontro de dados entre Ibama e as instituições, Rita ressalta que os dados do governo federal estão sempre desatualizados. "As entidades chegam mais rápido nos locais afetados, pois vão de bicicleta, correndo ou em veículos próprios e estão mais próximo das comunidades".