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Em teste para proteger Abrolhos, pescadores usam redes para "pescar" óleo

Pescadores usam as próprias redes para tentar tirar o óleo do mar na Bahia - Divulgação
Pescadores usam as próprias redes para tentar tirar o óleo do mar na Bahia Imagem: Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

27/10/2019 19h12

Pescadores da Bahia fizeram hoje um teste para "pescar" as manchas de óleo que atingem o litoral do estado. Diante da dificuldade das autoridades em prever e evitar que o material chegue à costa, especialistas e o governo do estado resolveram apostar no conhecimento dos profissionais para evitar ainda mais danos a região de estuários e de Abrolhos, no sul da Bahia.

A ideia veio de dois professores universitários, que acreditam que os pescadores podem ajudar nesse momento. O primeiro teste foi feito hoje em área da resex (reserva extrativista) de Canavieiras, no sul da Bahia.

"Essa ação que fizemos foi na foz do rio Pardo, que fica logo na entrada do banco dos Abrolhos, no sul da Bahia", contou o pescador Carlos Alberto Pinto, da Associação Mãe da Reserva Extrativista de Canavieiras.

Para a ação piloto, foram usadas redes apreendidas em fiscalizações. "Fizemos hoje o ensaio com um certo grau de improviso, com material apreendido que estava aqui no depósito. Com as limitações que tínhamos de material, e também pela embarcação dos pescadores, o resultado nos trouxe uma situação promissora", conta o professor Miguel Accioly, da UFBA (Universidade Federal da Bahia), que acompanhou os testes com pescadores e técnicos.

A ação ainda foi acompanhada por técnicos do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que são responsáveis pela unidade de conservação em que está a resex.

"A gente viu que é possível [pescar o óleo]. Não testamos em condições reais porque só tinham pequenas pelotas chegando, mas elas foram recolhidas com êxito", afirma.

Para amanhã, os técnicos esperam melhorar o desempenho com ajustes. "Tem várias condições que precisam ser melhoradas, amanhã vamos testar em outras situações. Pescadores já se prontificaram a colocar as redes próprias nos ensaios de amanhã. A gente tem de ter alguma ação, reduzir o tamanho do estrago, do desastre", afirma.

Accioly afirma que o problema é de grande gravidade, e todas as possibilidades devem ser tentadas neste momento. "Os estuários do sul da Bahia são muito grandes. E essa proteção é de difícil trabalho, tanto pelas dimensões, como pela força das correntes. Manguezais são áreas muito vulneráveis e grandes. E muita gente que vive deles, temos de atuar para tentar protegê-los", destaca.

Para o professor, o ensaio de amanhã pode funcionar para proteger a região do Parque Nacional Marinho de Abrolhos. "Vamos usar na superfície ou em meia água. Não daria 100% de proteção, mas pode ajudar a reduzir o volume do óleo no mar aberto. Vamos ver o resultado do ensaio amanhã", diz.

Apoio estadual

Segundo o diretor de recursos e monitoramento hídricos do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia), Eduardo Topázio, a proposta de ajuda dos pescadores foi aceita porque "é preciso ter linhas alternativas de ação" no problema.

"Os mecanismo internacionais que estão trabalhando com o Ibama e a Marinha têm colocado recorrentemente que é muito complicado o uso de barreiras nos estuários, até pelas forças das correntes. Acho que é uma boa para algumas regiões", disse.

O Inema informou que dará suporte logístico e técnico aos pescadores. Para isso, vai investir R$ 11 mil para compra de 100 metros de redes para fornecer aos pescadores que foram ao mar pescar as manchas. Caso as ações tenham êxito, o estado diz que a ação será replicada nos estuários dos litorais norte e sul.

"Esse óleo é muito denso, o que faz com que seja possível de ser recolhido com uma rede. O grande problema que a gente tem é a imprevisibilidade dessas manchas. Então se a gente conseguir ver antes de ela chegar à costa, a gente vai lá e literalmente vamos pescar esse material", conta.