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Populistas europeus de direita encontram aliados em Israel

Charles Hawley

  • Gali Tibbon/AP

    O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu

    O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu

Partidos anti-islâmicos da Europa estabeleceram uma rede estreita de relações, que vai da Itália à Finlândia. Recentemente, porém, eles estenderam suas antenas para os conservadores israelenses, e tiveram uma calorosa recepção dos membros da coalizão do primeiro-ministro Bejamin Netanyahu. Alguns em Israel acreditam que os populistas são o futuro da Europa.   O manifesto de 1.500 páginas de Anders Breivik é certamente detalhado. Páginas e páginas de texto descrevem em minúcias enervantes a base ideológica de sua visão de mundo – que o levou a matar 76 pessoas em dois ataques terríveis na Noruega na semana passada.   O documento gerou questionamentos quanto a sanidade de Breivik. Ao mesmo tempo, com suas muitas citações e empréstimos de blogs islamofóbicos e anti-imigração, deixou clara a rede profundamente interligada de grupos populistas de direita e partidos pela Europa –desde a Frente Nacional da França até o Vlaams Belang na Bélgica e o Partido da Liberdade da áustria (FPö).   Recentemente, porém, ficou evidente que os partidos populistas da Europa não estão satisfeitos em meramente estabelecer uma rede no Continente. Eles também estão buscando o Oriente. E começaram a estabelecer relações próximas com vários políticos conservadores de Israel –primeiro e acima de tudo com Ayoob Kara, parlamentar do Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que também é secretário de desenvolvimento dos distritos de Negev e Galilee.   Não é difícil de entender o foco crescente em Israel. “Por um lado”, disse Strache ao “Spiegel Online” em recente entrevista, “estamos vendo grandes revoluções no Oriente Médio. Por outro, não podemos ter certeza que não há outros interesses por trás delas e que, no final, talvez tenhamos teocracias islâmicas cercando Israel e no quintal da Europa”.   Em outras palavras, na batalha que os populistas de direita veem como a islamização crescente da Europa, Israel é a linha de frente.   “Mais sensível aos perigos”   Muitos em Israel pensam da mesma forma. Eliezer Cohen, conhecido em Israel pelo apelido de “Chita”, diz que partidos de esquerda na Europa e em Israel perderam o caminho. Cohen, coronel condecorado das forças aéreas israelenses e hoje na reserva, foi membro do Knesset pelo Yisrael Beiteinu, partido nacionalista radical liderado pelo ministro das relações exteriores, Avigdor Lieberman, que está na coalizão governante com o partido do Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.   “Os políticos de direita na Europa são mais sensíveis aos perigos que Israel enfrenta”, diz Cohen, que deu uma palestra durante a visita do líder de direita holandês Geert Wilders a Berlim em outubro. “Eles estão falando exatamente a mesma linguagem que o Likud e outros da direita israelense. Estou velho demais para perder tempo com bobagens –esperamos que a direita vença na Europa”.   Kara diz coisas parecidas. “Estou procurando formas de diminuir a influência islâmica no mundo”, disse ao jornal israelense “Maariv” em junho. “Acredito que este seja o verdadeiro nazismo neste mundo. Sou parceiro de todos que acreditam na existência desta guerra.”   à primeira vista, o relacionamento dos populistas europeus com Israel não parece um casamento construído com base no amor. Muitos veem o FPö quase como um grupo neonazista clássico e o mesmo é verdadeiro para seus parceiros na Europa. Enquanto esses partidos insistem que não são anti-semitas –Strache alega que estuda as posturas dos partidos populistas e relação a Israel e os judeus antes de firmar uma parceria com eles– não é difícil encontrar indicações de sarcasmo anti-sionista e anti-semita dentro dos partidos populistas.   Andreas Mölzer, por exemplo, membro do Parlamento Europeu do FPö que recentemente mudou de opinião e passou defender a abordagem de Strache em relação a Israel, edita um semanário chamado “Zur Zeit”, que é repleto de ataques a Israel. Depois de sua incursão na Faixa de Gaza no final de 2008, o jornal acusou Israel de agir no “espírito talmúdico de aniquilação” e que estava tentando “finalmente aniquilar o campo de concentração a céu aberto da Faixa de Gaza no espírito do Velho Testamento”.   “Milionário neonazista”   De fato, no que concerne o FPö, observadores do partido dizem que a adoção de Israel é um esforço não sincero para estabelecer credibilidade de política externa. “A estratégia é claramente de normalização, de se tornar socialmente aceitável”, escreveu em um email Heribert Schiedel, especialista do FPö no Centro de Documentação da Resistência Austríaca, fundação que monitora o extremismo de direita. “Presumimos que o anti-semitismo continua sendo parte fundamental da ideologia do partido”.   Muitos em Israel tendem a concordar. E Kara foi atacado pela imprensa israelense por seu encontro recente em Berlim com Patrick Brinkmann, populista de direita alemão. “Secretário se reúne com milionário neonazista”, disse a manchete do jornal israelense “Yedioth Ahronoth” no início do mês, observando que Brinkmann, que hoje insiste que não é anti-semita, teve laços próximos com o Partido Democrático Nacional (NPD) extremista de direita da Alemanha. Depois de uma visita a Viena em dezembro para se encontrar com Strache, o líder da comunidade judaica de Viena, Ariel Muzicant, publicou uma carta aberta na qual exigia que Netanyahu demitisse Kara.   O foco primário da mensagem do FPö, entretanto, é de crítica extrema à imigração muçulmana –em linha com partidos populistas como o True Finns na Finlândia e o Lega Nord na Itália. Os grupos se opõem à construção de minaretes, convencidos de que o futuro da Europa é ameaçado pelo alto índice de natalidade muçulmano e certos de que o Ocidente cristão precisa se defender do islã.   “Por décadas, os políticos na Europa ignoraram os dados demográficos, e agora estamos em uma situação na qual temos que advertir que estamos vivenciando a islamização da Europa”, diz Strache. “Não queremos nos tornar uma sociedade islâmica”.   Geert Wilders, que chegou às manchetes em 2008 com seu filme virulentamente anti-muçulmano “Fitna”, foi pioneiro na conexão dos populistas europeus com Israel naquele ano. Desde então, voltou várias vezes a Israel.   Aliados aos colonos   A aproximação acelerou-se no final do ano passado. Strache viajou para Israel em dezembro com Vlaams Belang, Filip Dewinter, Kent Ekeroth, dos democratas suecos, e René Stadkewitz, que fundou um partido crítico do islã alemão chamado “Liberdade”, em outubro. A visita foi rapidamente devolvida por Kara e outros que foram à Viena no final de dezembro. Outras trocas se seguiram, inclusive uma visita de Kara a Brinkmann em julho.   E não é de surpreender que os parceiros que a direita europeia procurou em Israel ficam bem à direita do centro. O próprio Kara, membro da comunidade minoritária religiosa drusa que tem laços próximos com Netanyahu, se opôs à retirada da Faixa de Gaza e é defensor leal dos assentamentos judeus na Cisjordânia. O líder dos colonos na Cisjordânia, Gershon Mesika, recebeu a delegação populista em dezembro. Hillel Weiss e David Ha’ivri, proponentes do “neo-sionismo”, um movimento que acredita que é impossível viver em paz com árabes, viajou para Alemanha em abril para uma conferência organizada pelo pequeno movimento populista de direita alemão Pro-NRW.   Sua esperança é que uma plataforma pan-europeia comece a emergir que valorize Israel como bastião importante na resistência à onda islâmica que avança. E eles acreditam que, diante das vitórias eleitorais da direita populista na Europa nos últimos anos, a aposta inteligente é em Strache e Cia.   “Os europeus não podem dormir”   “Os partidos de direita têm suas raízes em casa. Os alemães estão na Alemanha, os suecos na Suécia e assim por diante. Acho que Israel também é um país que diz que esta é nossa terra e não podemos abrir as fronteiras e deixar todo mundo entrar como aconteceu na Europa. Esta é uma razão pela qual Israel hoje tem mais confiança nos partidos de direita do que nos partidos de esquerda na Europa”, diz David Lasar, membro da prefeitura de Viena do FPö.   O próprio Lasar é judeu e um dos principais agentes nos atuais esforços para aproximar as relações entre Israel e europeus. Sua opinião sobre Israel parece divergir das posições de seu partido no Oriente Médio. Enquanto Lasar duvida das negociações de paz que exigem que Israel desista de Jerusalém Oriental ou se retire dos assentamentos, o FPö tradicionalmente se aliou aos líderes árabes como Muammar Gaddafi e continuou céptico da posição radical dos EUA no Irã.   Isso, porém, está mudando, como deixou claro Strache. “Há áreas em que nós europeus não podemos dormir, não podemos ficar em silêncio”, disse Strache. “Israel corre perigo de ser destruído. Se isso acontecer, a Europa perderá a fundação para sua existência”.

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