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População de Moldova sonha com uma vida melhor nos países mais ricos da Europa

Nicola Abé

A Moldova era uma república relativamente próspera quando ainda fazia parte da União Soviética. Mas, atualmente, a economia cambaleante do país fez com que aproximadamente um quarto de sua população migrasse para o exterior em busca de perspectivas de vida melhores. As maiores vítimas dessa situação são milhares de crianças que estão crescendo sozinhas no país. Quando Nadia Popa se levanta todas as manhãs, às 7h, ela tem de confrontar um sentimento crescente e desconfortável de raiva. Nadia mora em um apartamento localizado ao sul de Verona, uma das cidades mais belas da Itália, onde os lilases de verão estão em plena floração. O município é um destino comum para turistas que querem passar finais de semana românticos. “Eu não estou aqui para ser feliz”, diz ela. As filhas de Nadia, Anastasia, 16, e Alexandra, 12, acordam à mesma hora que a mãe, mas vivem a mais de 1.000 km de distância, no poeirento vilarejo de Nucreni, localizado na região norte da República da Moldova. As filhas de Nadia vivem em um país que é famoso pelo tráfico de pessoas e pelo comércio ilegal de órgãos humanos. As meninas dormem em um quarto limpíssimo e arrumadíssimo, com paredes pintadas de rosa e ursinhos de pelúcia cuidadosamente alinhados sobre o sofá. O cômodo parece mais uma casa de bonecas vazia do que o quarto de duas jovens garotas. Anastasia e sua irmã, Alexandra, vivem sozinhas na casa, localizada em uma rua de cascalho. Elas alimentam as galinhas antes de ir para a escola e, à tarde, aram as plantações de milho e batata. As meninas cuidam sozinhas da casa e lavam roupa, fazem faxina e cortam lenha na floresta. O quarto rosa tem a aparência típica de um cômodo infantil – mas a vida delas e difícil. Após a Moldova ter se tornado menos próspera, os pais responsáveis por famílias como a da Anastasia e Alexandra começaram a deixar o país. A Moldova era uma nação relativamente rica durante a era soviética, quando figurava como uma importante exportadora de frutas e legumes para o restante do país. Mas, hoje em dia, é a nação mais pobre da Europa. De uma população de 4 milhões de pessoas, um milhão de habitantes já se mudou para o exterior, para países como a Espanha, a Itália e a Grécia – que para eles ainda são locais que podem trazer alguma esperança. A maioria dos imigrantes vive nesses países ilegalmente após ter deixado para trás, em seus vilarejos na Moldova, os filhos e os membros mais idosos de suas famílias. Longe de casa Anastasia, a filha mais velha de Nadia, olha para a plantação de abobrinha diante de sua casa. Faz muito tempo que não chove, e os pés estão secos e marrons. “Este ano não teremos uma boa colheita”, diz ela. Foi um verão quente, quente demais, com temperaturas de até 40ºC  à sombra. Anastasia está ansiosa pelo início do inverno. No passado, elas se sentavam na sala de estar com a mãe, faziam crochê e se aqueciam com cobertores de lã. Para Anastasia, essa é sua época do ano favorita. Ela canta baixinho para si mesma. Isso a ajuda a se manter calma. às vezes, ela também canta ao telefone, enquanto sua mãe fica ouvindo do outro lado. “Eu geralmente choro de soluçar, mas em silêncio”, diz Nadia, 36. “Eu não quero que ela me ouça chorar”. Nadia está sentada em um café com mesinhas na rua localizado na Piazza Bra, na parte velha de Verona, com o antigo anfiteatro atrás de si. Gladiadores já lutaram no local, A Moldova era uma república relativamente próspera quando ainda fazia parte da União Soviética. Mas, atualmente, a economia cambaleante do país fez com que aproximadamente um quarto de sua população migrasse para o exterior em busca de perspectivas de vida melhores. As maiores vítimas dessa situação são milhares de crianças que estão crescendo sozinhas no país. Quando Nadia Popa se levanta todas as manhãs, às 7h, ela tem de confrontar um sentimento crescente e desconfortável de raiva. Nadia mora em um apartamento localizado ao sul de Verona, uma das cidades mais belas da Itália, onde os lilases de verão estão em plena floração. O município é um destino comum para turistas que querem passar finais de semana românticos. “Eu não estou aqui para ser feliz”, diz ela. As filhas de Nadia, Anastasia, 16, e Alexandra, 12, acordam à mesma hora que a mãe, mas vivem a mais de 1.000 km de distância, no poeirento vilarejo de Nucreni, localizado na região norte da República da Moldova. As filhas de Nadia vivem em um país que é famoso pelo tráfico de pessoas e pelo comércio ilegal de órgãos humanos. As meninas dormem em um quarto limpíssimo e arrumadíssimo, com paredes pintadas de rosa e ursinhos de pelúcia cuidadosamente alinhados sobre o sofá. O cômodo parece mais uma casa de bonecas vazia do que o quarto de duas jovens garotas. Anastasia e sua irmã, Alexandra, vivem sozinhas na casa, localizada em uma rua de cascalho. Elas alimentam as galinhas antes de ir para a escola e, à tarde, aram as plantações de milho e batata. As meninas cuidam sozinhas da casa e lavam roupa, fazem faxina e cortam lenha na floresta. O quarto rosa tem a aparência típica de um cômodo infantil – mas a vida delas e difícil. Após a Moldova ter se tornado menos próspera, os pais responsáveis por famílias como a da Anastasia e Alexandra começaram a deixar o país. A Moldova era uma nação relativamente rica durante a era soviética, quando figurava como uma importante exportadora de frutas e legumes para o restante do país. Mas, hoje em dia, é a nação mais pobre da Europa. De uma população de 4 milhões de pessoas, um milhão de habitantes já se mudou para o exterior, para países como a Espanha, a Itália e a Grécia – que para eles ainda são locais que podem trazer alguma esperança. A maioria dos imigrantes vive nesses países ilegalmente após ter deixado para trás, em seus vilarejos na Moldova, os filhos e os membros mais idosos de suas famílias. Longe de casa Anastasia, a filha mais velha de Nadia, olha para a plantação de abobrinha diante de sua casa. Faz muito tempo que não chove, e os pés estão secos e marrons. “Este ano não teremos uma boa colheita”, diz ela. Foi um verão quente, quente demais, com temperaturas de até 40ºC  à sombra. Anastasia está ansiosa pelo início do inverno. No passado, elas se sentavam na sala de estar com a mãe, faziam crochê e se aqueciam com cobertores de lã. Para Anastasia, essa é sua época do ano favorita. Ela canta baixinho para si mesma. Isso a ajuda a se manter calma. às vezes, ela também canta ao telefone, enquanto sua mãe fica ouvindo do outro lado. “Eu geralmente choro de soluçar, mas em silêncio”, diz Nadia, 36. “Eu não quero que ela me ouça chorar”. Nadia está sentada em um café com mesinhas na rua localizado na Piazza Bra, na parte velha de Verona, com o antigo anfiteatro atrás de si. Gladiadores já lutaram no local, mas, atualmente, o local abriga apresentações de ópera para turistas durante a noite. Nadia usa um chapéu de verão branco. Sempre que vê alguma criança, ela tem de se controlar para não falar com elas e nem tocá-las. Em vez de cuidar de suas próprias filhas, ela toma conta dos pais de estranhos que estão ocupados demais para desempenhar essa tarefa. Cerca de 200 mil moldávios vivem na Itália. A língua deles se parece com romeno, que eles falam em sua terra natal. à semelhança de Nadia, muitos moldávios trabalham como badanti, ou cuidadores geriátricos. Esse é um trabalho exaustivo e desagradável para muitos europeus ocidentais. Os badanti têm longas jornadas de trabalho, ganham muito pouco e, com frequência, têm de lidar com doenças e mortes. Nadia mora com um casal – ambos pacientes de câncer. Ela cozinha e limpa a casa para eles, além de ajudá-los a trocar suas bolsas de urina e a se lavar. Ela também os leva para passear. Ela ainda consola o idoso quando ele chora devido à doença que o está matando aos poucos. Com frequência, eles se sentam juntos na sala de estar para assistir desenhos na TV. Essa rotina faz Nadia pensar em suas filhas e em como elas adorariam assistir os mesmos desenhos. Quando ela come um pedaço de bolo, ela pensa em suas filhas e em como elas adorariam comer o mesmo bolo. Muitas vezes, ela se sente culpada por não estar em casa junto delas. Nadia ganha €700 (aproximadamente R$ 1.830) por mês. Ela tem duas horas de folga todos os dias e também folga aos domingos, quando se encontra com seus amigos moldávios em um parque. Eles nunca foram à ópera nem ao cinema, e apenas comem em restaurantes quando seus empregadores os levam. Nadia tenta gastar o mínimo possível, pois quer economizar para poder acabar a construção de sua casa na Moldova. Certa vez, ela fez uma viagem à costa do Mar Adriático com uma amiga. Quando viu a beleza da água do mar e quão felizes pareciam as famílias sentadas na praia, ela mal pode respirar. Quando Nadia deixou a Moldova para ir à Itália, há mais de seis anos, suas filhas tinham apenas nove e cinco anos. Em seu país, apesar de Nadia ganhar dinheiro suficiente para sustentar a casa com o trabalho na lavoura, a quantia não dava para que ela e a família conseguissem construir um futuro de verdade. A agricultura da Moldova nunca se recuperou realmente do colapso da União Soviética. As antigas fazendas coletivas foram fechadas e a produtividade se estagnou. Quase não havia nenhuma atividade industrial no país. A Moldova era considerada politicamente instável, fato que intimidou os investidores e levou muitos moldávios a deixar o país. Nadia foi um desses imigrantes. Ela pediu um empréstimo no valor de € 3.700 (aproximadamente R$ 9.700) a parentes e a um banco para pagar os traficantes de pessoas. Sua viagem – que durou mais de duas semanas e foi feita principalmente a pé – teve início em 10 de dezembro de 2005. Para atravessar a fronteira entre a Ucrânia e a Hungria, o grupo caminhou por um desfiladeiro nos Cárpatos. Estava muito frio e eles tiveram de beber neve derretida. “Uma garota caiu de um penhasco nas montanhas. Como os traficantes não queriam problemas com a mãe dela, eles também a atiraram no penhasco”, diz Anastasia, a filha mais velha de Nádia. “E, em seguida, todos continuaram caminhando”. Ela está sentada em seu quarto rosa e seu rosto está úmido de lágrimas. Anastasia diz que sua mãe lhe contou essa história. Aparentemente, os traficantes de pessoas ameaçaram matar qualquer um que comentasse alguma coisa sobre o incidente. Posteriormente, Nadia negou ter conhecimento dessa história. Anastasia diz que, certa vez, quando Nadia ficou sem ligar para suas filhas durante três semanas, ela ficou receosa de que sua mãe estivesse morta. Ela abraçava sua irmãzinha à noite e ficava repetindo: “Não se preocupe, a mamãe vai voltar. Eu tenho certeza de que ela vai voltar”.

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