'Stonehenge brasileiro' fica na Amazônia e ganhará parque para preservação
Colaboração para o UOL*
23/06/2024 04h00
Um sítio arqueológico localizado no Amapá, comparado por pesquisadores com o Stonehenge, da Inglaterra, será transformado em um parque de preservação.
Como é o 'Stonehenge brasileiro'
O sítio arqueológico Rêgo Grande I fica localizado em Calçoene, a 374 km de Macapá. A região é margeada por um igarapé.
O local era palco de rituais de povos indígenas que habitavam a região há cerca de 1.100 anos. A estrutura circular é formada por 127 blocos de granito —alguns de até quatro metros de altura— e tem cerca de 30 metros de diâmetro.
Assim como o Stonehenge "original", o local também abrigava cerimônias durante o solstício. A comparação do monumento britânico com o amazônico se deve à importância astronômica de ambos. Quando o sol nasce em Stonehenge no solstício de verão, os primeiros raios atingem o centro do monumento. Na Amazônia, o alinhamento é com o solstício de inverno.
No sítio megalítico brasileiro também eram enterradas personalidades importantes para os locais. Segundo o The New York Times, estudiosos acreditam na teoria de que o espaço poderia ter desempenhado diversas funções cerimoniais e astronômicas ligadas aos ciclos agrícolas ou à caça.
Diversos objetos de cerâmica já foram descobertos no local. As peças —potes, bacias, vasos, pratos e tigelas— têm um estilo parecido ao encontrado em sítios do litoral do Amapá e também da Guiana Francesa. A tese dos pesquisadores é de que a violência dos invasores europeus, no século 16, fez com que esses povos procurassem refúgio em outras áreas, menos acessíveis aos colonizadores.
Mistérios sobre a construção. As técnicas para a construção desse monumento, no entanto, ainda são desconhecidas.
Monumento vai virar parque
As primeiras observações arqueológicas da região foram feitas no fim do século 19 pelo naturalista Emilio Goeldi (1859-1917). Depois, o etnólogo alemão Curt Nimuendaju, na década de 20, registrou alguns megálitos de menor porte no local.
Por muito tempo, o sítio ficou esquecido. Só em 2005 é que ele voltou a despertar o interesse do governo, e hoje o órgão responsável pela preservação do lugar é o Iepa (Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do Estado do Amapá), que desenvolve um projeto a fim de detectar os hábitos daqueles povos.
Projeto que prevê construção de parque para preservação custará quase R$ 1 milhão. Em abril deste ano, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) assinou com o governo do Amapá um "Protocolo de Intenções para projetos do Novo PAC Seleções Parque do Solstício de Calçoene (AP) e requalificação do Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva". Os dois projetos somam investimentos estimados em quase R$ 900 mil.
Segundo o Iphan, o projeto do Parque do Solstício de Calçoene tem como objetivo "musealizar" o sítio arqueológico, "garantindo sua preservação e propiciando aos visitantes uma atividade de lazer e de turismo cultural e ambiental."
A proposta é que as comunidades locais se beneficiem com a socialização do sítio e compartilhem de sua gestão, assumindo um papel na preservação do bem arqueológico. O projeto também entende o turismo arqueológico como estratégia de preservação e desenvolvimento regional, promovendo o fortalecimento e a legitimação da identidade cultural e a constituição da cidadania entre a população local.
Nota divulgada pelo Iphan em 17 de abril
*Com reportagem publicada em 02/12/2011