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Duro de matar: qual é o ser vivo mais resistente que existe?

Apesar da fama, as baratas não são os seres vivos mais resistentes conhecidos pelo ser humano - Roger Brown/ Pexels
Apesar da fama, as baratas não são os seres vivos mais resistentes conhecidos pelo ser humano Imagem: Roger Brown/ Pexels

Do UOL, em Sâo Paulo

17/07/2023 04h00

Há quem diga apenas as baratas sobreviveriam a uma guerra nuclear. Exagero, claro, mas como surgiu este mito?

O boato parece ter origem nas explosões atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Por se esconderem em galerias subterrâneas, elas provavelmente não sofreram os efeitos imediatos da radiação.

Mas nenhum animal está imune a um ataque nuclear. Nem mesmo as cascudas baratas: ao subirem a uma superfície contaminada pela radiação, elas sofreriam seus efeitos como qualquer ser vivo.

Quem é o campeão?

Se não são as baratas, qual é o ser vivo mais resistente que existe na natureza? Pesquisadores têm alguns candidatos à vaga — todos bem menores que estes desagradáveis insetos.

A campeã é a bactéria Deinococcus radiodurans. Um estudo publicado na revista "Science" mostrou que ela é capaz de aguentar até 1,5 milhão de rads (sigla em inglês para "dose de radiação absorvida"). Ou seja, ela é três mil vezes mais resistente à radiação do que os seres humanos.

O "truque" da bactéria é uma espécie de anel que protege seu DNA —tanto que os pesquisadores do departamento de química orgânica do Instituto Weizmann, em Israel, apelidaram o microrganismo de "Senhor dos Anéis".

Enquanto outros seres conseguem recuperar até cinco quebras de DNA, a Deinococcus repara mais de duzentos. A bactéria ainda é capaz de sobreviver à desidratação e a altas temperaturas, o que lhe garante a fama de "super-resistente".

Sobreviventes espaciais

ciencia - Getty Images/UOL - Getty Images/UOL
Tardígrados conseguem sobreviver em condições extremas
Imagem: Getty Images/UOL

Outra criatura utrarresistente é o tardígrado, um minúsculo invertebrado de aparência tão estranha quanto o nome. Com menos de um milímetro e meio de comprimento, esses organismos permanecem quietinhos quando desidratados e, assim, podem sobreviver a longos períodos de seca. Eles voltam à ativa quando o ambiente é mais propício.

Nesse período de "inatividade", o açúcar faz o papel da água, em um processo conhecido como anidrobiose. Essa característica levou pesquisadores a submeterem os tardígrados a uma prova extrema: sobreviver no espaço.

Em 2007, uma equipe liderada pelo cientista Ingemar Jönsson, da Universidade de Kristianstad, na Suécia, colocou esses invertebrados para viajar em uma cápsula da Agência Espacial Europeia. Certas amostras foram deixadas "peladas", em órbita, sob níveis de radiação ultravioleta mil vezes maiores que os da Terra.

Depois que as amostras foram coletadas com a queda da cápsula, os pesquisadores ficaram impressionados: três tardígrados sobreviveram, apesar de terem perdido a capacidade de se reproduzir. Já os organismos que foram submetidos somente ao vácuo não só permaneceram vivos como geraram semelhantes.

Fontes: Marcos Roberto Potenza, diretor do centro de pesquisa e desenvolvimento de proteção ambiental do Instituto Biológico de São Paulo; e Revista "Science".