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Repórter fotográfico é ameaçado de morte após registrar queimadas no AM

Foto feita por Edmar Barros em Lábrea (AM), após queimadas na região - Edmar Barros
Foto feita por Edmar Barros em Lábrea (AM), após queimadas na região Imagem: Edmar Barros

Rosiene Carvalho

Colaboração para o UOL, em Manaus

25/08/2021 18h51

O repórter fotográfico Edmar Barros recebeu uma ameaça de morte após registrar queimadas no município de Lábrea (a 853 km de Manaus), no sul do Amazonas. Ele fez um boletim de ocorrência na Polícia Civil do estado.

Ao longo da viagem, Barros postou algumas fotos em suas redes sociais, mostrando a devastação no local. Ele viajava a trabalho para a agência Futura Press, a revista Amazônia Latitude e a fundação norueguesa Rainforest Foundation.

Neste período do ano, aumentam os focos de fogo na região. Lábrea costuma liderar o ranking de incêndios irregulares na Amazônia.

De acordo com o registro policial, Barros recebeu uma mensagem em seu celular o ameaçando de morte caso persistisse nas "denúncias sobre as derrubadas" no ramal do km 42 da BR-230.

A mensagem afirmava que o repórter teria o mesmo fim da vegetação: "Você vai queimar junto na queimada".

O número de telefone usado para o envio da ameaça pelo WhatsApp está registrado no Amazonas. Ela chegou ao telefone do fotógrafo às 19h21 da segunda-feira (23).

Segundo o registro na Polícia Civil do Amazonas, a ameaça ocorreu quando o repórter fotográfico já estava em Manaus, após ter passado dez dias registrando queimadas e desmatamento, entre 9 e 19 de agosto.

"Se a mensagem foi enviada por alguém da região mesmo, é impossível saber quando foi enviada, porque a internet é muito ruim lá. Então, você envia uma mensagem e, às vezes, leva dias para chegar", afirmou o repórter ao UOL.

Foto feita por Edmar Barros em Lábrea, após queimadas na região - Edmar Barros - Edmar Barros
Foto feita por Edmar Barros em Lábrea, após queimadas na região
Imagem: Edmar Barros

A pessoa que o ameaçou deu ao jornalista dois dias para sair do local, caso não quisesse ser queimado junto com as árvores.

"Edmar estou lhe trazendo um recado para vc, do pessoal do 42, se vc vier meter seu rabo aqui em Lábrea para denunciar as derrubadas vc vai queimar junto na queimada, vou te dar dois dias para vc sumir aqui da região, fica dito seu vagabundo, x9 do caralho, seu relógio está contando, fique ligeiro", dizia a mensagem, reproduzida do mesmo modo como foi enviada.

Barros disse ao UOL que, no período em que esteve na região, não recebeu nenhuma ameaça. Há anos, ele fotografa queimadas no sul do Amazonas porque elas são recorrentes. "O que aconteceu é o de sempre numa cobertura, mas nada de ameaça ou agressão", disse.

Segundo o jornalista, nos dez dias de trabalho percorreu 2.400 km de estradas e ramais.

O ramal 42 é um ramal gigantesco que tem lá, com áreas clandestinas, e há quilômetros e quilômetros queimados. Fica na beira da estrada da BR-230. Grileiro é o que mais existe nesta região. É sempre perigoso, é uma terra sem lei. Mas nunca havia recebido ameaça no meu celular.
Edmar Barros, repórter fotográfico

O fotógrafo Edmar Barros - Arquivo pessoal/Edmar Barros - Arquivo pessoal/Edmar Barros
O fotógrafo Edmar Barros
Imagem: Arquivo pessoal/Edmar Barros

"Eu andei 2.400 km em dez dias e não vi um agente do Estado, um policial, um brigadista, bombeiros, carro de Exército. Nada, nada, nada. Não existe o Estado nesta região. Para combater desmatamento e grilagem, essas coisas, não tem, não", afirmou.

De acordo com dados publicados pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), em junho de 2021, a destruição do bioma está aumentando.

No sul, estão localizados dez municípios que lideraram o ranking do desmatamento naquele mês. Lábrea está no topo da lista, que soma 143 km2 de floresta destruída só em junho.

Além disso, metade dos dez assentamentos com as maiores áreas devastadas fica em território amazonense.

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) condenou, por meio de nota, a tentativa de intimidação do fotojornalista e solicitou à SSP (Secretaria de Estado de Segurança Pública) e ao governador Wilson Lima (PSC) que garantam a investigação do caso e condições para o exercício do jornalismo no estado.

A reportagem solicitou um posicionamento à assessoria de comunicação da SSP-AM (Secretaria de Estado de Segurança Pública) sobre o andamento da investigação, mas não obteve respostas até a última atualização deste texto.

De acordo com o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), 2020 foi considerado o ano mais violento para jornalistas no Brasil desde o começo da década de 1990, quando a entidade sindical iniciou a série histórica.

Em 2020, a Fenaj registrou 428 ataques a profissionais da imprensa, incluindo dois assassinatos.