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Petrolíferas tentam se defender por supostas mentiras sobre crise climática

29/10/2021 00h19

Washington, 28 out (EFE).- Os executivos das principais companhias petrolíferas que atuam nos Estados Unidos - Exxon Mobil, Chevron, BP e Shell - tentaram nesta quinta-feira se defender das acusações feitas por congressistas do Partido Democrata de terem feito campanha de desinformação para evitar a tomada de medidas em relação às mudanças climáticas.

Os presidentes e CEOs de Exxon Mobil, Darren Woods; Chevron, Michael Wirth; BP America, David Lawler; e Shell, Gretchen Watkins, se pronunciaram por videoconferência em uma audiência do Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara dos Representantes dos EUA para dar explicações sobre essa suposta campanha.

A presidente do comitê, a democrata Carolyn Maloney, disse que a indústria dos combustíveis fósseis "está obviamente mentindo", como fizeram executivos de grandes empresas de tabaco no passado.

"Em colaboração com o Instituto Americano do Petróleo e a Câmara de Comércio e outros grupos e empresas de relações públicas, a indústria desenvolveu uma campanha coordenada de mentiras para esconder do público a periculosidade de seus próprios produtos e atrapalhar os esforços globais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa", queixou-se Maloney no início da audiência.

Segundo a congressista, essas empresas registraram lucros de quase US$ 2 trilhões entre 1990 e 2019, enquanto o custo de sua inação diante do aquecimento global tem sido muito maior, uma vez que os EUA enfrentam atualmente furacões, incêndios e inundações mais intensas.

Maloney lamentou que as empresas petrolíferas afirmem acreditar na crise climática, que apoiem o Acordo de Paris e prometam reduzir suas emissões de carbono, ao mesmo tempo que gastam milhões de dólares em empresas de relações públicas para projetar uma imagem de "campeãs contra a mudança climática".

DINHEIRO PARA PROTEGER PETRÓLEO, MAS NÃO PARA COMBATER CRISE CLIMÁTICA.

Nesse sentido, os democratas divulgaram hoje uma análise preparada por seus próprios quadros na comissão, que, como apontou Maloney, denuncia que essas quatro petrolíferas gastaram uma "fração ínfima", nos últimos dez anos, de seus "imensos recursos de lobby" para suas políticas contra as mudanças climáticas.

O relatório observa que, em paralelo, essas empresas investiram dezenas de milhões de dólares "para proteger seus lucros de petróleo e gás", disse a congressista, que representa o estado de Nova York.

Diante dessas acusações, os responsáveis pelas quatro empresas petrolíferas foram contundentes em negar qualquer envolvimento em tais esforços quando foram questionados pelo congressista republicano Ralph Norman.

Norman perguntava um a um há quanto tempo eles estavam no cargo e se naquele intervalo haviam aprovado alguma campanha de desinformação, à qual todos os executivos responderam que não.

Paralelamente, eles defenderam que suas empresas têm feito investimentos substanciais para evitar emissões poluentes que causam o aquecimento global.

Wirth enfatizou que os pontos de vista de sua empresa sobre as mudanças climáticas evoluíram ao longo do tempo e que "qualquer sugestão de que a Chevron tenha se envolvido em um esforço para espalhar desinformação e enganar o público sobre essas questões complexas é simplesmente errada".

EXXON GARANTE QUE É GUIADA PELA CIÊNCIA.

Darren disse que as políticas da Exxon Mobil foram guiadas pela sua "compreensão da ciência".

"Temos sido francos e transparentes sobre nosso apoio aos governos para implementar políticas econômicas e obtivemos as maiores reduções de emissões com o menor custo para nossa sociedade", disse Darren.

Por sua vez, Watkins expressou sua convicção de que a mudança climática é um dos maiores desafios da atualidade, em resposta a uma pergunta da presidente do comitê, a democrata Carolyn Maloney, sobre se ela concorda que o aquecimento global é uma ameaça existencial.

"É por isso - acrescentou Watkins -, que na Shell estamos agindo para fornecer produtos de baixo e zero carbono aos nossos clientes".

Em outro ponto da audiência, a presidente do comitê perguntou aos executivos se eles se comprometeriam a deixar de gastar dinheiro "direta ou indiretamente" para se oporem aos esforços para reduzir as emissões.

Nenhum deles respondeu afirmativamente, embora, quando questionado diretamente por Maloney, o CEO da BP America tenha indicado que sua empresa está comprometida em "defender políticas de baixo carbono que coloquem a empresa e o mundo no (objetivo de) carbono zero".

REPUBLICANOS QUEREM PEDIDOS DE DESCULPAS ÀS EMPRESAS.

Na bancada republicana, talvez o congressista mais combativo tenha sido Byron Donalds, da Flórida, que criticou muito a realização desta sessão no comitê e as acusações dos democratas contra as companhias petrolíferas.

"Deixem-me ser claro", disse, dirigindo-se aos executivos das empresas.

"Devemos-lhes um pedido de desculpas, porque o que temos visto é uma intimidação por parte da presidente deste comitê, que tentou cumprir uma promessa de vocês de como gastarão seu dinheiro", afirmou.

Donalds questionou como os EUA vão competir com a China, se eles estão "cortando a própria garganta" no que diz respeito à produção de energia, enquanto os chineses "estão queimando mais carvão, estão queimando mais petróleo bruto".

"Eles estão aumentando suas emissões e não vão aparecer na (COP26, que será realizada na) Escócia, e sabe por quê? Porque estão interessados em construir uma economia, em se tornar o 'player' que domina a economia do mundo", alertou Donalds.

A audiência de hoje acontece antes da realização da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro, em Glasgow (Escócia), onde não está confirmada a presença do presidente chinês, Xi Jinping. EFE

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